-
Arquitetos: Toni Girones
- Área: 3615 m²
- Ano: 2012
-
Fotografias:Aitor Estevez, Antonio Cayuelas
Descrição enviada pela equipe de projeto. Em janeiro de 2007, os trabalhos para a construção de um dos encanamentos da rede de irrigação do sistema Segarra-Garrigues provocaram a aparição inesperada dos restos de uma construção pré-histórica de 4800 anos, no município de Seró (Artesa de Segre, Lleida). O fato mais excepcional deste descobrimento foi o caráter megalítico das lajes de pedra, e especialmente sua profusa decoração geométrica esculpida em alto relevo. Lajes que, por sua vez, são os fragmentos das antigas estátuas reaproveitadas de um monumento escultórico anterior.
Os terrenos de duas hortas abandonadas junto a praça da báscula do povo delimitam o lugar onde se projeta e constrói um pequeno equipamento cultural multiuso. Uma construção feita com materiais simples próprios da região. Uma sucessão de rampas suaves com limites leves e elásticos de aço corrugado sugerem o percurso e escalam as diferentes condições do espaço público projetado... a plataforma de barro entre a praça e o horizonte, o plano em balanço como mirante sobre as estátuas onde está a área do descobrimento, o espaço percorrido através da orientação oeste de inverno e cobertura vegetal no verão, os lugares para se sentar feitos com pedras recicladas do muro de uma das hortas, pavimentos porosos e drenantes que oferecem inércia térmica à cobertura e também acolhem as paisagens próprias de cada estação, as sombras dos dois armazéns revitalizados...e a memória do antigo pomar com o aparecimento espontâneo da acelga são alguns dos principais elementos do projeto. No interior, o espaço do vinho oferece os produtos das cooperativas locais e também funciona como bar.
Somado a isto, existem também uma sala polivalente que alterna o uso cotidiano como centro social com a introdução aos conteúdos de um espaço museológico onde se documenta o achado e onde estão as peças da tumba megalítica. Finalmente, iniciamos o trânsito até as milenares colunas, um percurso em espiral quadrangular com uma inclinação quase imperceptível, rodeado por peças cerâmicas que permitem a passagem da luz, ar, cheiro do campo, neblina... diminuindo a intensidade lumínica, o revestimento de cerâmica se desintegra até chegar a câmara. Ali a luz zenital direciona o olhar sobre a superfície gravada de cada uma das pedras, parênteses de tempo em um silêncio de contemplação precisa em um plano horizontal de barro que mostra a marca que cada visitante deixa no local. Tranquilamente, e em sentido inverso, iniciamos a saída sem a possibilidade de encontrarmos outras pessoas... pouco a pouco, se intensificam a luz e os sons, até que o horizonte de um campo de trigo aparece e assim retornamos às paisagens agrícolas próprias da região.