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Arquitetos: Ismael Medina Manzano Architecture
- Área: 60 m²
- Ano: 2024
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Fotografias:Hiperfocal
"O Protótipo Doméstico Não Planejado" emerge como uma experimentação crítica em um apartamento de 80 m2 localizado em um edifício erguido em 1966, como resultado das políticas do Plano de Estabilização de 1959 na Espanha. Este plano, voltado para a recuperação econômica do país, promoveu a criação de habitações mínimas, padronizadas e compartimentadas, com o objetivo de separar funcionalmente a vida doméstica e torná-la mais eficiente. Nesse contexto, o apartamento foi configurado sob os rígidos preceitos do modelo de vida nuclear da época, caracterizado por cômodos fechados e limitados.
Em resposta a esse legado, o "Protótipo Doméstico Não Planejado" reavaliou a necessidade de se adaptar a novas formas de convivência emergentes no século XXI. Em vez de perpetuar a padronização original, o espaço se deforma e se expande, tanto física quanto conceitualmente. Assim, propõe uma habitação que se multiplica e se integra a outros ecossistemas, celebrando a diversidade das relações sociais e dos modos de vida locais, ao mesmo tempo em que defende uma convivência flexível e não regulamentada dos futuros habitantes.
O elemento central da intervenção é uma parede curva de cerâmica envidraçada que desafia as convenções logísticas do armazenamento doméstico tradicional. Além e ao redor dessa parede curva, uma série de despensas, armários, banheiros, prateleiras e closets estão posicionados, transformando-a tanto em um componente estético quanto, ao mesmo tempo, em um elemento de aglutinação social e reflexiva. Em um de seus vértices, a parede se funde a uma vitrine espelhada que oculta eletrodomésticos convencionais. Simultaneamente, um portal de arenito de San Sebastián— a pedra mais comumente utilizada na região—segmenta a parede e revela, em sua própria seção material, as camadas geológicas da paisagem circundante e os métodos de extração das pedreiras locais.
O espaço é complementado por uma série de dispositivos móveis. Uma ilha com capacidade de elevação, feita de granito nacional reutilizado e confeccionada a partir de estruturas descartadas de marcenaria locais, tem a capacidade de orbitar no espaço, aumentando sua adaptabilidade a diferentes contextos e assembleias sociais que incentivam a interação. Além disso, o uso de materiais locais, como raízes de árvores para bancos e esquadrias alumínio e aço provenientes da indústria metalúrgica próxima, juntamente com cadeiras de tubo de alumínio reciclado e vegetação interior móvel com um sistema interno de dutos de irrigação, reforça a conexão com o ambiente e a compreensão da paisagem produtiva que transcende o perímetro do protótipo.
Este protótipo é proposto como um experimento que busca fornecer soluções para questões contemporâneas de reforma habitacional, integrando sustentabilidade, adaptabilidade e reflexão contextual dos ecossistemas afetados como eixos centrais de seu projeto.