Mostramos a seguir a proposta do Grifo Arquitetura para o concurso nacional de expansão da Sede do Sindicato de Engenheiros do Rio Grande do Sul (SENGE-RS). Leia a seguir o memorial completo do projeto, que recebeu uma Menção Honrosa do júri.
“Cada nova obra intervém numa certa situação histórica. Para a qualidade dessa intervenção é crucial que se consiga equipar o novo com características que entrem numa relação de tensão significativa com o existente. Para o novo poder encontrar o seu lugar, precisa primeiro de nos estimular para ver o existente de uma nova maneira.” (Peter Zumthor)
Reflexão metodológica
A função primordial da arquitetura de atender às necessidades humanas e sociais é o objetivo central do processo de projeto. O exercício analítico dessas necessidade levam à variedade de possíveis arranjos e então às escolhas que determinam o produto final.
O percurso entre a relação de espaços desejados e à proposta final, então, é linear, de um modo onde a volumetria e a espacialidade são resultados das demandas confrontadas com as realidades econômicas e locais. Não há nesse processo um exercício formal gratuito, mas uma atividade crítica e de reflexão.
As singularidades inerentes à arquitetura estão no emprego correto de soluções bem conhecidas, da legibilidade na interface entre o construído e o não construído, o novo e o velho, e na compreensão de que estamos construindo o espaço urbano. Nossa intervenção é resultado desse processo.
Espaços de trabalho
O anexo à sede do SENGE se constitui principalmente por espaços voltados ao trabalho. A organização desses espaços se pauta primeiramente pela maneira como a instituição conduz suas atividades. No caso o anexo em questão possui em seu programa a característica de se adaptar à uma necessidade programada e contínua, funcionando como um local apropriado para o desenvolvimento de um negócio.
Os espaços se relacionam entre si, não somente de maneira direta, na possibilidade de se trocar experiências entre os diversos profissionais que atuariam na sede, mas também sob a forma temporal, sendo, inclusive, estimulado que determinado profissional inicie suas atividades no espaço do coworking e que, à medida que exista a necessidade, migre para espaços maiores e mais individualizados também oferecidos pela sede.
O espaço do coworking, nesse contexto, se encaixa de maneira especial pela sua singularidade no foco colaborativo e na construção de uma comunidade, valores e afinidades. A conexão entre os profissionais ali estabelecidos evidencia uma nova forma de trabalho em rede capaz de organizar pessoas e instituições, de forma igualitária e democrática, em torno de um objetivo comum.
Harmonia entre arquitetura e paisagem
Propomos uma arquitetura oportuna, que se apropria do espaço urbano em sua condição natural adequando-se à ele enquanto o qualifica dentro das possibilidades existentes.
A paisagem, nesse sentido, incorpora o novo volume como uma resultante natural, das condições pré-existentes, uma consequência da forma de ocupação e das condicionantes. Dessa maneira, as ações propostas não se configuram como uma busca pela evidência arquitetônica ou foco urbano, mas buscam qualificar espaços residuais ou insuficientemente interessantes para então ocupa-lo de maneira satisfatória.
A sede atual do SENGE-RS deixou alguns destes espaços, como naturalmente acontece no processo de ocupação. O principal destes é o grande plano voltado para o terreno do anexo, onde, em virtude da situação prévia dos lotes, não havia possibilidades de aberturas maiores nem humanização no tratamento das superfícies. A intervenção nesse plano, então, busca esse tratamento de modo a minimizar o impacto visual da barreira através de um jardim vertical, que se estende do rés do chão ao topo da sede atual.
Existente: não propusemos nenhuma alteração externa significativa, somente a substituição das portas da garagem, que na proposta atual abrigará o memorial do SENGE-RS, por vidros translúcidos que iluminam o memorial sem, no entanto, o expor demasiadamente para a rua. A análise mais profunda, contudo, pode vir a permitir, em fase posterior do projeto, aberturas para o novo anexo, uma vez que a volumetria proposta possibilitaria tal arranjo.
Organização e espacialidade
Propomos uma plataforma que completa o vazio voltado para a rua Visconde do Herval e organiza a galeria e o acesso aos edifício. Um prolongamento da rua onde se desenvolvem espaços com caraterísticas urbanas. Ao lado da figueira existente e voltado para a rua está o restaurante, de uma maneira onde mesas externas podem desfrutar da sombra e da atmosfera urbana. Ao lado do restaurante se organizam as lojas que configuram a galeria no piso térreo.
Há um vazio com um jardim que rasga todo embasamento, o iluminando e ventilando, e que organiza os fluxos desse espaço. Ao lado esquerdo estão as lojas, café e restaurante e ao lado direito do jardim encontra-se o hall que dá acesso ao edifício anexo e à conexão com o edifício existente. O memorial do SENGE se desenvolve nessa transição do existente para o anexo, no espaço antes destinado à garagem.
O pavimento superior do embasamento abriga o auditório e espaço para exposições e eventos. Todo esse espaço conta com serviço de catering e possui depósitos de apoio. Esse espaço se conecta com a galeria principalmente por uma escada situada no jardim do vazio e que se prolonga para dar acesso aos pisos do estacionamento.
Na cobertura do embasamento há um terraço conectado ao primeiro piso da torre, estendendo o primeiro piso do coworking que possui ainda mais dois pavimentos conectados por uma escada independente e um vazio interno integrando todos os pisos.
Os 4 pavimentos que se seguem abrigam as salas de escritórios, que se organizam em torno das áreas comuns, garantindo que as salas de trabalho desfrutem de maior iluminação natural enquanto as salas de reuniões usadas eventualmente necessitam de luz artificial.
As áreas destinadas aos cursos estão nos dois últimos pavimentos da torre, com um espaço de convivência em cada pavimento, um espaço desejável para esse tipo de uso.
Há um acesso para carga e descarga da galeria, restaurante e catering pela Av. Érico Veríssimo, onde está também o acesso ao estacionamento. No primeiro piso do subsolo, além das vagas para carros, motos e bicicletas, há espaços técnicos como gerador, transformador e subestação. A cisterna fica no 4° subsolo, embaixo da última rampa.
Tecnologia e sistemas
A escolha das tecnologias se faz presente desde a volumetria do edifício, determinadas posturas nessa fase resultam na obrigatoriedade ou não de determinados recursos para mitigar suas consequências. Orientar o edifício no sentido norte/sul, bloqueando a fachada oeste com os serviços, é, por exemplo, uma dessas decisões. Essa postura conduziu à solução simples de sombreamento da fachada principal, norte, com brises tubulares de cerâmica. Essa medida reduz significativamente a incidência solar direta, principalmente nos meses em que essa incidência implica aumento da temperatura interna. Esse sistema é fixado à laje e é complementado com uma passarela para limpeza e manutenção dos brises e esquadrias.
A ventilação cruzada também faz parte das estratégias de controle da temperatura interna do edifício. Beneficiando-se da dinâmica gerada pelo aquecimento da face norte, que gera uma movimentação de ar ascendente e consequentemente uma zona de menor pressão, deslocando o ar no sentido transversal do edifício.
Propomos também que sejam utilizados sistemas de aproveitamento de águas chuva para irrigação, limpeza, sanitários e pias. Na cobertura há a possibilidade de instalação de painéis fotovoltaicos que podem contribuir no abastecimento energético do edifício.
A estrutura é proposta em concreto armado, onde lajes nervuradas distribuem o esforço em pilares distantes 12,5m no sentido transversal em vãos que variam entre 5m e 7,5m no sentido longitudinal. A tecnologia se mostra coerente pelo seu custo inicial e facilidade de construção. O uso de lajes nervuradas dispensa usos de compensados, reduz consumo de madeira, aumenta a velocidade de execução e contribui para redução do custo final da obra, além de apresentar outras vantagens técnicas.
As etapas construtivas passam basicamente pela escavação, estabilização das divisas, fundações, construção dos pisos do estacionamento, desenvolvimento dos e do embasamento e por fim da torre.
Apesar dos esforços para redução do consumo energético e consequentemente a diminuição do uso de sistemas mecânicos existe a consciência em que em algumas situações sistemas passivos não são suficientes para proporcionar zona de conforto aos usuários e o sistema mecânico se faz necessário. Propomos então um sistema de ar-condicionado VRF com sistema multi-split e apenas uma unidade externa conectada a múltiplas unidades internas operando individualmente por ambiente, o que aumenta a eficiência. Sua instalação é simples e o uso produz um baixo nível de ruído e baixo consumo elétrico.