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Arquitetos: 35-51 ARCHITECTURE Office
- Área: 448 m²
- Ano: 2023
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Fotografias:Arash Akhtaran

Descrição enviada pela equipe de projeto. O respeito pelos mortos sempre ocupou um lugar especial na cultura iraniana. Essa reverência se manifesta na construção de túmulos, mausoléus e criptas de forma tão marcante que quase não há região, cidade ou vila onde tais estruturas não tenham sido erguidas. Essa atenção dedicada aos falecidos preservou a tradição milenar da construção de túmulos, que passou por diversas transformações formais e estilísticas ao longo de sua longa história.



Dos primeiros exemplos de torres e edifícios com cúpulas do século IV AH aos túmulos em forma de pavilhão do século XI AH; de volumes fechados a construções que interagem com o ambiente externo; de túmulos comemorativos a locais de peregrinação; de sepulturas individuais a espaços de enterro coletivo; de estruturas simples a edifícios grandiosos e detalhados — todos fazem parte dessa tradição contínua.

O Túmulo Shafaq dá continuidade a essa tradição histórica, mas não se limita a repetir o passado. Em vez disso, busca uma expressão contemporânea da história, cultura e crenças do Irã. Esse objetivo é alcançado por meio da desfamiliarização dos símbolos e conceitos presentes na arquitetura tradicional de mausoléus e locais de peregrinação. Por exemplo, a cúpula — tradicionalmente inacessível — é retirada dessa posição elevada e colocada em escala humana, simbolicamente democratizando seu significado e alinhando-a aos valores da sociedade moderna. Da mesma forma, a inscrição tradicional, geralmente localizada sob a cúpula, é libertada de seu espaço restrito e redesenhada como uma pintura caligráfica contemporânea, transformando-se em uma tela que celebra a liberdade.


Essa mesma abordagem é adotada na relação do Túmulo Shafaq com seu entorno. Ao transformar um mausoléu privado em um portal de entrada para o cemitério, o espaço é transferido para o domínio público, desfazendo a fronteira entre um edifício comemorativo e um espaço funcional. Além disso, inspirado nas passagens cobertas da arquitetura tradicional regional, conhecidas como sabats, cria-se um espaço protegido que não apenas atenua o calor do deserto na cidade de Ardakan para peregrinos e transeuntes, como também oferece um ambiente adequado para encontros religiosos. Assim, o projeto se posiciona entre o monumento privado e a arena pública.




Em conclusão, o Túmulo Shafaq busca a máxima inclusão. Valoriza tanto o indivíduo quanto o coletivo, respeita o sagrado ao mesmo tempo em que reconhece a importância do cotidiano e do comum, e abraça o passado sem deixar de aspirar à modernidade. Dessa forma, além de preservar os aspectos simbólicos e funcionais das estruturas de peregrinação e mausoléu, transforma-se em um espaço para a cidade e para o seu povo.
