
-
Arquitetos: Atelier AAVV
- Área: 5000 m²
- Ano: 2024
-
Fotografias:João Guimarães, João Peleteiro
Descrição enviada pela equipe de projeto. Construir num gaveto é desenhar na paisagem da cidade. Mas construir é dar um corpo, e dar um corpo é abrir a forma do espaço. Construir um edifício no canto de uma avenida de uma vila como Cascais, em que a ressonância da cidade-jardim criou um tecido de implantações destacadas, é levantar uma presença nova, plantar um corpo, que antes não existia, na terra, no lugar.
Mas a circunstância, que define o quadro, não é verdadeiramente suficiente, é preciso um acto de coragem para existir, e existir é ter uma estrutura, encontrar uma ordem própria na procura da permanência. Na arquitectura, talvez seja mesmo necessária a aproximação à abstracção para sermos capazes de fazer o concreto.
A pedra está poisada sobre si mesma
No tempo da indigência não pedirás outra abundância
Nenhum outro verso ou casa
Nenhuma outra firmeza [1]

Neste projecto, confrontados com um contorno estático determinado pelo planeamento urbanístico e com a diversidade tipológica estabelecida no programa, foram a métrica de uma estrutura que se tornou forma, a força da geometria e o desejo de abrir o espaço de 15 casas ao sol e ao mar que lançaram a direcção do caminho.

As casas, que não podem ficar presas pelo programa, descobriram sentido na profundidade da forma, em que uma galeria de distribuição pode voltar a ser um espaço singular, e na possibilidade de os espaços de encontro se estenderem à relação aberta com o lugar. E, assim, fez-se a combinação de casas com um, dois, três e quatro quartos, guardando as variações no desenho do edifício como um todo.


A estrutura assumiu a sua concretização natural como forma, para fazer inteiro o que é complexo, a partir da clareza física da matéria. O betão, autónomo, mas testemunho de um lugar do moderno manifestado na torre do Athouguia ali ao lado, pigmentado por querer pertencer e ajudar a resgatar os regionalismos suaves da vizinhança, e acabado com uma erosão forçada para fazer a pele grossa sem a qual ainda não se é grande coisa. Dentro, defendeu-se a simplicidade na construção material. Estuque, pedra, madeira aparente, madeira pintada e marmorite, sempre nos seus planos próprios e claros, deixando as particularidades entrar com as pessoas que ali vão viver.


E, no fim, regressamos à cidade plantada, que enquadra uma forma nova, trepando-a para fazer jardins também dos terraços. Fica um corpo de betão erodido plantado sob a luz, uma estrutura levantada, pronta, que espera a passagem do tempo medida nos dias da vida de cada um.
[1] A pedra está poisada sobre si mesma, Daniel Faria
