- Área: 685 m²
- Ano: 2013
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Fotografias:Tácito Carvalho e Silva
Descrição enviada pela equipe de projeto. Na implantação da casa (feita em dois lotes unificados e de esquina), a disposição dos espaços foi feita para melhor aproveitamento da ventilação natural, coordenação e harmonização da luz, gerando uma casa alegre e ensolarada em que estudamos os conceitos de evanescência e luminescência. Trabalhamos com o movimento, a transitoriedade da luz e sombra (evanescência), externa e internamente, que transforma os ambientes de acordo com a passagem do tempo, durante o dia ou nas diferentes estações do ano.
Para receber os amigos, os filhos e netos do casal, a casa foi concebida com espaços flexíveis, envolventes, generosos e grandes vãos, pelos quais é possível a total integração dos espaços, quando desejado, ou então maior intimidade e reserva quando necessário, além de privacidade em relação à rua e aos vizinhos.
Dentro desses conceitos, logo na fachada principal, de acesso, a sudeste, somos recepcionados por planos e volumes cegos ou minimamente vazados que fazem a transição casa-rua e pela visão de uma empena cega, em destaque, toda revestida com cerâmica do artista plástico pernambucano Francisco Brennand. Na fachada frontal, as sombras projetam nos planos desenhos que se modificam no decorrer do dia.
Através da transição chegamos à porta principal e hall de entrada, que distribui o espaço: por um lado, para a sala de estar e sala de jantar, espaços que podem se integrar ao home theater e varanda com espaço gourmet, e de outro lado, para outro hall mais íntimo (hall2), o de acesso pela garagem disposta lateralmente ao terreno e que leva ao hall do elevador, escada de acesso ao andar superior e a um pátio central.
O pátio central interno tem seu pé-direito duplo, piso em ladrilho hidráulico (patchwork) e um jardim vertical numa das empenas. Tem, também, uma cobertura móvel, com estrutura em aço-corten e vidro automatizado que permite a total abertura do teto. Esse pátio é o ponto de encontro central, com lareira, e se integra aos espaços sociais todos passando pela sala de estar, de jantar, adega(refrigerada e totalmente revestida em madeira de demolição e porta com vidro duplo), bar, home theater e com a cozinha, que pode ser totalmente integrada a ele pelas portas de correr. Podemos desfrutar aí do som do espelho d’água e quando totalmente aberto, nos permite sentir o céu, de dia ou de noite, e saborear um vinho à luz da lua, as estrelas, com a lareira acesa no inverno, a refrescante brisa e agradável temperatura de um céu de primavera ou observar a chuva batendo no teto.
Através do elevador ou pela transição feita pela escada-passeio com vista para o pátio, passamos por um nicho com futton para descanso, leitura-estar, observação e contemplação tanto do caminho como do pátio, e sua possível abertura para o céu, ou então para a visão da laje-jardim ao leste sobre a garagem. Nesse nicho de descanso, escolhemos como material para o fechamento da janela-rasgo vertical o ônix, material luminescente, com sensibilidade aos raios solares, que transmite luz ao ser submetido ao seu estímulo e que banha em tons amarelados o ambiente.
Assim, chegamos na sala íntima, espaço no pavimento superior de estar com mini copa, televisão e escrivaninha e que se abre também para a paisagem externa. Da saleta chegamos à suíte do casal, com outro pequeno hall interno que distribui para o seu closet, os seus dois banhos interligados, o dormitório e a sua varanda. A suíte principal fica mais isolada para proporcionar maior privacidade em relação às outras três, utilizadas para recepção de amigos, filhos e netos. Todos os quartos e a sala íntima estão voltados para a face nordeste e escolhemos para o fechamento, venezianas de madeira com aletas móveis independentes para facilitarmos, internamente, o controle da ventilação e luz natural, que pode ser filtrada de acordo com a atmosfera desejada, ou seja, o uso delas possibilita escolher a quantidade de luz e de sombra que banha o ambiente nas diferentes estações, nos diferentes horários do dia, proporcionando experiências diversas de luz e sombra, exposição e privacidade.
Externamente, o uso dessa série de janelas de abrir ou correr proporcionam movimento e dinâmica à fachada, de acordo com o grau escolhido de fechamento das aletas ou da abertura que pode deixar o vão total ou parcialmente livre, criando novas e cambiantes paisagens internas e externas, proporcionando proteção ou visão e integração total com a paisagem.
A luz artificial, noturna, também foi estudada para gerar maior conforto, intimidade ou expansão e dinâmica para a fachada, enfim, para gerar cenários variados.
No pavimento térreo ainda, a nordeste, temos uma grande varanda-estar onde fica a churrasqueira, o espaço gourmet, todo equipado para o convívio e recepção é integrado a área social e também, com acesso através da varanda para o vestiário e a cozinha.
O spa, o deck em madeira de demolição, o jardim, com as primaveras coloridas, a pitangueira e uma jabuticabeira generosas ficam no quintal, o qual pode ser visto da grande varanda-estar em toda fachada nordeste e o jardim acessado por uma escada em pedra (por onde corre em seus degraus um filete de água retornável e sonora) para acomodar o desnível do terreno.
Estudamos também a relação com a luz, pois a maneira como ela banha os diferentes materiais como a madeira (de demolição ou não), o mármore, o ônix, a pedra, os porcelanatos, o ladrilho hidráulico, os tijolos, o aço-corten, o painel cerâmico, suas espessuras mais grossas ou mais finas, as diferentes texturas, mais rústicas ou mais lisas e acetinadas, suas superfícies transparentes e sensíveis à luz (luminescentes) ou não e a maneira como o som reverbera através de cada material altera nossa percepção e como tudo isso nos envolve e nos toca.
Através da compatibilização de todos os projetos envolvidos e do meticuloso detalhamento, pudemos chegar à execução dessa obra, onde o olhar pode se ater a cada uma das particularidades e dos detalhes construídos cuidadosamente, desde a ordenação de cada peça de cerâmica disposta no grande painel principal, à maneira como desenvolvemos e harmonizamos os encontros de todos os materiais e os usos de cada espaço.