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Arquitetos: Branco del Río, Arquitectos
- Área: 251 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Frederico Martinho
Descrição enviada pela equipe de projeto. Em plena serra da Arrábida, território de clima carateristicamente mediterrâneo, uma propriedade com 4 hectares de flora autóctone continha uma casa construída nos anos 1990 protegida por pinheiros mansos. Neste clima privilegiado, a 30 minutos do centro de Lisboa e a 10 minutos do mar protegido do Portinho da Arrábida, os proprietários desejavam criar um espaço de conforto para descansar, em estreita relação com a terra e a paisagem da serra.
O edifício existente era construtivamente fraco, ineficientemente distribuído, e com pouca claridade espacial, agravada já por sucessivos acrescentos. Contudo, o lugar era fabuloso, com uma envolvente de vegetação autóctone robusta que criava uma atmosfera serena em que o tempo passa devagar.
O projeto confronta-se com a necessidade de dialogar com uma preexistência questionável, de estética tipo tradicional e um projeto pobre, que não se adequava ao propósito de uso dos clientes, nem dialogava minimamente com o contexto. Uma construção de betão, sem flexibilidade o que transformava qualquer obra verdadeiramente transformadora numa empreitada grande e complexa.
A abordagem foi a oposta. O projeto aceita a casa, com as suas deficiências, e aposta em potenciar as valências e incorporar pequenas operações que, com pouco esforço melhorassem a relação com o exterior e clarificassem o espaço. O projeto atua com precisão. A primeira decisão foi aceitar que a parte mais valiosa do projeto ia ser o lugar, que já lá estava. A partir de aí, o foco orientou-se em procurar o mínimo de matéria necessária para criar conforto, e conectar interior e exterior, sem estragar nada.
A estratégia de intervenção no edifício centra-se em 3 decisões; Aproveitar o máximo do que existia: demolir o mínimo para clarificar do ponto de vista espacial; Reorganizar espacialmente o interior com capturas do exterior, através de novos enfiamentos visuais que trazem a serra para dentro; Empregar materiais naturais com ótimas qualidades hápticas, que matizam de forma confortável a relação pele - natureza.
Aproveitou-se a organização este-oeste existente, com os espaços estanciais orientados a sul e os de serviço a norte. Repôs-se a configuração original do porche orientado a sul, aumentando-o com um tanque de água no meio das árvores, para funcionar como sala exterior, varrida pela aragem refrescada pela água. Cobriu-se todo o pavimento com um tapete de terracota, material natural de proximidade, cozido a baixa temperatura, com ótimas propriedades ao toque (efusividade), de absorção acústica e de regulação de humidade. Desenharam-se novas janelas de madeira, criteriosamente colocadas, protegidas exteriormente por portadas de madeira, que permitem criar a atmosfera de penumbra necessária no verão, sombreada e ventilada, e os necessários ganhos térmicos no inverno, expondo-se os vidros fechados.
A intervenção é silenciosa e rigorosa, delicada, simples e económica, concentrada no objetivo de conseguir um habitat agradável e confortável numa relação próxima com o lugar. Acreditamos que esta economia de meios, respeito pelo lugar e precisão ao intervir no construído, são centrais para um desenvolvimento sustentável, levando a que a pré-existência e a intervenção se somem para obter um resultado mais interessante do que se se tivesse refeito tudo.