- Ano: 2014
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Fotografias:Arménio Teixeira
Descrição enviada pela equipe de projeto. Projeto de reabilitação do edifício Cinema Olympia (conhecido, desde a década de 90, por Bingo Olympia) em restaurante e discoteca de luxo.
Desenhar uma discoteca assusta, pode ser perverso. As exigências do público e o objectivo do cliente é inverso a muito daquilo em que acredito na arquitetura. As keywords são: diversão, vaidade, excesso, fantasia e representação à procura de legitimidade. Talvez como defendia A. Loos, austeridade e delito possam coexistir, dependendo do estado crítico da consciência sobre os factos e a sua adequada resolução. Fui ler.
O Cinema Olympia foi inaugurado em 1912, as notícias anunciavam “instalações modelares, elegantes e luxuosíssimas”. Ao longo dos seus 100 anos de existência foi alvo de diversas utilizações e alterações aos seus interiores, restando apenas a fachada original. Nos anos 80 deixou de ser cinema e transformou‐se em espaço de jogo. Nessa altura sofreu uma profunda intervenção, perdendo definitivamente as qualidades da ampla sala e a riqueza ornamental descrita nos documentos históricos. Quando iniciamos o projeto, confrontamo‐nos com um interior anônimo e sem valor patrimonial.
A alteração de utilização do edifício como restaurante/club preserva a arquitetura. Restauramos a fachada original, eliminamos as adições descaracterizadoras e adaptamos os seus interiores às exigências técnicas da nova utilização.
Proposta de alteração:
1. Deslocalização de uma escada;
2. Criação de sanitários públicos (1º andar) e de sanitários de total mobilidade;
3. Divisão do espaço contínuo em duas salas – piso 0 e piso 1.
Proposta de reabilitação:
1. Concepção de mobiliário estruturante (bar e cabine de DJ), fixo (camarotes) e móvel (candeeiros, cadeiras, mesas,…);
2. Substituição e adição de novos revestimentos de paredes e tectos, forçada por exigências de tratamento acústico;
3. Substituição de iluminação e decoração.
O edifico desenvolve‐se em de 3 pisos, 2 pisos acima da cota de rua e 1 piso abaixo. O piso térreo e o primeiro andar são abertos ao público. O piso térreo é dedicado à restauração e fora de horas à dança. O primeiro andar é ocupado pela administração, clubbing privado e eventos.
O pedido insistente de decoração, formas e cores temáticas foram contornadas pela proposta de um único revestimento de parede contínuo, com forma, luz e cor.
No centro das nossas preocupações residia uma dúvida: Como materializar a resposta aos altos padrões de exigências acústicas, de segurança e de resistência e durabilidade dos materiais?
Uma casca em chapa de aço, sulcada pela luz – programação RGB de Led – reveste o sistema de absorção acústica aplicado sobre as paredes exteriores. A densidade da chapa de ferro e os cortes na parede de chapa auxiliam à absorção acústica ‐ ajudou a A. Loos!
Pelo espaço uma flor constrói os diversos tectos de diferentes formas. As portas exteriores foram acolchoadas. A fachada, relativamente bem conservada, foi alvo de uma limpeza, reconstituição pontual de rebocos desagregados e pintura.
Tendo como referência a Rua Passos Manuel, optamos pela utilização de uma gama de cinzas claros, bem sedimentados nesta paisagem urbana, devolvendo ao Olympia a sua singularidade e destacando‐o dos tons ocres que o fundiam com o Coliseu.