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Arquitetos: Studio Arthur Casas
- Área: 700 m²
- Ano: 2024
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Fotografias:Fran Parente
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Fabricantes: Core, Eurocentro, Guandu Mármores, Marvelar, Uniflex Ipanema, kitchens
À beira do mar, uma arquitetura combinando grandes aberturas, pedras brutas e muxarabis dialoga com a materialidade do entorno para estabelecer plena integração com a natureza de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
A Casa Angra, do Studio Arthur Casas, consiste no projeto de reforma de uma residência de veraneio para clientes que hoje residem em um apartamento com interiores também assinados pelo Studio Arthur Casas. O projeto teve como propósito adequar a casa às demandas da família, um casal com dois filhos, que considerava a arquitetura original, projetada por Fernando Peixoto, incompatível com as atuais necessidades deles.
Desde o início, a intenção foi repensar a construção existente, preservando a integridade da volumetria original e trazendo modificações nas fachadas para maximizar as vistas para o oceano e a Ilha Grande, cartão postal local. No interior, prezou-se tanto por uma maior conexão e fluidez entre as áreas sociais – uma vez que os clientes gostam de receber familiares e amigos –, quanto por uma protagonização da paisagem em todos os ambientes possíveis. Quando isso não era possível, rochas brutas existentes, jardins internos, claraboias e pergolados foram algumas das soluções para reiterar a integração com a natureza, da luz natural ao verde. Dessa forma, a experiência do usuário é sempre amplificada, em um projeto que proporciona uma vivência imersiva: texturas para sentir, perspectivas para observar, percursos para traçar.
O acesso principal se dá via água. Do píer até a casa, um caminho definido pelo paisagismo proposto pelo botânico Ricardo Cardim traz espécies nativas como forma de mesclar-se ainda mais à vegetação local da Mata Atlântica. A mesma iniciativa se aplica para os jardins internos: trazer um pouco da mata nativa para dentro.
O programa arquitetônico se distribui em cinco meio níveis, de maneira a abrigar o extenso programa sem a necessidade de ocupar uma grande área do terreno. No nível de acesso, estão inseridos a piscina, espaço gourmet, terraço externo e adega, além de três suítes de hóspedes; meio piso abaixo, academia, sala de jogos, sauna e sala de massagem. Já o subsolo acomoda um cinema profissional com automatização e caixas de som de alta performance – tal solução arquitetônica exigiu um complexo processo de escavação, reforço estrutural e contenções robustas para implantação, diante da proximidade com o mar e lençol freático.
No piso superior, áreas sociais, íntimas e funcionais se distribuem pelo layout. Na social, living, sala de jantar e um terraço externo para refeições ao ar livre. Na íntima, a suíte master, com espaço para home office, e as suítes dos filhos. No funcional, cozinha, lavanderia e parte da dependência dos funcionários – que também é complementada em um pavimento intermediário. Por fim, no nível mais alto da casa, se dá o acesso via condomínio, com uma garagem para carros. Em meio a isso, a opção por energia solar, com painéis fotovoltaicos, permite o aquecimento da água de maneira mais sustentável.
Na fachada, as pedras brutas extraídas na região são elementos decisivos para estabelecer o diálogo com a encosta rochosa. As peças de tamanho e tonalidades diversos são dispostas em uma paginação mais horizontal, assentadas com massa. A madeira também assume grande papel na materialidade da casa como um todo: na fachada através dos decks, cobertura e muxarabis (em Accoya, proporcionando tanto privacidade quanto visibilidade para os quartos); e internamente, no piso da área íntima, painéis e marcenarias. Já no restante do piso, utiliza-se um modelo de porcelanato desenvolvido pelo Studio para a Refin, fábrica italiana. O vidro também marca presença através de grandes panos, de forma a propiciar a entrada de luz natural e permeabilidade visual. Por fim, o telhado tradicional em telha cerâmica – solução de cobertura do projeto original –, combinado ao forro de palha, estabelece um contraste harmonioso com o visual contemporâneo da construção.
No projeto de interiores, Arthur e equipe tiveram grande autonomia na seleção de peças. Em uma tentativa de mesclar as materialidades externas e internas, selecionaram-se artesanatos e obras de arte de grandes artesãos brasileiros – como é o caso da Cabeça Apóstolo, do artista Mestre Nicola, posicionada no hall – e materiais como a madeira, cerâmica e a palha para compor com o mobiliário de design.
Peças contemporâneas internacionais (como o sofá Orlando e chaise Rams, de Paola Lenti, inseridos na área da piscina, e a Cadeira Flair'o da B&B itália, que compõe o espaço gourmet) e nacionais (como a mesa de centro NR02, de Lucas Recchia, e as poltronas Vidigal, da Lattoog, que juntos compõem o estar gourmet) são combinadas à clássicos icônicos (como a Cadeira Zeca, de Jorge Zalszupin, posicionada na mesa de jantar) e inclusive peças assinadas pelo próprio Arthur: mesa Apache, aparador Ayahuasca, mesa de centro Vieira Souto e as escrivaninhas Quilombo e Lurdes.