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Arquitetos: Alsar Atelier, GB Urban Studio
- Área: 220 m²
- Ano: 2024
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Fotografias:Mateo Pérez

"As casas da cidade, com seus telhados de telhas de barro… pareciam suspensas no tempo, resistindo à invasão da modernidade." García Márquez, G. (1985). O amor nos tempos de cólera. Editora Sudamericana.

Esta citação de Gabriel García Márquez, além de evocar uma estética arquitetônica do século XIX e início do século XX, permanece profundamente relevante para diversos contextos rurais e urbanos da Colômbia atual. Sem dúvida, Barichara e suas regiões adjacentes representam um desses contextos, onde a indústria de construção e arquitetura parecem estar suspensas no tempo, preservando uma essência atemporal que perdurará indefinidamente.

O estilo de arquitetura colombo-colonial tem uma beleza inerente, mas tende a ser restritivo como método de experimentação espacial contemporânea, especialmente em topografias extremas. O terreno do projeto, localizado no lado norte da via Barichara – Villanueva, com uma inclinação significativa, trouxe o seguinte desafio: Como gerar uma composição contemporânea que seja capaz de comunicar uma estética atemporal, consolidando uma topografia marcante?


A resposta foi extrair o elemento compositivo mais icônico da estética colombo-colonial, a cobertura inclinada de telhas de barro, e reinterpretá-la como uma folha de outono que cai de uma árvore e se encaixa delicadamente na topografia. Tendo a cobertura como elemento compositivo primário, ficou claro que a composição final conseguiria essa "suspensão no tempo" da estética local referenciada por Gabriel Garcia Marquez.


Essa composição contemporânea que consegue comunicar uma atemporalidade é alcançada ao propor uma cobertura inclinada com duas águas, que leva a uma disposição diagonal das telhas de barro sobre a cobertura. Essas telhas são recicladas para enfatizar a suspensão no tempo inerente à arquitetura colombo-colonial.

Além disso, ao empregar tecnologia, indústria e artesãos locais, a construção reduz em 60% as emissões de gases de uma casa rural ao minimizar o transporte de materiais. Na distribuição interior, as paredes brancas, robustas e de pedra, analisadas como o elemento secundário da estética colombo-colonial, funcionam como núcleos que sustentam a cobertura e organizam os espaços através de um jogo de cheios e vazios.

Isso permite uma conexão fluida entre o interior e o exterior, evidente no corredor com os elementos verticais de madeira reutilizada e na sala com abertura dupla para o entorno. Esses núcleos se apoiam na base de pedra, outro elemento icônico da arquitetura colombo-colonial, que adapta a arquitetura à inclinação do terreno e permite uma distribuição espacial seguindo a lógica do raumplan de Adolf Loos, organizando os espaços por meio de mudanças de nível em vez de paredes, gerando uma relação aberta, mas diferenciada entre a cozinha, a sala e o terraço.


Essa casa não só responde ao legado estético da arquitetura colombo-colonial, mas também reinterpreta seus elementos com um enfoque contemporâneo e sustentável. A fusão de técnicas tradicionais com estratégias inovadoras de design permite que a casa se insira de maneira harmônica na paisagem, respeitando seu contexto histórico e natural. Assim, mais do que uma edificação, a proposta se torna um manifesto de como a arquitetura pode evoluir sem perder sua identidade, mantendo um delicado equilíbrio entre o passado e o presente.
