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Arquitetos: Luigi Rosselli Architects
- Área: 900 m²
- Ano: 2024
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Fotografias:Prue Ruscoe, Piers Haskard
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Fabricantes: Granite Marble Works, Mark Stanford, Savage Design

Descrição enviada pela equipe de projeto. Por séculos, edifícios e cidades foram construídos camada sobre camada. Igrejas foram construídas sobre os alicerces de templos, e catedrais sobre igrejas, sempre mais altas e imponentes. Muitas vezes, as criptas das catedrais eram o que restava da igreja anterior. Hoje, no entanto, temos mais respeito e reverência pelas construções que sobreviveram ao rápido crescimento urbano. Para preservá-las, tendemos a incluí-las em listas de patrimônio e evitar construir sobre ou em frente a elas. Ainda assim, acréscimos muitas vezes são necessários para adequar esses edifícios históricos ao estilo de vida moderno. Por isso, buscamos disfarçá-los, posicionando-os na parte de trás ou, como no caso desta grandiosa residência, ocultando-os abaixo do nível do solo.

Construída em 1889, a casa foi projetada por Walter Liberty Vernon, um arquiteto altamente influente da época, responsável por obras como a Art Gallery of New South Wales, no The Domain, e a Estação Central de Sydney. Além dessas grandes construções públicas, Vernon também projetou diversas residências privadas, incluindo a Family Heritage (Patrimônio da Família), recentemente atualizada pelo escritório Luigi Rosselli Architects.

Originalmente construída para um contador bem-sucedido, a residência de dois andares ocupava um amplo terreno com vista privilegiada para o porto e a cidade de Sydney. O projeto das novas ampliações exigia a preservação do que restava do jardim, já que grande parte do lote original foi vendida nos anos 1990 para a construção de casas geminadas. A solução foi demolir uma garagem adicionada posteriormente e substituí-la por uma nova ala de quatro andares, incluindo espaços subterrâneos e um jardim na cobertura, que ocupa a área onde ficava o antigo jardim superior da propriedade. No andar mais alto da nova ala, foram incorporados cozinha, sala de jantar e sala de estar, criando um ambiente contemporâneo que valoriza a luz natural e a conexão com o jardim. Os andares inferiores abrigam uma adega e diversas instalações voltadas ao bem-estar, como academia, sala de massagem, sauna, spa e piscina, além de espaços funcionais, como casa de máquinas e reservatório de água para a piscina.

Inspirada nas palavras latinas e gregas para "escondido", a chamada "arquitetura críptica" não é um conceito novo, mas tem sido aplicada de forma eficaz para preservar construções existentes e otimizar espaços reduzidos. Entre os exemplos mais renomados desse tipo de arquitetura estão a pirâmide do Louvre, projetada pelo arquiteto sino-americano I.M. Pei; o projeto Fabrica, no qual Tadao Ando integrou uma nova estrutura a uma residência veneziana do século XVII para a United Colors of Benetton; e as impressionantes construções subterrâneas de Emilio Ambasz.




Na Austrália, autoridades geralmente se opõem ao uso da arquitetura críptica como solução para os desafios do crescimento urbano, preferindo permitir a expansão desordenada das cidades e a remoção contínua de terrenos. A justificativa oficial envolve a redução de resíduos de escavação e da poluição sonora, embora essas mesmas preocupações não sejam levadas em conta na aprovação de grandes obras públicas, como extensos sistemas viários subterrâneos. A Prefeitura de North Sydney é uma das poucas que apoia essa abordagem. Localizada na costa norte da cidade, sua geografia acidentada permite que piscinas, garagens e outras instalações funcionais sejam incorporadas abaixo do solo, preservando a vegetação na superfície.




Os jardins da Casa Escondida reinterpretam o estilo vitoriano de gramados bem cuidados e bordas definidas, mesclando-o à vegetação subtropical selecionada por William Dangar, do escritório Dangar Barin Smith. No interior, a designer Romaine Alwill combinou elementos modernistas e clássicos com a arquitetura vitoriana da casa. O projeto original de Vernon já indicava uma transição entre o estilo vitoriano ornamental e a abordagem mais clean do período Queen Anne, e Romaine soube captar essa sutileza em seu trabalho.


A piscina subterrânea projetada pelo escritório Luigi Rosselli Architects se inspira no próprio conceito críptico da construção. Escavada em rochas de arenito, típicas da região norte de Sydney, sua arquitetura precisava dialogar com a tradição da cantaria. As imponentes abóbadas parabólicas não apenas criam um impacto visual marcante, mas também oferecem a solução estrutural mais eficiente para suportar os múltiplos níveis acima. Claraboias estrategicamente posicionadas nos pisos superiores permitem a entrada de luz natural, criando uma sensação de conexão entre os espaços subterrâneos e o mundo exterior.
