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Arquitetos: Virgula i
- Ano: 2014
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Fotografias:Nelson Garrido, Eva Sousa
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Fabricantes: panoramah!®, Tons de Pedra
Introdução ao projeto:
O projeto de renovação e ampliação do Hotel Minho tem como base uma edificação preexistente construída em 2006, agora renovada com novos espaços públicos e sociais e um spa. A ampliação foi realizada de forma a integrar ao máximo a edificação original, apesar do desenho corrente e das características arquitetônicas pouco relevantes da preexistência, introduzindo-se uma nova imagem na unidade hoteleira.
A solução arquitetônica procurou sempre um registo muito simples e em muitas circunstâncias, um desenho fortemente introvertido, mantendo a edificação preexistente como centro e introduzindo as áreas novas a construir num piso abaixo do momento de entrada no empreendimento. A cobertura ajardinada e a continuidade das superfícies brancas exteriores preexistentes foram desenhadas para reduzir ao máximo o impacto visual das novas construções.
Procurando uma relação mais forte com o lugar, os materiais locais, as técnicas construtivas e a arquitetura vernacular, a ampliação socorreu-se da madeira de castanho como um dos seus mais importantes elementos. Este material, abundante na envolvente, é utilizado como elemento que contém o novo programas hoteleiro, criando o limite perimétrico dos novos espaços. São assim criadas caixas/contentores revestidos a madeira que funcionam como novos elementos de organização do hotel, criando o ambiente e a temperatura visual do interior e exterior, marcando uma forte continuidade entre cada piso.
O projeto foi desenvolvido até ao mais ínfimo detalhe, integrando espaços interiores e exteriores num só, usando de forma eficiente a luz natural, o filtro visual dos pátios e o desenho de diversos elementos de mobiliário, iluminação ou até da sinalética do hotel.
O projeto de interiorismo:
O projeto de arquitetura do Hotel Minho integrou o interiorismo como uma parte fundamental do projeto de arquitetura. A diferença entre interior e exterior, a separação muito frequente na hotelaria entre arquitetura e interiorismo, foi deliberadamente negada e transformada numa solução única.
Por se tratar de uma extensão de uma edificação preexistente, o projeto manteve as principais características da arquitetura original no seu exterior e trabalhou de forma mais livre o interior. Os materiais, o mobiliário, o equilíbrio entre acabamentos, a relação entre as soluções desenhadas e o ambiente gerado no interior, foram completamente re-equacionadas de forma a criar um novo hotel.
Os volumes de madeira introduzidos nos vários pisos da unidade hoteleira, frequentemente a sair do interior para o exterior, ligam as áreas do hotel e a sua envolvente. Juntamente, recebem os novos espaços definidos pelo programa de ampliação, como por exemplo a sala de conferências do piso de eventos, os gabinetes de tratamentos do spa, entre outros, assumindo um desenho simples, rigoroso, geométrico, revestido a madeira de castanho, proporcionando espaços e interiores fortes, cheios de carácter e com a quantidade ideal de luz. Devido ao facto do hotel estar inserido numa região onde os bosques, o rio e as tradições locais são as atrações principais, o desenho pretendeu remeter para estas origens, pretendendo que a solução desenhada parecesse que estivesse integrada no edifício desde há muito. Os interiores abrem-se para as melhores paisagens da envolvente ou quando tal não é possível, para espaços exteriores privados criados pela nova ampliação – os pátios. A relação interior-exterior é assim condicionada pela arquitetura, tirando proveito dessa possível simbiose, criando importantes relações e áreas de privacidade para os utilizadores. É também frequente a relação com detalhes modernistas de meados do século XX executados nas carpintarias e no mobiliário. O projeto rejeitou as tendências, as modas ou a procura pela solução tipo “design-hotel”. De fato, para atingir este objetivo, vários itens de mobiliário, iluminação, estofos e equipamentos de spa foram desenvolvidos pelo estúdio de forma a obter o impacto visual pretendido pelo projeto.
As principais inspirações foram retiradas da arquitetura moderna portuguesa e do seu desenho de mobiliário dos anos cinquenta e sessenta, assim como da arquitetura vernacular da região. Nomes internacionais como Arne Jacobsen, Alvar Aalto e nomes locais como Arménio Losa, Januário Godinho e Álvaro Siza, influenciaram direta e indiretamente o trabalho desenvolvido, estando alguns deles presentes com objetos introduzidos no projeto do Hotel Minho.
Materiais e produtos:
A madeira utilizada na maioria dos elementos construtivos da unidade hoteleira, nomeadamente os revestimentos interiores e exteriores, tetos, mobiliário e sinalética, é a madeira de castanho ibérico, bastante comum no noroeste peninsular e na envolvente do hotel. O projeto procurou obter o ponto de equilíbrio ideal entre este material e os restantes, sempre neutros e escolhidos em torno de uma paleta de cor branca. Destes, o mármore de Carrara branco foi utilizado em paredes e pavimentos, assim como em itens especiais como candeeiros, balcões e lavatórios. Paredes brancas, painéis de revestimento lacados, vidro e espelho foram frequentemente usados para combinar os elementos neutros com a presença da madeira. A restante interligação foi realizada pelo mobiliário e os restantes elementos decorativos.
Nesta matéria, reforçamos os múltiplos itens desenvolvidos pelo estúdio - mais de vinte produtos repetidos num total de 131 peças - em conjugação com vários itens vintage adquiridas em lojas locais, e combinada com o desenvolvimento de peças de mobiliário cuja produção havia sido abandonada – o cadeirão Pousada (1951) de Januário Godinho. Foram também introduzidos vários elementos de mobiliário modernista e contemporâneo, de diferentes autores, que seguem os princípios estabelecidos pelo projeto: um design quente, elegante e eficiente, que contribuem para o imaginário criado nos espaços da unidade hoteleira.
O mobiliário desenvolvido para este projeto evoluiu agora para uma nova coleção chamada Bracara, desenvolvida entre o estúdio e a marca portuguesa Paularte estando previsto seu lançamento para o mercado internacional a partir do início de 2015.
Nota: Este projeto foi originalmente publicado em Dezembro 01, 2014