Lina Bo Bardi faria 100 anos em 05 de dezembro de 2014. A arquiteta italiana, naturalizada brasileira, viveu na Casa de Vidro, no Morumbi, em São Paulo de 1952 até 1992, quando faleceu.
A Casa de Vidro, primeira obra construída da arquiteta, é o cenário da exposição Lina em Casa: Percursos,de 12 de abril a 19 de julho de 2015, que integra a programação de atividades relacionadas ao centenário de nascimento da artista, iniciado em agosto de 2014 e estendendo-se até julho deste ano.
A exposição, com o apoio da Secretaria da Cultura do Governo do Estado de São Paulo e patrocínio da Petrobrás, tem curadoria do professor do IAU-USP Renato Anelli e da museóloga Anna Carboncini e apresenta um recorte inédito a partir do acervo do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi destacando a contribuição de Lina para a arquitetura, seu alinhamento com as revisões dos projetos desenvolvimentista e modernista no Brasil dos anos 1970 e 80.
Mais do que apresentar a já consagrada produção da arquiteta, Lina em Casa: Percursos é uma mostra reflexiva sobre sua construção intelectual e política, demonstrada em modo de vida único.
A curadoria buscou apresentar na Exposição aspectos únicos e marcantes do universo Lina. Nesse sentido, reúne indícios de como suas posições e ideias se transformaram no Brasil, a partir de leituras, viagens, relações pessoais e trechos de correspondência, abrindo novas possibilidades para futuras pesquisas.
O principal mote da exposição é traçar o caminho pelo qual a arquiteta atinge a posição sintonizada com o pensamento brasileiro mais radical e propositivo dos anos 1970:
“Não existem homens absolutamente incultos, a linguagem do povo não é sua pronúncia errada, mas sua maneira de construir o pensamento. Ver pode ajudar a ver, a despertar uma natural consciência, e adquirir consciência é politizar-se, decodificar a linguagem visual reduzida a situações existenciais. Ainda que o método é aquele do analfabeto.” Lina Bo Bardi, 1973.
Seguindo este raciocínio, a mostra ressalta aspectos da obra de Lina ainda pouco conhecidos do público em geral, como por exemplo a crítica ao design e ao planejamento urbano e sua aproximação ao discurso ecológico e ambiental. Tanto sua arquitetura, quanto seu desenho de objetos desenvolveram, gradualmente uma maior aproximação ao ambiente natural, como já expresso em 1958:
“Uma arquitetura natural (...) não limitada a priori, uma arquitetura ‘aberta’ que aceita a natureza, que se aproxima com cautela, que procura mimetizar-se com ela, como um organismo vivo, uma arquitetura que chega a assumir algumas vezes forma de quase mimetismo, tal como uma iguana sobre pedras ao sol”, Lina Bo Bardi, 1958
Parte do reconhecimento da importância de seu trabalho pode ser demonstrado pela quantidade e relevância das mostras ao redor do mundo, das quais se destacam as exposições ‘Lina Bo Bardi 100: Brazil's aternative path to modernism’, na Pinacoteca Moderna de Munique; ‘Quello che volevo, era avere Storia’, no MAXXI Museu nacional das artes do século XXI em Roma; ‘Maneiras de expor: arquitetura expositiva de Lina Bo Bardi’, no Museu da Casa Brasileira, ‘A Arquitetura Política de Lina Bo Bardi’ e ‘Lina Gráfica, ambas no SESC Pompéia, além de uma grande participação na exposição ‘Latin America in Construction: Architecture 1955-1980’, no MOMA em Nova York; em São Paulo - todas elas com incentivo e suporte do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi.
No início deste ano, Lina Bo Bardi foi homenageada pela cidade de São Paulo com a Medalha 25 de Janeiro, juntamente com os arquitetos Paulo Mendes Rocha e João Batista Vilanova Artigas, por mudarem a cara de São Paulo e por pensarem uma cidade mais democrática e mais comunitária. Ao entregar a medalha, o prefeito Fernando Haddad afirmou que São Paulo é a casa de toda a população paulistana e fez um convite à revalorização do espaço urbano.
Em Lina em Casa: Percursos algumas das relações pessoais, afetivas e políticas da artista serão apresentadas através das trocas de cartas com personalidades como Odorico Tavares ( jornalista e poeta baiano), Lavínia Magalhães (esposa do governador da Bahia Juracy Magalhães), o economista Celso Furtado, o historiador de arquitetura Bruno Zevi, o arquiteto Flávio Império e com o marido Pietro Maria Bardi.
O núcleo audiovisual da mostra conta ainda com depoimentos, referências de trabalhos, entrevistas, palestras e documentos que constroem uma narrativa sobre seu pensamento e suas relações afetivas no campo intelectual e política. Também estão presentes neste segmento, vídeos documentais sobre as colaborações da artista na cinematografia e dramaturgia brasileiras, como por exemplo os figurinos em “A Compadecida” (1969), dirigido por Jorge Jonas e a direção de arte em “Prata Palomares” (1971), dirigido por André Faria, além das peças “Gracias Señor” (1972) e “Selva das Cidades” (1969) de Bertold Brecht, ambas dirigidas por José Celso Martinez Corrêa.
A Casa de Vidro, um dos marcos internacionais da arquitetura moderna em São Paulo, abriga a exposição, oferecendo a atmosfera da residência em que Lina e Pietro viveram por 40 anos. Além disso, a casa abriga o acervo profissional e pessoal do casal, organizado com apoio da FAPESP, Petrobras e CEF, e composto por desenhos, fotos, documentos e objetos de arte que vêm sendo usado nas exposições.
Lina em Casa: Percursos apresenta vários documentos desse acervo, alguns ainda inéditos como fotografias do cotidiano na casa, registros de viagens, anotações em diários e livros da biblioteca. Objetos de arte popular da exposição Nordeste e um desenho original de Le Corbusier também serão apresentados. A exposição revela que o acervo transcende o aspecto pessoal, pois carrega o raro testemunho de dedicação e generosidade para com o povo brasileiro.
Com o intuito de desvendar o processo de desenvolvimento das principais concepções de arte, arquitetura e cultura ao longo de sua vida no Brasil, a apresentação da exposição Lina em Casa: Percursos se dará com sua trajetória classificada em cinco períodos, expostos de forma não linear. Inicia-se com os anos que viveu a guerra na Itália, passa pelos primeiros anos em São Paulo, quando através do MASP e do Instituto de Arte Contemporânea procuram intervir no processo de desenvolvimento industrial brasileiro. A partir de 1959 enfoca o período que viveu e atuou em Salvador na construção do MAM-BA e no reconhecimento da cultura popular nordestina, que chamaria de “civilização da sobrevivência”. Após 1964 Lina retorna a São Paulo, dedicando-se à conclusão da construção da sede do MASP na Av. Paulista e a poucos trabalhos de cenografia, período de resguardo e revisão intelectual crítica. Por último a exposição aponta a partir do final da década de 1970 os projetos onde pode experimentar as novas posições que desenvolvera: a Igreja do Espírito Santo do Cerrado e o SESC Pompéia.
LINA EM CASA: PERCURSOS
- Data: 12 de abril a 19 de julho de 2015.
- Visitação: De quinta-feira a domingo, das 10h às 16h30 (entrada até 16h) – aberto nos feriados de 1° de maio e Corpus Christi, em 4 de junho.
- Valor: gratuito
- Local: Casa de Vidro - Rua General Almério de Moura, 200 – Morumbi- São Paulo-SP - Brasil
Ficha técnica
- Realização: Instituto Lina e P.M. Bardi
- Curadoria: Anna Carboncini e Renato Anelli
- Organização: in.vertice comunicação e arte
- Projeto Expográfico: Marina Correia
- Identidade visual e projeto gráfico: Luciana Facchini
- Produção: TZM Entretenimento
- Cenografia e montagem: Estúdio Móbile Cenografia e Design
- Produção e edição de vídeo: Estúdio Zut
- Assessoria de imprensa: Cinnamon Comunicação
- Maquete: Laboratório de Modelos do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
Título
Exposição “Lina em Casa: Percursos”Website
Organizadores
De
12 de Abril de 2015 10:00 AMAté
19 de Julho de 2015 04:30 PMOnde
Casa de VidroEndereço
Rua General Almério de Moura, 200 - Vila Tramontano, São Paulo - SP, 05690-080, Brasil