-
Arquitetos: GTA, NAS Architecture
- Área: 3500 m²
- Ano: 2025
-
Fotografias:Severin Malaud, Mary Gaudin
Descrição enviada pela equipe de projeto. A edificação do antigo anexo do Conservatório de Música de Montpellier, localizado no coração do bairro Écusson e nas proximidades da Catedral de Saint-Pierre, possui um valor patrimonial significativo. Desde que foi adquirida pelas Ursulinas em 1679 para estabelecer a Casa Saint-Charles, o complexo passou por numerosas modificações e uma substancial densificação, especialmente durante o século XX. Nossa intervenção consistiu em uma reabilitação completa do edifício para acomodar a Escola Primária Pierre e Colette Soulages. Para alcançar isso, adotamos uma abordagem subtrativa. Através de um meticuloso processo de avaliação arqueológica e identificação de elementos notáveis, desenvolvemos uma metodologia para preservar e reforçar características-chave enquanto tomávamos decisões ousadas sobre demolições para recuperar a essência do local.
Restaurar a porosidade original ajudou a reduzir a densidade e trazer luz natural ao coração do edifício, simbolizada por um pátio que revela a disposição original do Hôtel de Brissac. A capela também recuperou seu volume original após a remoção de um andar intermediário adicionado na década de 1990. Esse complexo e exigente processo de reabilitação, equilibrando considerações seculares e preservação da memória, possibilitou a criação de um lugar único onde o bem-estar das crianças é valorizado acima de tudo.
Uma Porosidade Redescoberta - O pátio se torna o espaço central da Escola Primária. Diretamente acessível pela entrada, serve como um elo em relação ao playground por meio de uma passagem monumental. Esse gesto referencia diretamente a planta original do Convento Ursulino, que conectava o Grande Pátio—agora o pátio—aos jardins, transformados no playground atual. A demolição das construções do século XX que obstruíam essa área revelou as fachadas históricas da Casa Saint-Charles e do Hôtel de Brissac. Cada superfície conta uma história através de sua alvenaria exposta. A fachada da grande escadaria recuperou sua função original, com aberturas históricas revividas que restabelecem o ritmo de sólido e vazio associado a este importante ponto de acesso—também oferecendo novas vistas do campanário da catedral.
Marcas de modificações passadas, como aberturas de parede do século XX, foram preservadas, agora fazendo parte das superfícies verticais que narram a turbulenta história e evolução do edifício. O pátio também contribui para a regulação térmica através da ventilação natural, criando um microclima refrescante. As novas aberturas afirmam sua identidade dentro da composição geral do espaço, permitindo que as salas de aula se beneficiem da ventilação cruzada.
Sequenciamento Através dos Vazios - Três grandes aberturas verticais segmentam o edifício revelando pontos históricos-chave. A primeira, visível a partir da nova entrada da escola, marca a venda do convento das Ursulinas em 1792 após a Revolução Francesa e a adição simultânea da "Ala Oeste". A segunda, visível no atual pátio, destaca a conexão de 1857 entre o antigo Hôtel de Brissac e a Ala Oeste elevada, cercando o Grande Pátio do convento.
A terceira abertura, na extremidade da Ala Oeste, emoldura a galeria enquanto direciona o olhar para a Escola Nacional de Artes de Montpellier, que outrora estava conectada ao edifício atual. Demolições na década de 1990 apagaram o tecido urbano histórico—agora apenas marcado por essas grandes aberturas. Janelas de alumínio em grande escala proporcionam luz natural generosa por toda a escola, oferecendo novas perspectivas sobre o centro histórico de Montpellier.
Escolhas de Design e Secularismo - A capela é um poderoso marco da história local. Construída em 1857 pelo arquiteto Nulma Polge em estilo neogótico, foi amplamente alterada na década de 1990 com a adição de um mezanino de concreto que dividiu o edifício em dois espaços de performance para o Conservatório. O principal objetivo da reabilitação foi restaurar o volume original removendo este andar intermediário. Uma vez removido, todo o espaço foi tratado de forma igual para unificar as paredes deterioradas sem danificar a decoração—embora muitos elementos fossem pastiches de idade incerta. Todos os vitrais foram cuidadosamente removidos, restaurados usando métodos tradicionais e reinstalados.
Adições contemporâneas estão presentes, mas discretas, evitando interferir na massa histórica. Sistemas de aquecimento e ventilação foram integrados ao piso, enquanto a acústica e a iluminação foram tratadas por meio de estruturas metálicas autônomas com tecido tensionado, adicionando ritmo a cada espaço. O resultado é uma intervenção forte, mas comedida, onde o secularismo é abordado através da lente do respeito ao patrimônio, transformando a antiga capela em uma sala de atividades multiuso —reconhecendo o paradoxo de uma escola pública inserida em um antigo convento.
Estratificação dos espaços exteriores - Por volta da década de 1880, galerias na lateral do jardim foram construídas com colunas de ferro fundido, abóbadas de tijolo e pisos com vigas metálicas. Esses corredores proporcionam sombra e abrigo, oferecendo grandes extensões ao ar livre conectadas diretamente às salas de aula do primeiro andar. Devido a várias questões estruturais, de segurança contra incêndios e acessibilidade, foi necessário um trabalho abrangente para abrir essas áreas ao uso público. Esses espaços agora funcionais oferecem áreas de estudo ao ar livre sombreadas—perfeitas para o clima mediterrâneo de Montpellier.
O playground é dividido em dois níveis diferentes. Os paralelepípedos do pátio se estendem até o playground superior, tornando-se mais espaçados para incentivar o crescimento da vegetação. O pátio inferior é totalmente permeável com uma superfície de lascas de madeira e cerca de dez árvores recém-plantadas. Com o tempo, ele se desenvolverá em uma pequena floresta urbana, nutrindo uma conexão direta com a natureza.
Abraçando a História Material do Local com Humildade - Os espaços interiores foram tratados com simplicidade. As paredes foram despojadas de camadas acumuladas, revelando alvenaria finamente construída que reflete funções arquitetônicas anteriores. O concreto foi escolhido por sua capacidade de abrir espaços de aprendizado em direção às áreas de circulação. Mantido cru e jateado com areia, agora faz parte da identidade espacial. Outras intervenções favoreceram a madeira em todas as suas formas: desde painéis de parede sólidos ou perfurados até forros de fibra, e instalações de móveis personalizadas para refinar as entradas e ocultar dutos técnicos. Todos os pisos foram completamente removidos, deixando apenas as vigas principais expostas. Um novo sistema de piso foi instalado usando uma técnica que preservou as vigas visíveis abaixo, complementado com um contrapiso de grânulos de argila e finalizado com um piso acústico apropriado. Essas escolhas foram feitas para proporcionar condições de aprendizado ideais alinhadas com as expectativas de uma escola primária contemporânea.
A Escola Primária Pierre e Colette Soulages atua como uma ponte entre seus muitos usos passados, abraçando seu patrimônio palimpséstico—exposto, estratificado e reinterpretado para servir a um novo papel vital no centro da cidade de Montpellier. Através da subtração cuidadosa, o projeto traz luz, ventilação e vistas de volta a cada canto. Aqui, a arquitetura se torna uma ferramenta pedagógica, nutrindo a curiosidade das crianças através de pistas visíveis, vestígios e mistérios da rica história do local.
