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Arquitetos: Bloco B arquitetura
- Área: 332 m²
- Ano: 2023
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Fotografias:Lucas Reitz
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Fabricantes: Borjaço, Casa com Vidro, Claraboias Blumenau, Concreserv, GJ Impermeabilizações, JR MARCENARIA, Jota Jota, Max Mohr, Pedras Cátia, Portobello, Suvinil
Descrição enviada pela equipe de projeto. A Casa Canto é um volume complexo que se mimetiza nos morros do Canto da Lagoa, em Florianópolis. Concebida como uma arquitetura que emerge da terra, a materialidade e a forma foram norteadoras no processo de projeto ao tirar partido de transições graduais de texturas e técnicas. Como uma dança alternada, os pavimentos alternam-se da pedra bruta ao concreto ciclópico, da alvenaria às lajes pré-fabricadas e painéis de vidro. Resulta um projeto que combina a atenção aos desdobramentos da prospecção do solo e o acúmulo de experimentação técnica do escritório.
O pavimento térreo é alinhado a um acesso oblíquo de esquina entre uma rodovia cênica e uma rua local, o térreo abriga a garagem e acessos de pedestres. Nele, os muros externos e a parede sudoeste são compostos por vedações robustas em taipa de pedra retiradas do lote a partir da implosão de lajes de rocha subterrâneas. A técnica é um saber tradicional no sul do Brasil que consiste na construção de paredes de rocha por encaixe e que também é responsável por garantir parte da resistência estrutural da edificação.
Essa implosão e consequente remoção das rochas foi o maior desafio e principal intervenção topográfica no sítio, na qual direcionou a preocupação com a circularidade dos recursos naturais disponíveis e a possibilidade de manter outros declives do lote. Esse gesto de intervenção mínima na área não implodida é alcançado ao pousar parte do volume superior em L diretamente sobre o solo em uma cota mais alta, em oposição ao volume principal, e sem alterar o terreno.
O diálogo entre técnicas se mostra tanto ao manter o vestígio parcial da grande laje de pedra nos fundos da garagem, atravessando até o andar superior, quanto na escada que conduz do térreo ao segundo pavimento. São dois espaços que contrastam os muros de taipa com o fechamento de concreto ciclópico nas paredes nordeste do térreo e primeiro pavimento. A ciclópica é uma técnica milenar que consiste em agregar à argamassa grandes blocos de pedra em um traço de até 30%, o que as torna visíveis e cria um mosaico dinâmico de elementos disformes.
Ambientes flexíveis e de interface público-privado marcam a composição espacial de toda a edificação. O primeiro pavimento foi concebido um espaço de acesso privativo com vista para a rua e a mata, e que pode ser utilizado como loft para aluguéis ou sala comercial, tirando proveito do zoneamento de Uso Turístico Residencial. Esse direcionamento foi motivado pela demanda dos clientes, que ocupam a casa sazonalmente, permitindo a exploração comercial de parte da edificação,
Entre os acessos privativos e comuns, o jardim de inverno, projetado pelo escritório Terraço Paisagismo, mescla o piso de rochas naturais com vegetação que emerge do solo e da grande laje de pedra. O espaço cavernoso e aconchegante conecta o loft, uma ampla área de serviços compartilhada e a escada de acesso à área privativa.
O espaço residencial do segundo pavimento conflui a área social e íntima, ambas repousadas sobre as paredes de concreto ciclópico e de alvenaria tradicional. Cozinha e sala unem-se em um grande espaço de planta aberta e fechamentos de vidro em estilo pavilhão moderno. A ilha funcional em marcenaria define a bancada para cocção e a delimitação entre os espaços de lavabo e despensa. Na porção anterior do volume, os quartos e escritório ocupam a área mais silenciosa e retirada do lote, possibilitando a vista para Lagoa da Conceição e para a Mata Atlântica.
O jogo entre as lajes em painéis pré-fabricados do piso e teto e as vigas invertidas dinamizam todo o volume edificado. Seja ao se alinharem à testada da rua com um corte diagonal amplo e ousado, ou ao permitir uma superfície contínua no plano do teto, esses elementos dialogam diretamente com as técnicas tradicionais de pedra e concreto dos outros pavimentos. Já nas varandas internas, as vigas se estendem em prolongamentos entre as marquises, proporcionando sombreamento e escoamento das águas do terraço superior.
Juntos, os elementos estruturais aparentes alternados, a leveza do vidro e a robustez das lajes oblíquas criam uma arquitetura coerente que conecta tradição, circularidade e paisagem.