Apresentamos a seguir a proposta premiada com o Primeiro Lugar no Concurso Nacional Parque do Mirante de Piracicaba, concebida pelo estúdio Grupo Garoa. O júri ressaltou a plena melhoria dos fluxos internos ao Parque, tanto transversais quanto longitudinais, provendo conexões adicionais e novos lugares para a fruição, sendo que se pode destacar a generosa praça criada ao redor do Engenho Central.
Dos arquitetos: A cidade de Piracicaba historicamente apropria-se do percurso natural do Rio e o encarrega de ser o principal vetor de formação de sua malha urbana. A cidade, que cresceu voltada para o Rio, o assume como protagonista e atribui a ele o valor democrático de um espaço público. Ocupa suas margens para realizar encontros, celebrações, eventos artísticos, folclóricos, gastronômicos e de lazer, construindo uma identidade fortíssima relacionada ao rio.
Parque do Mirante foi concebido na década de 1880 destinando-o a observação do rio, e ganhou força com a reforma realizada em 1950 que permitiu o encontro através de percursos e mirantes. Diante disso, a presente proposta visa respeitar e requalificar os mesmos critérios. Este projeto legitima o rio como protagonista do espaço público, bem como os percursos relacionados a ele, revertendo sua atual condição de abandono e depreciação, com o cuidado em articular o Parque com a composição das outras áreas multifuncionais destinadas ao uso coletivo e previstas no Plano Diretor local, formando o circuito integrado Beira Rio Central.
O projeto toma como premissa o próprio percurso como objeto a ser preservado e prevê a requalificação destes caminhos, afim de melhor conecta-los e torna-los mais atrativos. Os principais elementos que compõe a intervenção são: a implantação de eixos no sentido transversal aos percursos existentes, tornando-os mais acessíveis e estabelecendo uma relação visual e física com o rio, com o entorno e com o próprio Parque; a reestruturação de alguns dos espaços existentes, propondo novos programas que desempenham o papel de incentivar o uso mais frequente do Parque; e a inserção de módulos que se distribuem nos caminhos do Parque abrigando pequenos programas de apoio por toda a sua extensão.
As transposições são implantadas em três eixos do Parque, onde cada uma delas é capaz de organizar, articular e tornar acessível os diferentes níveis dos percursos existentes, através de uma plataforma anexada à um elevador, considerando o posicionamento das escadarias já existentes.
Ao se apropriar de uma técnica construtiva contemporânea, é possível estabelecer uma relação interessante entre as intervenções realizadas ao longo do tempo no Parque, permitindo a leitura do processo de transformação e consolidação do parque.
O principal deles está no eixo central que, ao abrigar o maior fluxo vindo da Avenida Maurice Allain, permite o acesso desde o nível da rua até a extremidade transversal do Parque caracterizando, assim uma nova entrada para o parque. Priorizando a contemplação ao rio, esse caminho chega até o Mirante 3 sendo este a primeira construção do Parque. A proposta afirma sua vocação de se aproximar do rio e propõe, na cota mais baixa, uma área alagável que transmuta sua configuração conforme a alteração do nível da água. Ela cria também uma relação direta com o mirante 04, que já possui caráter alagadiço.
O outro elemento de transposição localiza-se na extremidade do Parque que está próximo à Ponte do Mirante. O eixo está posicionado ao lado da escadaria de pedras existente, reforçando o percurso entre a marquise e o espelho d’água, ambos elementos que revelam, através da arquitetura, o movimento modernista da década de 50 inserido no contexto de desejo por mudança na cidade.
Este eixo se direciona ao edifício onde hoje funciona o Núcleo de Educação Ambiental, onde é proposta a demolição do pavimento superior a fim de reverter a condição de barreira visual e de proximidade, que contradiz um dos principais motivos de existência do parque, a proximidade com o rio, e não apresenta grande interesse de preservação integral. Ao retirar esse pavimento que não, além da revelação do rio desde o nível da rua, instigando as pessoas a se aproximar dele, cria-se um espaço mais amplo e democrático para o uso coletivo da população.
O projeto cria ainda uma relação entre o antigo edifício e o mirante 02, em ambos os pavimentos, buscando uma unidade de piso através de um novo elemento de conexão entre eles, a fim de possibilitar a compreensão da espacialidade original.
No pavimento inferior, a reforma do atual aquário e do pavimento inferior ao NEA abriga um novo restaurante e um bar/café, com o intuito do melhor aproveitamento da vocação publica e de contemplação deste espaço, visto que se situa acima do salto. O tipo de programa proposto, o restaurante e bar, além de remeter à memória cultural do local, estimula a ocupação tanto diurna quanto noturna do Parque todo que, além de criar oportunidades de convivência, estimula atividades socioculturais e econômicas.
O terceiro eixo de transposição está implantado na outra extremidade do Parque funcionando como elemento articulador entre ele e o Engenho Central, amarrando e potencializando o circuito de equipamentos que compõe o Beira-Rio Central e estrutura um sistema vivo de intercâmbio social.
O eixo liga a cota intermediária do percurso do Parque, passa por cima do véu da noiva criando uma nova relação visual e sensorial, margeia as ruínas provenientes das antigas comportas de abastecimento de água, onde se propõe a relocação e adaptação do Aquário Municipal, e destina-se ao Engenho Central, em frente ao novo Museu do Açúcar.
E por fim, numa escala mais flexível, um equipamento recreativo, e um conjunto de módulos e mobiliários urbanos distribuídos ao longo dos percursos com o objetivo de abrigar quaisquer necessidades de apoio que o parque possa necessitar afim de gerar usos por toda a sua extensão.
O elemento recreativo é destinado principalmente às crianças e vence o desnível entre um patamar e outro cumprindo coma função de transposição de forma interativa. O uso dos módulos para a finalidade gastronômica, retratam a forte tradição que se tem em frequentar a Rua do Porto principalmente pela gastronomia típica piracicabana. E o conjunto de mobiliário urbano, entre eles as coberturas, bancos e pontos de iluminação, dão unidade visual e prática para o melhor funcionamento do Parque.