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Arquitetos: VIASCAPE design
- Área: 360 m²
- Ano: 2024
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Fotografias:CreatAR Images

1. Jardim de Esquina Inato – O terreno está localizado no canto sudeste da Comunidade Shou'er, ao longo do muro perimetral. Considerando que o mato crescido está se espalhando, o espaço aberto está sendo ocupado ilegalmente por varais e a aparência geral é degradada, propusemos um novo jardim comunitário com área total de 360 m², o jardim ESQUINA. Em termos de planejamento urbano, a Comunidade Shou'er, construída na década de 1990 — onde hoje se encontra o jardim ESQUINA — é uma das duas áreas com traçado espacial claro e coerente no subdistrito de Hudong; a outra é a Comunidade Hudong e Huyi, construída na década de 1950.


A configuração arquitetônica da Comunidade Shou’er baseia-se nos princípios de projeto de “orientação norte-sul para melhor insolação” e de “planta retangular inclinada que gera integração espacial”, o que resultou na forma final da comunidade: um conjunto em estilo pátio com orientações de 90 e 45 graus. Esse traçado naturalmente gera uma série de espaços triangulares, hoje utilizados como estacionamento, salas de uso público, áreas verdes, pequenas praças etc. O terreno do jardim ESQUINA é um desses espaços triangulares e, por isso, recebeu esse nome, refletindo sua característica espacial.


2. Renovar a Paisagem da Rua com o Jardim ESQUINA dentro da Comunidade – O jardim ESQUINA faz parte do Experimento Hudong, proposto pela VIASCAPE em parceria com o Escritório do Subdistrito de Hudong. Durante a pesquisa in loco, descobrimos que os moradores têm forte desejo de manter varais no novo jardim. Também expressaram preferência por não incluir atividades muito dinâmicas em um espaço que desejam tranquilo.


Dentro da nossa estratégia de regeneração, os varais tornam-se o elemento visual e funcional principal — não apenas uma estrutura, mas um objeto que define o espaço, funcionando como uma galeria triangular de lazer. A galeria foi integrada ao muro perimetral, com parte da parede recuada um metro para dentro, formando uma interface em zigue-zague que cria um espaço de descanso voltado para a Rua Shouguang. O projeto final melhora a paisagem da rua ao revelar o jardim renovado para o lado interno. Além disso, o uso de blocos de vidro na parede permite que a luz da rua, difusa, se projete no jardim comunitário à noite, gerando um jogo de luz e sombra que reforça a sensação de segurança no canto mais afastado da comunidade. Renovar a paisagem urbana a partir de um jardim interno é o ponto experimental-chave no projeto do jardim ESQUINA e a base para sua construção espacial detalhada.


3. Projeto Baseado nos Genes Ambientais – Nosso projeto para o jardim ESQUINA divide o espaço em duas partes. Uma delas é uma área verde próxima à via secundária da comunidade. Ali, combinamos gramados e árvores para bloquear a visão da rua e da área de estacionamento, conferindo ao jardim a atmosfera de um jardim frontal típico de empreendimentos residenciais contemporâneos. A outra parte fica próxima ao muro perimetral. Conectamos pequenas zonas funcionais e caminhos de pedestres com árvores, criando espaços de lazer relativamente independentes sob as copas. A instalação dos varais foi integrada à estrutura da galeria branca construída parcialmente sobre a base do muro, formando o layout básico do jardim.


Projetamos o jardim ESQUINA com duas malhas sobrepostas, em ângulos de 90° e 45°, inspiradas nos “genes espaciais” da Comunidade Shou'er. Usamos um módulo de 2x2 metros para organizar o espaço, otimizando o desenho simples e montável com canteiros de árvores e bancos. O tijolo de terracota, na mesma cor do muro perimetral, é o material principal do jardim, criando uma atmosfera acolhedora. Blocos de vidro também são usados no muro para capturar a luz e sombra dinâmicas da Rua Shouguang.

4. Problemas e Possibilidades – Uma visão aérea mais próxima da Comunidade Shou’er revela três problemas principais que costumam passar despercebidos. Primeiro, os vários espaços triangulares ao ar livre, renovados em momentos distintos, apresentam grande variação na composição espacial e na escolha de materiais. Com exceção do jardim ESQUINA — renovado com base no contexto —, a aparência dos demais espaços não dialoga com o caráter espacial da comunidade. Alguns exemplos típicos:


A praça triangular no leste central da comunidade é superconcentrada e pouco eficiente, o que pode gerar ruído excessivo. Já o pequeno espaço verde triangular ao norte do complexo de serviços públicos no oeste central tem um desenho estranho, com curvas excessivas. Em segundo lugar, apesar dos esforços significativos dos departamentos de gestão e dos governos locais para resolver o problema do estacionamento em áreas residenciais antigas, ainda existem diversas áreas dispersas sem função definida ou acesso veicular, que poderiam ser otimizadas, como por exemplo o uso desses espaços como áreas verdes para ampliar o volume de vegetação da comunidade. Em terceiro lugar, o telhado inclinado apresenta uma coloração fragmentada, majoritariamente azul com manchas cinzas, possivelmente devido ao uso de diferentes materiais em reformas passadas. Esses telhados de cores misturadas tornam-se um pano de fundo visualmente desagradável para os moradores dos andares mais altos e prédios vizinhos.


É evidente que essas questões não são exclusivas de uma comunidade, mas comuns à maioria. Em escala urbana, Xangai sempre teve atenção voltada à renovação das áreas residenciais antigas. No entanto, os recursos públicos geralmente são distribuídos em etapas ao longo do tempo e, em alguns casos, por departamentos administrativos diferentes. Isso gera desafios como a continuidade no uso do espaço e nos detalhes construtivos. Ao mesmo tempo, as reformas seguem, em geral, processos tradicionais. Diante desse cenário, sugerimos que urbanistas comunitários e equipes profissionais qualificadas tenham um papel mais estratégico, com uma visão ampla de tempo, espaço e técnica, para melhorar a qualidade ambiental dessas comunidades, dentro do sistema de “planejamento comunitário” de Xangai.
