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Arquitetos: Estudio Flume
- Área: 275 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Maíra Acayaba
Descrição enviada pela equipe de projeto. A formação das associações organizadas dentro das comunidades rurais nos permitiu um entendimento maior do processo de beneficiamento do babaçu. Neste sentido, o projeto significa uma inovação no cotidiano do trabalho do grupo, uma vez que para o desenvolvimento do projeto, trabalhamos conjuntamente numa série de oficinas de desenho coletivo. Ao assumir diversas formas de nos aproximarmos às soluções, seja mediante imagens, diálogos e especulações para a produção dos espaços, organizando os usos e as hierarquias deles no conjunto construído, a arquitetura finalmente funciona como um meio para proporcionar liberdade no futuro do projeto e na sua flexibilidade para se adaptar a novas demandas.
Mesmo com o foco na atividade produtiva, identificamos que necessariamente toda oportunidade de projeto deve significar uma oportunidade de congregar e agregar. Assim, pensando num povoado de escassos recursos e sem equipamentos de uso coletivo, o projeto se organiza em torno de uma série de pátios, cobertos ou descobertos, como lugar de encontro da comunidade. Considerando que as mais de 40 mulheres que compõem o grupo de quebradeiras são mães e avós, o lugar de trabalho também se transforma no lugar de encontro, mobilização social e recreação para suas famílias e vizinhança.
O projeto define suas características construtivas a partir de uma releitura dos materiais e técnicas construtivas locais. A região apresenta ainda muitas residências unifamiliares em taipa. O povoado se localiza a 35 km de distância do centro urbano mais próximo: a cidade de Vitória do Mearim. Dependendo da estação do ano, o deslocamento é necessariamente mediante transporte fluvial, uma vez que o povoado de Sumaúma, inserido na bacia hidrográfica do Mearim (UEMA/ NuGeo, 2009) se inunda com as águas do rio Grajaú e o do Igarapé Ipixuna que desaguam no rio Mearim, inviabilizando o transporte por terra durante o período de chuvas.
Com vista às condições geográficas, o difícil acesso e a leitura das técnicas e recursos próprios da região, optamos pela utilização do bloco de terra comprimida. Nesta releitura da casa de adobe, a manutenção da estrutura construída é reduzida ao longo prazo. Esta estrutura autoportante define os espaços de trabalho e permanência. Uma segunda estrutura independente para sustentação do telhado foi realizada com madeira local e de recurso florestal autorizado pelo IBAMA. Esta cobertura dupla oferece melhores condições de conforto térmico, garantindo áreas e construções permanentemente sombreadas e ventiladas, ao mesmo tempo, também proporcionou um canteiro de obra protegido que garante a continuidade das diferentes etapas durante o processo construtivo.
Primeiro se realizaram as fundações, em segunda instância se realizou a construção do telhado, proporcionando assim uma área protegida no canteiro de obra para fabricação dos tijolos no próprio terreno. O telhado contempla calhas para captação de água pluvial, e o projeto inclui sistemas de tratamento de esgoto e águas cinzas mediante a fossa séptica biodigestora e círculo de bananeiras. Todas estas técnicas foram discutidas e difundidas na comunidade, incentivando sua replicabilidade a fim de conseguir um impacto ambiental maior que o atingido pelo projeto em si.