Apresentamos a seguir a proposta Destaque no Concurso Nacional Parque do Mirante de Piracicaba, concebida pelos arquitetos Gustavo Fontes, Yuri Kokubun, Edson Maruyama e André Ko. Veja na sequência mais imagens e a descrição do projeto pelos autores.
Dos arquitetos: Importante ponto turístico da cidade de Piracicaba, o parque do Mirante detém o privilégio de se relacionar diretamente com o importante rio que recebe o mesmo nome de seu município. Dos seus mirantes e passeios é possível observar pontos de interesse como a Rua do Porto, o Salto do rio e diferentes perspectivas da cidade de Piracicaba. Estes aspectos demonstram as potencialidades de apropriação de seu espaço tanto pela população de Piracicaba quanto por turistas, por meio de uma melhor conexão entre a malha urbana da cidade e o rio.
Reconexão cidade X rio
A partir da leitura das sugestões propostas pela população de Piracicaba em relação ao projeto do Parque do Mirante, foram estabelecidas diretrizes para a proposta. Compreendeu-se que é necessário uma abordagem que privilegie melhores conexões entre a cidade e o rio, sem perder as características espaciais atuais do parque, a fim de poder reestruturar sua dinâmica local.
As questões de conectividade entre a cidade e o rio Piracicaba, relatadas pelos moradores da cidade, não são um problema recente. Existem diversas propostas para melhorar o aproveitamento da encosta do rio. Um destes é o Projeto Beira Rio, que se estende por grande parte da encosta do rio com o intuito de qualificar essas áreas de maneira a possibilitar uma melhor utilização da população. Neste contexto, o Engenho Central, o Parque do Porto (juntamente com a rua do Porto) e o Parque do Mirante destacam-se por suas dimensões e representatividades em todo o contexto.
Parque do Mirante atual
Muitas cidades brasileiras que possuem rios que cruzam suas malhas urbanas, têm um histórico de subutilização do potencial turístico e de lazer de suas encostas. No caso do Parque do Mirante, a topografia existente dificulta muito a relação direta entre o usuário e o rio. Diante de uma massa bastante densa de vegetação e com uma grande diferença entre níveis, o parque se comporta como um grande espaço de passagem, deixando de lado a permanência a qual o seu nome o propõe.
Os pontos de interesse do parque não estão propriamente desconectados, porém o sistema circulação existente não apresentam uma clareza de leitura dos espaços. O parque não sugere sua descoberta e tampouco espaços de encontro para a realização de diferentes atividades. As passagens e as conexões visuais se encontram ainda muito fechadas e escuras devido a grande quantidade de vegetação arbustiva existente.
A dificuldade em compreender o Parque do Mirante como um conjunto único, acaba criando espaços segregados sem nenhuma conexão visual nem funcional. Suas qualidades e valor patrimonial não são evidenciados e tampouco aproveitados pelos seus usuários, o que acabou por resultar em sua subutilização.
O projeto
A partir da análise das características do Parque do Mirante, foram definidas estratégias prioritárias: 1) estreitamento da relação parque e usuários, por meio de uma melhor conexão ao entorno, potencializando a relação dos usuários com o Rio Piracicaba, valorizando seus visuais; 2) implementação de programas que permitam maior tempo de permanência dos usuários no parque; 3) sempre articular as intervenções ao patrimônio existente (natural e construído), de maneira a valorizar sua importância histórica e cultural.
Para atingir as metas estabelecidas é necessário trabalhar com as barreiras existentes. Para tanto, foi proposto um desenho que cria novas possibilidades de circulação, transpondo as barreiras impostas pela topografia e articulando os espaços do parque por meio de elementos de hierarquização espacial.
Esses elementos apresentam dois propósitos principais: 1) convidar o usuário a contemplar as visuais do Parque do Mirante; 2) equilibrar a distribuição dos programas no espaço, encorajando os usuários a desfrutarem de toda a extensão do parque.
O Parque do Mirante possui uma importância em relação ao município bastante consolidada. Dessa forma, qualquer intervenção deve lidar com suas características de forma ponderada. Assim, a proposta procura preservar os aspectos de densidade vegetal, especialmente a partir das visuais de outros pontos do município (como a rua do porto), porém com pequenos gestos formais expressivos, que identifiquem a intervenção de maneira clara.
A distribuição de usos ao longo do parque foi elaborada de maneira a balancear as diferentes dinâmicas propostas. Dessa forma, buscou-se evitar a concentração em uma única área.
A partir de eixos, procurou-se misturar a morfologia do entorno com o Parque do Mirante, assim, as áreas lindeiras passam a dialogar com o entorno, convidando o usuário ao Parque do Mirante.
Dois eixos nascem da morfologia do entorno e convidam o usuário ao Rio Piracicaba, terminado em novos mirantes, que buscam um enquadramento das visuais, valorizando o patrimônio natural e construído da cidade.
De maneira a solucionar duas questões colocadas inicialmente, conexões entre os diversos níveis e valorizar a relação dos usuários com o Rio Piracicaba, foram propostos dois grandes eixos transversais ao parque. Estes surgem a partir da morfologia do entorno, e convidam o usuário a descobrir o parque e alcançar o rio Piracicaba. Estes eixos fazem as transições verticais, criam uma hierarquia visual e estruturam a circulação dos pedestres. Estes eixos possuem em suas extremidades junto ao rio caixas de concreto que emolduram as visuais, reforçando a vocação de mirante do parque (o primeiro emoldura a margem oposta do rio, enquanto o segundo o salto do rio Piracicaba).
A inserção destes elementos construídos dialoga com os mirantes existentes, porém procuram enfatizar que a intervenção proposta é feita em um momento diferente da história do parque.
O terceiro eixo é definido pela Avenida Maurice Alain. Atualmente, a avenida, em conjunto com o talude que liga à Rua Maria Manieiro, cria uma barreira entre a cidade e o parque. Com o objetivo de valorizar a circulação de pedestres e conectar a cidade ao parque, a avenida deixa de ser uma via de automóveis e dá espaço ao pedestre. Ao longo deste novo eixo, que também conecta as extremidades longitudinais do Parque do Mirante, foram propostos estruturas que possam abrigar uma diversidade de usos (comercio, serviços, sanitários e centro de informações turísticas e até mesmo esportes), permitindo assim um uso diurno e noturno. Este novo eixo cria um grande espaço flexível, que pode ser utilizado para a realização de feiras, eventos de food trucks, festividades, etc.
Outro elemento de reconfiguração espacial do parque é a praça central, Localizada na extremidade nordeste do parque. Este espaço abriga uma praça mais aberta, divida em três níveis. Estes desníveis são resolvidos por meio de escadas e arquibancadas, que criam uma liberdade de apropriação do espaço público pela população, seja para apresentações ao ar livre, área de descanso, etc. Diferentemente do restante do parque, aqui não há caminhos definidos, cria-se um grande espaço de estar e convivência. De maneira a otimizar o uso do espaço e ampliar a praça, foi proposto a concentração dos programas do NEA, Aquário Municipal, Administração e Manutenção do Parque e Restaurante em um único edifício.
Por fim, a relação direta com as águas do Rio Piracicaba é proposta por meio da aproximação da população ao rio. Por meio de uma passarela de concreto construída entre as pedras do Rio Piracicaba, o Parque do Mirante e o Engenho são interligados, e o usuário pode caminhar e ter novas visuais, onde o mirante passa a ser o rio. Esta passarela é suscetível às mudanças de nível do rio, ou seja, passa a ser parte do rio.