Competição:Concurso Nacional Parque do Mirante de Piracicaba
Premio:
Projeto:
Autores:Ravaglia & Philot + Bruno Amadei, Isadora Riker, Liebert Rodrigues, Luisa Gonçalves, Miguel Viñas, 2014
Apresentamos a seguir a proposta de Ravaglia & Philot + Bruno Amadei, Isadora Riker, Liebert Rodrigues, Luisa Gonçalves e Miguel Viñas para o concurso Parque do Mirante de Piracicaba. Leia a seguir a descrição do projeto pelos autores.
Dos arquitetos: O Rio Piracicaba, maior afluente do Tietê, configura-se como um organismo de constante mutação e fonte inesgotável de dinamismo, servindo durante séculos como vetor de atração para o estabelecimento de povoamentos e criação de núcleos urbanos. É neste contexto que se insere o Parque do Mirante, equipamento público objeto da presente proposta.
A atual área do parque tem em suas origens uma propriedada privada, originalmente doada para uso público por seu proprietário, um Barão. A apropriação deste recorte em vias de transição urbano-rural culmina na construção de um mirante em estilo neoclássico, lembrado como elemento de identidade local. Na década de 1960 o mirante é demolido e o parque recebe uma remodelação de partido alinhado com os ideais modernistas, configuração que permanece até o os dias atuais.
A partir de 1980 o parque entra em processo de degradação progressiva, causado por um cenário complexo que envolve acessos inadequados, um entorno pouco diversificado, ausência de atrativos e falhas na segurança pública.
Frente a um novo ciclo de mudanças que se coloca, a proposta para o concurso Parque do Mirante visa recuperar seu protagonismo na reconciliação da cidade de Piracicaba com o rio e suas margens.
Como forma de incentivar a cultura da bicicleta, é proposta uma ciclorrota que conecta o Centro ao entorno do Parque do Mirante e Engenho Central, além de estações de bicicletas públicas ao longo de seu percurso. Portanto, a acessibilidade do Parque do Mirante de insere em uma malha cicloviária mais ampla, que atende tanto a demanda do cotidiano como a turística.
Estratégia Projetual
A presente estratégia para revitalização do Parque do Mirante teve como premissa principal o baixo impacto, considerando a oferta orçamentária limitada e o tombamento vigente sobre o equipamento. O parque ainda apresenta uma série de elementos de fácil reconhecimento e de alto valor afetivo, tais como a Fonte e a Marquise, a balaustrada, uma unidade do Núcleo de Educação Ambiental, um Aquário público, os mirantes existentes e a própria vegetação nativa. Reconhecer tais equipamentos, investigar suas relações funcionais e transformá-las torna-se fundamental para a compreensão das dimensões e escalas humanas necessárias à reconciliação entre Rio e cidade.
Deve-se interpretar a margem do rio como legítimo espaço público, e para estimular a apropriação são propostos módulos versáteis a serem distribuídos pelo parque, que podem receber e dar suporte às diversas atividades solicitadas pelos moradores: lanchonete, feira, espaços de estar, além de servir como apoio a atividades desenvolvidas pelo NEA. Por serem móveis e leves, facilitam a ocupação do parque sem descaracterizar o patrimônio tombado. Complementar e coerente com a proposta, também é apresentada uma alternativa de mobiliário modular a ser espalhado pelo parque.
Intervenções
1. Acessos: Novas passarelas criam eixos transversais de acesso às áreas mais baixas do parque, melhorando a acessibilidade do conjunto. Em estrutura metálica esbelta, com poucos apoios no solo, as passarelas constituem uma adição que não descaracteriza o traçado dos canteiros e se adapta à estrutura arbórea existente. A pavimentação geral é reformulada, para melhorar a acessibilidade e circulação: propõe-se novos revestimentos e adoção de iluminação direcional inferior. A balaustrada é requalificada com a adição de um novo parapeito em madeira. A Av. Dr. Maurice Allain recebe novas atividades, convidando o visitante a adentrar o parque. A remodelação das pistas de acesso contempla, em co-existência: uma faixa de estacionamento, uma faixa de circulação de veículos, uma ciclovia e uma faixa peatonal, onde módulos serão alocados para diversas atividade, como feiras permanentes e pontos de alimentação. O canteiro central existente configura uma barreira visual e espacial. A abertura de caminhos entre a vegetação existente traz permeabilidade ao parque, integrado-o ao seu entorno direto. A conexão entre o Parque do Mirante e o Engenho Central dá-se através de uma ponte em estrutura metálica, vencendo o desnível, proporcionando uma nova visada do véu-da-noiva e adaptando-se à topografia existente.
2. Sinalização: uma nova comunicação visual é desenvolvida, implantando totens que comunicam e informam pontos notáveis, como o mural de Clemência Pizzigatti. Os totens servem como pontos de wifi, possibilitando o download do app com mapas, guias e informações sobre os pontos de interesse. Também servirão como painéis expositivos da história do parque. Os pórticos demarcam as entradas do parque de forma clara, destacando os serviços ali oferecidos.
3. Mirantes: não apenas mirantes, estes espaços serão reativados e receberão módulos com as mais diversas atividades. A nova pavimentação e iluminação de piso unificará e diferenciará o tratamento dado aos mirantes, consolidando espaços privilegiados de permanência à beira-rio.
4. Deck: no nível mais próximo do leito do rio, o novo deck proporciona intensa aproximação com o ambiente, através de novas visadas e explorando o caráter de pertencimento e identidade com sua história. Trechos de célebres canções e versos de poemas que falam do Rio Piracicaba são impressos em determinados percursos do parque. Explorando a memória de Piracicaba, o Parque torna-se lugar para mirar o presente e se recordar daquilo que o rio um dia já foi.
5. Módulos: estruturas flexíveis e desmontáveis, variando de tamanho e quantidade conforme o programa e orçamento, se adaptando à geometria de cada mirante e trazendo novas atividades. Respondendo em grande parte as sugestões dos usuarios, os módulos abrigariam diversos usos, como por exemplo: banca de feira, lanchonete, academia da terceita idade, guarita de segurança, salas de aula externas, banheiro público, centro de atendimento ao turista, espaços expositivos do NEA e Aquário. Mobiliário: assim como os módulos, o mobiliário proposto configura-se em unidades móveis e com diversas possibilidades de combinação, permitindo assim a ocupação dos espaços públicos do parque de maneira livre.
6. Cultura e patrimônio: os elementos protegidos permanecem, seu entorno é requalificado para incentivar a permanência do visitante. Com a reforma dos pisos e parapeitos, além da sinalização, podemos criar novas maneiras de aproximação com os elementos de identidade cultural e símbolo da resistência local, como mural em mosaio, além da fonte e os mirantes. Fonte e Marquise: O conjunto marquise e fonte se torna interativo: a fonte é requalificada, estimulando o contato entre visitante e microclima através de pequenas plataformas, sugerindo um novo percurso pelo espelho d’água.
7. Memória: de grande importância para o parque, o mirante neoclássico que ali existia foi demolido e deixou um vazio no afeto coletivo. Em seu local original, propõe-se uma estrutura escultórica em aço com iluminação embutida, evocando o contorno anterior do mirante. Através e dentro do mirante: o visitante observa e reconstói simbolicamente a paisagem.