Pavilhão Desportivo
Despindo e reinterpretando um material pobre, imperfeito e geológico, para representar, de forma definitiva, uma cobertura de proteção quase de papel sob um estado de tensão e leveza onde a luz se infiltra e emana ao mesmo tempo. Surge um lugar místico e cavernoso que conecta, através da experiência, a identidade local do território com o esporte coletivo.
Autossustentabilidade: Paisagem como vínculo coletivo
A terra, e de uma forma mais precisa, a geologia, constitui para os guevejerenhos um significado de identidade de grande importância, não somente como o meio rural de subsistência do passado, mas como um elemento bastante presente em sua memória coletiva repleta de lembranças devastadoras como a destruição em duas ocasiões deste núcleo rural devido ao movimento das placas tectônicas: o terremoto de Lisboa em 1774 e o de Andalucía em 1884.
A autossustentabilidade da arquitetura pública proposta reside, em grande parte, em sua capacidade de se conectar com os habitantes como parte da paisagem local descrita e vivida em sua memória, de forma que desencadeia um vínculo de propriedade indissociável com o mesmo, capaz de fazer emergir a ética do respeito e proteção.
A interpretação da geologia argilosa do terreno constituirá no elemento de referência presente na paisagem local, capaz de modelar de forma cavernosa os espaços de trânsito entre o interior-exterior e os dedicados à prática esportiva, construindo um episódio repleto de significados na memória inconsciente dos usuários. O projeto contou com um processo criativo aberto ao público, uma metodologia que tem pretendido não somente uma maior aproximação ativa entre técnicos, públicos, coletivos e cidadãos para entender de uma forma mais estreita as demandas e hábitos, além de um reforço do vínculo entre cidadãos e a paisagem.
Diálogo entre natureza e artifício
O local público contemporâneo exige uma forma de vida intensa, uma arquitetura que consiga fazer confluir uma mistura maior de propósitos e atenções diferentes. As paredes envolventes, emergências geológicas da paisagem, convivem com novos elementos tecnológicos significativos de sua época para complementar o novo volume espacial. Uma lâmina curvada de aspecto metálico, autônoma e leve como uma folha de papel, parece pousar mediante um gesto mínimo sobre a natureza argilosa, dotando de proteção necessária a prática esportiva em todas as épocas do ano. A sensação de claridade e leveza deste elemento exótico à paisagem, é reforçada através de uma linha perimetral de luz que atua como junta de união, escondendo seus apoios e permitindo uma iluminação permanente, mística e cambiante em diferentes horas do dia.
No espaço interior, um elemento claramente revestido em madeira natural habita o espaço central semi-circular, contendo certos elementos tecnológicos como o elevador, redes de instalações e grades retráteis que facilitam um uso mais versátil do espaço e se encarrega de articular as circulações entre usuários e espectadores. Os primeiros percorrem o pavimento térreo por galerias comprimidas, semi-escuras e profundas, que convertem o percurso desde os vestiários até a quadra central em um trânsito preparatório de introversão e autoconsciência até subir ao grande volume central luminoso ou ao restante de quadras esportivas no exterior. Os espectadores, ao contrário, são conduzidos até um percurso visual elevado que permite reforçar a percepção das qualidades materiais, espaciais e luminosas do espaço esportivo central.