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Arquitetos: Paradoxo Arquitectura
- Área: 76 m²
- Ano: 2023
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Fotografias:Alexander Bogorodskiy

Descrição enviada pela equipe de projeto. A encomenda considerava a criação de um Parque Botânico e Fluvial nas margens do rio Paiva com um edifício de apoio capaz de agregar e dinamizar o parque. O lugar, um terreno bravio povoado por espécies infestantes com declive era já muito procurado para atividades lúdicas, apesar de ser usado para descargas de entulho. Mais do que projetar um parque pretendia-se devolver a dignidade e a beleza natural àquele lugar. Antes de qualquer ação ou pensamento construtivo, e em busca da história do lugar, procedeu-se à limpeza do terreno e à desinfestação das espécies invasoras, revelando-se para além das espécies autóctones, muros arruinados, socalcos e ruínas de pequenas construções que demonstram o anterior uso agrícola.

Desta análise molda-se o conceito para toda a intervenção no parque, a utilização de materiais naturais e na convergência dos percursos e das zonas temáticas eleva-se um edifício. Os materiais naturais selecionados foram o saibro nos percursos e a madeira nas construções. Na madeira recorreu-se ao poste de madeira circular, que remete para o tronco de uma árvore, sendo este o componente elementar que, na sua combinação, formaliza todas as construções no parque, desde o edifício até ao mobiliário urbano. A opção por estes materiais naturais ambicionava a sua transformação e apropriação pelas forças da natureza e do tempo. Os percursos foram associados às diferentes zonas temática. A zona ecopista estende-se ao longo da estrada municipal e contém um percurso alternativo a esta para peões e bicicletas ligando espaços de esplanada e de campismo.


A zona fluvial acompanha a margem do rio e dispõe de espaços para merendas, para pesca e uma plataforma resultante dum muro recuperado que serve de palco para espetáculos e atividades culturais. A zona botânica apresenta espaços de contemplação e descoberta associados à maior diversidade de flora implementada no parque. Na convergência dos percursos e das zonas temáticas ergue-se uma construção que num jeito escultural assemelha-se a um tronco serrado tornado habitável. Este edifício, de planta circular, desenvolve-se em três níveis e concentra todo o programa de apoio ao parque. No nível inferior organizam-se as instalações sanitárias e a área técnica, no nível intermédio define-se um bar em comunicação com a esplanada exterior, e no nível superior coroa-se um espaço exterior de contemplação da natureza.





A intervenção paisagística no parque exibe uma amostra da variedade natural regional encontrada desde as zonas montanhosas até às zonas fluviais. Os jogos de luz e sombra entre as folhagens das árvores, as suas matizes e intensidades, o vento que transporta os odores das flores e frutos, a água que flui no rio, e todas as texturas palpáveis destas combinações sensoriais manifestam-se como resultado essencial da intervenção. A sustentabilidade da intervenção concretiza-se na seleção fundamental das ações construtivas, no respeito pela morfologia do terreno, na valorização das preexistências, na seleção dos materiais naturais e na preservação e valorização da natureza. No final, este projeto reflete mais uma tentativa para que a arquitetura não seja reduzida ao ato construtivo, mas seja o esforço de harmonização entre o artifício e o natural, e que desta intimidade se manifestem as experiências sensoriais e um renovado espírito do lugar.
