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Arquitetos: Jacobsen Arquitetura
- Área: 3660 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Fernando Guerra | FG + SG
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Fabricantes: Alves Pisos, Arali, Deca, Galleria dela Pietra, JRG, Lumisystem, Neobambu
Descrição enviada pela equipe de projeto. Idealizada como uma casa-pavilhão que explora permeabilidade física e visual de seus espaços, generosos beirais, amplos caixilhos de vidro e galeria de circulação que se abrem aos jardins definem essa casa de fim de semana. Situado em um privilegiado terreno num condomínio residencial no interior de São Paulo, o projeto para essa residência de campo, concebido para um casal, seus filhos e netos, explora a permeabilidade física e visual de seus espaços.
Em nossa primeira visita ao lote, em aclive e identificado por um amplo platô com vista para os dois lados — o primeiro em direção as colinas e o segundo para o interior do condomínio —, nos pareceu fundamental pousar a residência na cota mais alta, evitando grandes mudanças topográficas e pulverizando o programa na paisagem. A partir dessa leitura, o desenho da implantação surge em resposta direta às condicionantes físicas e geográficas do terreno (topografia, orientação solar, ventos predominantes, posição da propriedade vizinha e vistas predominantes): uma volumetria longilínea em ângulo oblíquo acomoda toda a ala íntima, por sua vez, intersectada por um eixo perpendicular que abriga as alas social e de lazer, aberta a dois jardins. Idealizada como uma casa-pavilhão, estruturalmente, poucos elementos definem a construção: dois planos horizontais demarcam a fachada — uma laje ajardinada elevada a alguns centímetros do solo, e o amplo beiral com generosos balanços chanfrados. Entre eles, caixas programáticas e brises verticais ritmando as fachadas. A linearidade da arquitetura surge como uma abordagem silenciosa sobre o território, que embora ampla, busca desmaterializar-se.
Aproximando-se ao conceito de Promenade Architecturale (passeio arquitetônico), nesse projeto, a experiência entre a paisagem construída e a natural se entrelaça a partir da ideia do percurso – que aos poucos revela um jogo de cheios e vazios, claros e escuros, amparados pela vegetação. Desde a chegada, o acesso até a entrada principal da residência acontece a partir de um sinuoso caminho de paralelepípedos que conduz ao generoso beiral de 13,50 metros de extensão, como porte-cochère. Como um gesto de boas-vindas, portas pivotantes de madeira revelam o jardim interno, ponto de convergência a partir de onde se distribuem os acessos às diferentes alas – social, íntima familiar e de hóspedes. Banhando o espaço com iluminação natural permanente, uma claraboia de mesma dimensão fende a cobertura, enquanto o ripado dos forros transforma-se em pergolado. Com uma arquitetura fluída, rampas bilaterais acentuam a transição enquanto amplia a altura do pé direito. À sombra do beiral, as salas de estar e jantar surgem integradas à bela vista que se descortina no horizonte, emoldurada por amplos caixilhos de vidro que, quando abertos, se integra às varandas acomodadas sob o balanço de 4,35 metros — diluindo os limites entre o dentro e o fora.
Sobre o eixo contínuo, um monolito revestido em régua de madeira Tauari realiza a transição entre as salas e a varanda gourmet, como elemento responsável pela setorização. No estar, prevalece peças de designers brasileiros predominantemente em madeira, sublinhando o despojamento de uma morada de campo. A dupla de fachadas de vidro maximiza a iluminação natural, e assume papel fundamental nas constantes trocas de ar, pelo artifício de ventilação cruzada.
Na sala de jantar, um monolito de pedra ranhurada, suspenso a alguns centímetros do piso por esbeltos pilares, dá origem a um bruto aparador em apoio às refeições da família. Sobre a mesa que acomoda 16 pessoas, o pendente Papir — luminária desenhada à primeira coleção de mobiliários e acessórios assinados pela Jacobsen Arquitetura — compõe com leveza o espaço. A varanda gourmet, delimitada por folhas vidro, contam com áreas de estar, mesa para refeições e bancada de cocção. Painéis de madeira mimetizam as portas de acesso ao lavabo e louceiro de apoio. Nos interiores, a presença de materiais naturais acentua a sensação de conforto e bem-estar. O granito Branco Siena aparece nos pisos e desdobra-se às paredes dos monolitos que contém os espaços de serviço e entretenimento, além dos brises perimetrais, enquanto a madeira recobre todo o forro. A aplicação contínua, que se estende em direção ao exterior, reforça a conexão física e visual entre os diferentes espaços.
Um volume posicionado na extremidade do beiral distribui os espaços de entretenimento e bem-estar: academia, envolta por painéis deslizantes de vidro que se abrem aos dois lados; saunas úmidas e a vapor com fechamentos em mesma materialidade e organizadas em direção ao jardim lindeiro; além de sala de massagem e vestiário, ocultos por portas de pedra. Abraçando a extremidade do pavilhão social, um convidativo lago ornamental se integra harmoniosamente à exuberância do paisagismo desenvuelto em parceria com Rodrigo Oliveira. Com variações topográficas que atingem até 3 metros de profundidade, as paredes limítrofes são recobertas por pedra Moledo, enquanto o interior é constituído por rochas de grande porte, areia branca, gêiseres, plantas subaquáticas — que contribuem para a manutenção natural da água e equilíbrio ecológico — e mais de 6 mil peixes ciclídeos em diferentes espécies. A tonalidade da areia e variações na profundidade contribui para a aparência límpida e degradê do azul a partir da refração da água, que contribui à prazerosa experiencia em nadar junto aos peixes.
De maior privacidade, na porção voltada ao jardim de menor dimensão, para criar uma praia particular, as bordas assumem contornos sinuosos. A hidromassagem, com sistema de aquecimento, é margeada por áreas caminháveis em placas de granito que se integra às águas do lago. No lado oposto, solário, piscina e fogo de chão surgem num eixo linear perpendicular ao pavilhão social. Optamos pela fragmentação da ala íntima e de serviços através de cinco volumes independentes pousados sobre uma bandeja metálica, ligeiramente elevados do solo, e à sombra da cobertura em formato de bumerangue – unidos por um mesmo eixo linear. Cozinha e home theater, por sua vez acomodados próximos ao ponto de intersecção, tem acessos através da ala social. Diluindo os limites entre o interior e o exterior, na fluída galeria de circulação, brises de pedra ritmam o percurso, enquanto a ausência de caixilhos de vidro, permite que a brisa flua livremente.
A extensão dos beirais em direção ao jardim lindeiro se apoiam sobre pilares metálicos, em forma de cruz, distribuídos modularmente. Áreas ajardinadas cobertas por pérgolas de madeira pulverizam os espaços vazios entre os volumes, quebrando a rigidez formal e emoldurando visadas ao jardim principal. Considerando a privacidade em relação a zona social, a ala da família é cuidadosamente disposta em ângulo oblíquo, direccionada à vista mais tranquila e se beneficiando do sol da manhã. O primeiro volume, de menor dimensão, é integralmente dedicado a suíte master, por sua vez equipada com banheiros e closets individuais, enquanto o segundo abriga três suítes dos filhos e uma infantil, passível de ser convertida em uma dupla de quartos. No lado oposto, o volumen que se estende até a extremidade organiza quatro dormitórios de hóspedes. Em cada dormitório, poucos degraus ampliam a altura dos pés direito. Caixilhos de altura total emolduram a paisagem, enquanto a bandeja metálica dá origen a uma jardineira linear que percorre toda a fachada.