- Ano: 2008
-
Fotografias:Powerhouse Company
Descrição enviada pela equipe de projeto. Primeira
Villa 1 foi a primeira residência que o escritório Powerhouse Company foi contratado a projetar desde sua fundação, em maio de 2005. Com o intuito de marcar o terreno, um "1" dourado foi pregado num pinheiro no final de uma estrada de terra.
De ponta cabeça
A floresta, como a maioria da paisagem holandesa, foi produzida pelo homem. Principalmente foram lá plantados pinheiros na década de 1950 para a produção de hastes retas para utilização como vigas. As árvores tornaram-se maduras o suficiente para serem colhidas em 1970, justamente quando tornou-se ilegal cortá-las. A paisagem, assim, passou de industrial para natural. Agora o terreno está sob a regulamentação de "construções na natureza", que incluem uma série de restrições, entre as quais limitações de altura para as linhas de goteiras e restrições volumétricos para o que poderia ser construído acima do solo. Uma vez que as necessidades espaciais da casa demandavam pelo menos o dobro do volume permitido pelos regulamentos, projetou-se a mesma de cabeça para baixo: as funções cotidianas acima do solo e todos os dormitórios abaixo, mas com amplo acesso à luz natural.
Por que Y?
O terreno possui uma ligeira inclinação. Oferece uma bela vista sobre a floresta e ótima exposição solar, que queríamos aproveitar plenamente. Dessa forma, propôs-se a planta em Y: cada asa é otimamente orientada no terreno e ao sol. Há três alas: uma para o trabalho, estudo e música (exposição Norte-Oeste); um para cozinhar e comer (exposição Leste-Sul-Oeste); e um para o estar e pintura (exposição do Sul e do Norte). No subsolo, a forma Y cria uma clareza funcional semelhante: uma asa é para o dormitório principal, um para carros e outro para depósitos e dormitórios. Um pátio fornece luz para os quartos de hóspedes.
Uma moldura singular envolve a casa, permitindo, assim, a máxima transparência. A área central, onde todas as asas se encontram, é o coração da casa. É um grande espaço que serve como hall de entrada, sala de jantar e bar. A planta em Y estende a casa no terreno e fornece grandes vistas panorâmicas sobre a paisagem circundante. Nos lados sul e leste, duas grandes plataformas cobertas criam a proteção solar no verão e suavizam a transição do exterior para o interior. No subsolo cria-se uma divisão clara entre os aposentos privados para os convidados (com entrada privada através do pátio), a garagem e do dormitório principal.
De acordo com as necessidades de cada um
Cada espaço no piso térreo pode desfrutar de vistas panorâmicas sobre a paisagem graças à ampla fachada transparente contida dentro do terreno. Cada asa é espacialmente organizada em uma espécie de forma centrífuga. Toda a massa está concentrada em um núcleo central: uma peça de mobiliário que contém todos os serviços e elementos estruturais e que cria diferentes salas dentro do espaço totalmente envidraçado.
Essas grandes peças de mobiliário permitem uma distribuição de fluxo livre de funções, sem a criação de salas fechadas. Assim, é possível desfrutar de um agradável passeio ao longo de 150 metros através de uma variedade de espaços imersos na paisagem.
Em contraposição à extrema abertura do piso térreo, os espaços no subsolo abrigam as salas mais íntimas da casa e assumem qualidades espaciais opostas, enfatizando o sentimento brutal e protetor da massa construída. Aqui, a escassez de luz natural é complementada por uma riqueza de efeitos espaciais. Os espaços são esculpidos na massa, criando tetos abobadados e paredes espessas, como resultado paradoxal da leveza da estrutura vertical acima do solo. No porão a arquitetura pesada recupera as qualidades primordiais da arquitetura romana.
Três
As três peças de mobiliário no piso térreo são completamente diferentes em design, materiais, texturas e odores. Utilizou-se madeira para o norte, ardósia para o leste e concreto para o sul.
Na ala Norte um mobiliário de nogueira americana "engole" uma escada, armários, uma cama e um pequeno banheiro. As curvas de sua forma exterior criam a entrada, um pequeno e um grande estúdio e um quarto de piano isolado acusticamente.
A cozinha é a segunda peça de mobiliário.É inteiramente feita de ardósia norueguesa e incorpora todos os utensílios de cozinha e de armazenamento, um banheiro e um bar. É tão sólido como uma rocha, mas suave na sua utilização - uma espécie de sofisticação primordial.
A terceira peça de mobiliário é composta por duas paredes de concreto que incorporam uma lareira, depósito e projetor de vídeo. Esse elemento abre-se para criar um pátio rodeado por uma sala de estar, jardim e ateliê.
Miessian Gimp
A fachada de vidro é suspensa entre caixilhos de janelas escondidas no teto e piso. Não existe uma estrutura vertical, apenas juntas de silicone para segurar o vidro. A única abertura é uma grande parede de mármore verde (uma espécie de parede móvel de Mies van der Rohe) que abre a intimidade da sala de estar para o terraço. Embora seja feita de mármore, a parede de correr é muito leve, uma vez que é montada em placas de alumínio com estruturas hexagonais (uma invenção chinesa chamada de folheado de pedra que agora é produzido no Texas, EUA, com pedras da região). A parede deslizante de mármore envolve-se em torno de uma coluna em forma de cruz revestida com borracha preta: apelidada de "Miessian Gimp".
Técnica
Estruturalmente, a casa é uma colagem de diferentes técnicas construtivas. O subsolo é moldado em concreto. A cobertura, com grandes balanços, é uma estrutura de aço projetada pelo audacioso engenheiro estrutural Gilbert van der Lee. A estante na asa do Norte é inteiramente feita de chapas de aço sólidos e funciona como uma armação estrutural treliçada, que estabiliza a estrutura da cobertura.
Raízes
Como resultado da forma em Y e a dicotomia arquitetônica, a residência oferece uma grande variedade de qualidades espaciais extremas, passando de corredores estreitos e escuros a salas transparentes abertas. O resultado é uma paisagem com diferentes percepções espaciais que vai além do simples diagrama pragmático de funcionalidades. Essa casa é o resultado de uma escolha involuntária, ainda que consciente, de alterar radicalmente a maneira de viver. É uma casa para a nova vida de um homem e sua nova parceira. Uma casa que pode proporcionar um novo lugar para morar, depois da perda de sua amada, com quem tinha vivido 30 anos em uma casa antiga de fazenda comprada na década de setenta e que tinha sido reformado oito vezes para atender a suas necessidades de mudança. Essa casa tinha que ser algo radicalmente nova para ele. Teve que oferecer um novo equilíbrio para uma vida perturbada, um novo ponto de ancoragem. É uma casa projetada para uma família recomeçar.