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Arquitetos: ARQX Architects
- Área: 870 m²
- Ano: 2014
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Fotografias:Sonia Arrepia
Descrição enviada pela equipe de projeto. No contexto de um envelhecimento progressivo da população, o crescimento da parte mais idosa da sociedade é inevitável. Em Portugal, o aumento do número de pessoas de maior idade ocorreu de forma relativamente rápida durante a década de 1990 e em 2001, pela primeira vez o número de idosos (>64 anos) foi maior do que o número de jovens (<15 anos).
Com o aumento da expectativa de vida devido ao progresso da medicina é necessário levar em conta as mudanças que este fato acarreta. A arquitetura, como uma das principais atividades humanas sobre o meio ambiente, deve cumprir com o desafio de maneira eficiente.
Para adaptar a produção arquitetônica às necessidades das pessoas de maior idade, é necessário entender os processos de envelhecimento de forma física, social e psicológica, o comportamento dos idosos e sua percepção do meio ambiente na sociedade, assim como sua forma de expressão. É de responsabilidade do arquiteto criar estruturas/ambientes que combatam e previnam a inércia/inatividade/incapacidade causada pelas consequências "menos positivas" do envelhecimento. É uma ferramenta de grande alcance e uma grande responsabilidade a manutenção e a cura social que pode derivar-se desta forma de intervenção, sendo isto decisivo na atitude da sociedade de uma das etapas da vida que mais tem sido marginalizada.
“Todo mundo é um gênio. Mas, se julgarmos um peixe por sua capacidade de subir em uma árvore, ele gastará toda a sua vida acreditando que é estúpido .” (Albert Einstein)
O Centro Social é parte de um conjunto de equipamentos que constitui a sede da Seção Regional da Associação Médica de Porto. Com a consolidação da Associação Médica ao longo dos anos, tem se realizado diversas adições ao complexo: quadra de tênis, piscina, áreas de estacionamento e um centro de cultura e congressos.
O Centro Social encontra-se em uma antiga habitação unifamiliar que foi remodelada e ampliada. A extensão utiliza um novo volume que proporciona ligações físicas e formais com o já existente, com um sentido de enaltecer as qualidades dos espaços em seu conjunto, evitando uma competição ou sobreposição das já existentes. Materializou-se um volume de um só pavimento, contíguo às fachadas leste e norte do edifício original, relacionando todas as plantas através de um elevador (onde também são introduzidas as áreas de recepção e acesso).
A implantação, apesar de suscetível a uma certa controvérsia, já que se apoia sobre um lote contíguo, é vista como uma oportunidade para qualificar este local específico. Por um lado, nos permitiu melhorar o jardim que existe em frente à fachada principal, por outro lado, compensa o perfil da rota de acesso ao edifício polivalente existente, o que permite também acessar a nova volumetria. O equilíbrio e a harmonia são algumas das suposições que justificam muitas das decisões tomadas: entre o antigo e o novo, entre a lógica do lugar e esta intervenção, a composição de espaços e ambientes internos.
A organização interna da parte nova da construção é bastante simples. Cabe destacar a introdução de um sistema de eixos perpendiculares de movimento (cuja intersecção é realizada na sala principal de recepção) que permite o acesso a diferentes áreas e um ritmo salpicado de aberturas para o exterior. A organização interna é essencial em uma estrutura de natureza social e a utilização um sistema de distribuição simples foi crucial para facilitar este processo. Para cada quadrante há uma diferenciação de atividades: ginásio, vestiários, consultórios médicos e salas de uso misto. Nos pisos superiores, um está reservado para a sala principal e o último é a biblioteca. Esta distribuição também permite o uso independente e simultâneo de diferentes combinações. A localização das escadarias proporciona uma relação informal adicional que permite um fácil acesso entre os espaços situados em diferentes pavimentos.
Há uma clara diferenciação entre os espaços do volume existente (e restaurado) e a expansão do volume, relacionado, entretanto, com a distribuição de funções em todo o edifício. O novo volume se caracteriza por uma sobriedade de linhas e materiais. As bordas são cortadas em pedra, aço e vidro em uma métrica muito fechada e espartana. O equilíbrio do conjunto é garantido através de um telhado plano com características particulares. Isto surgiu da necessidade de resolver diversos problemas: construção, iluminação, acústica e conforto térmico, instalações, operação e manutenção da infraestrutura.
A utilização de uma membrana de alumínio com um padrão recortado permitiu ocultar a ampla gama de equipamentos e infraestrutura de uma maneira delicada. A tubulação, cabos de conexão, a instalação de sensores, câmeras de vídeo, sistema de extinção de incêndios e a troca de ar e canais de ventilação são retiradas da vista dos usuários através de uma membrana de alumínio branco. Contudo, não prejudica seu funcionamento normal e sua manutenção é garantida através da modularidade construtiva que permite que sejam acessados através de painéis removíveis.
Um dos fatores que mais influenciou no desenvolvimento deste telhado foi a iluminação. Em busca da pureza formal de plantas que conformam os espaços interiores, também a iluminação foi "ocultada" por esta membrana. Foi essencial a determinação da porcentagem de superfície aberta, assim como a potência da luz instalada com fim de modelar um conforto visual ótimo. Criar áreas agradáveis e equilibradas foi um pensamento constante. Recorremos a um padrão de corte inspirado no movimento Artes e Ofícios (William Morris e John Ruskin) sabendo que seria essencial para contrariar a estrutura ortogonal e métrica plana (industrial), com linhas orgânicas e fluidas atrativas à criatividade e à arte. O diálogo estabelecido enriquece o conjunto.
O jardim existente foi restaurado. Alguma vegetação foi replantada e criou-se um "pano verde" que se estende na parte dianteira do edifício e sua presença é inevitável a partir dos espaços interiores.