- Área: 1500 m²
- Ano: 2013
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Fotografias:Federico Kulekdjian
Descrição enviada pela equipe de projeto. Os projetos que estamos desenvolvendo no morro da baleia, última montanha do maciço brasileiro antes de submergir-se ao mar, representam um grande desafio, respeito ao capital excedente e seu impacto sobre o território.
Nossa região transita em uma dessa épocas de crescimento cíclico, e ali é justamente onde a arquitetura deve assumir, do melhor modo possível, estas operações de geração de renda que urbanizam o território. A Baleia é um local de extrema beleza, na dimensão oceânica da baia de Maldonado, e sua condição de desfiladeiro está profundamente instalada na memória coletiva.
Construir um edifício ali, significou um desafio, em términos de escolha das estratégias projetuais que de algum modo assumiram a alteração desta condição, produzindo uma operação que honraria tal pré-existência.
O projeto atravessou ambas noções que esta apresentação manifesta;
Em primeiro lugar, o código que regulava a construção no desfiladeiro é o mesmo que regulamenta a construção da orla marítima, o que entendemos errado: as estratégias para não criar uma orla marítima contínua entre o tecido urbano e o mar não eram recomendáveis aqui, dado ao fato de que a malha urbana, diferentemente do caso anterior, está entre a rua pública e o mar, e usar as mesmas estratégias, poderia obstruir a maravilhosa vista, patrimônio coletivo.
Ir em busca desta legitimidade do local, nos fez questionar a legalidade do código, colocando em risco os investimentos ao solicitar mudança nas normas, não para maximizar os indicadores, mas sim para ir em busca das melhores condições para a antropização do local que entendíamos como menos prejudicial.
Uma vez obtida esta nova condição, as decisões do projeto edílico deveriam manifestar a dimensão e a condição do local, nesta ideia de natureza, geografia e lugar, em seu mais profundo sentido, como primeira arquitetura.
O sistema das moradias foi pensado com a criação de espaços na lógica da inclinação, entre um solo rochoso e uma cobertura tectônica que recuperam a condição vegetal pré-existente.
Qualquer decisão de escala sobre o projeto deveria priorizar os elementos sugeridos pela paisagem diante da possibilidade de colocar em evidência a escala humana: as proporções dos elementos vêm desta dimensão e uma porta ou janela são alterações de ritmo do material nesta escala mais além do que permitir passar pessoas ou luz.
A materialidade do edifício busca reutilizar o material removido na obra, ressignificando a pedra suporte da inclinação e recriando em coberturas e limites a vegetação que naturalmente retoma o prédio, acostumada a viver com escassez de água e fortes ventos. Ventos que na sua habitualidade são tomados pelo projeto no seu corte, e nos pátios, que permitem o surgimento de ventilações duplas e proteção.
Diferentemente do que indicam as regras do mercado imobiliário, nos parece valioso ter projetado um edifício que não é facilmente reconhecível, que ainda assumindo todas as necessidades deste tipo de empreendimento, na sua vocação de desfiladeiro, se integra como uma reinterpretação da preexistência.
O projeto de arquitetura procura retomar a condição projetual clássica que neste local instalaram referências como Bonet e Amato, assumindo complementarmente a nova dimensão que a época propõe, integrando razão e natureza, buscando, como sempre, que a arquitetura assuma os desafios da sua época e seu lugar.