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Arquitetos: SALT Architects
- Área: 15865 m²
- Ano: 2024
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Fotografias:Karl Rogers

Descrição enviada pela equipe de projeto. Essa estrutura para gerenciamento do Aquífero de Cape Flats (MAR) é uma resposta pioneira à crise hídrica da Cidade do Cabo, oferecendo uma solução sustentável para proteger o futuro abastecimento de água da cidade. Localizada dentro da Reserva Natural de False Bay, no Pelican Park, a instalação atende à necessidade de gestão sustentável da água, purificando efluentes tratados a padrões potáveis e recarregando o Aquífero Cape Flats. O local, uma vasta extensão de areia plana cercada por dunas, enfrenta fortes ventos do sudeste e condições costeiras corrosivas, importantes para a abordagem de projeto.

No coração do projeto está o processo inovador concebido pelos engenheiros civis, de gerenciar e recarregar o Aquífero Cape Flats, uma fonte importante de água para a região. Efluentes tratados são purificados a padrões potáveis e "reinjetados" no aquífero para manter seus níveis. Este processo ocorre através de uma série de quatro espaços de filtração lineares, cuidadosamente dispostos ao longo de uma encosta artificial para facilitar o sistema de filtração por gravidade. A jornada começa no volume mais alto e desce até o mais baixo, onde a água purificada é redirecionada para o aquífero. As longas fachadas leste-oeste desses volumes apresentam aletas de tijolo anguladas e janelas estreitas voltadas para o sul, criando uma estética "branquial" que filtra a luz enquanto impede o crescimento de algas nos filtros. Essas fachadas atuam como membranas—não para a água, mas para a luz do sol—transformando o ato de filtragem em um elemento arquitetônico funcional e simbólico.



O edifício administrativo, localizado no ponto mais alto do local, serve como a "cabeça" da instalação, funcionando como um marco de interação humana e gestão dentro do complexo industrial. Integrado ao primeiro volume de filtração, adota a linguagem das fachadas branquiais, mas introduz uma sutil mudança de ritmo. Aqui, as aletas se afastam para formar um brise solto, criando uma estrutura porosa, semelhante a uma tela, que filtra não apenas a luz, mas também a transição entre o interior e o exterior.

O gesto simboliza o papel do edifício administrativo como uma interface humana, orientando os visitantes e sinalizando a chegada. Atrás do brise, um átrio envidraçado de pé-direito duplo proporciona um espaço de entrada iluminado, mas protegido, recebendo usuários e convidados.



Dentro, o bloco administrativo é organizado para eficiência e conforto. O térreo abriga espaços práticos para operadores, enquanto o primeiro andar abriga escritórios, salas de reunião e a sala de controle. Esses espaços são projetados para apoiar a produtividade enquanto oferecem uma sensação de cuidado e valor àqueles que trabalham aqui.

O projeto reconhece a significativa energia embutida nas extensas estruturas de concreto necessárias para a retenção de água - com paredes e pisos de até 600 mm de espessura - por isso, a sustentabilidade foi abordada com foco na durabilidade e eficiência de recursos a longo prazo. Tijolos duráveis foram selecionados para as fachadas, seus tons quentes dialogam com o contexto arenoso enquanto garantem mínima manutenção no ambiente corrosivo. A ênfase em uma construção atemporal não apenas garante a longevidade dos edifícios, mas também promove o potencial de reutilização, reduzindo a probabilidade de demolição no final de sua vida útil.


Medidas menores e cuidadosas complementam essa abordagem, incluindo a reutilização da areia das dunas das escavações locais como material de preenchimento, a instalação de acessórios sanitários de baixo fluxo e mictórios sem água, e a otimização de estratégias térmicas passivas para minimizar a necessidade de controle climático artificial. Essas intervenções, embora modestas em escala, refletem um compromisso com a eficiência e a inventividade ao longo da vida operacional da estrutura.

Embora o acesso à instalação seja restrito, seu design se estende além da utilidade para celebrar a dignidade da infraestrutura. Ao elevar a experiência de seus operadores e criar um ambiente de reflexão e beleza, o projeto comunica cuidado e inspira orgulho. Como uma iniciativa emblemática da Cidade do Cabo, a MAR não é apenas uma conquista técnica, mas uma poderosa declaração do compromisso da cidade com o desenvolvimento inovador e sustentável. Seu design garante que possa receber grupos educacionais e visitantes, servindo como um exemplo tangível de resiliência diante da escassez de água.

MAR exemplifica como a arquitetura pode transformar infraestrutura essencial em algo maior: um lugar que honra seus usuários, responde inteligentemente ao seu ambiente e simboliza a engenhosidade necessária para enfrentar os desafios prementes de nosso tempo.
