- Ano: 2014
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Fotografias:Thomas Mayer
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto trata-se de uma escultura de aço em meio a uma escombreira de carvão junto a rodovia A57. O terreno possui 16 metros de profundidade, 14 de largura e 10 metros de altura e é um ponto de referência, um lugar tranquilo e uma referência histórica. Ele é também o espaço principal da Universidade Open Air, um programa educativo do Observatorium.
Projetar o que está ali
O vazio e o silêncio são difíceis de desenhar. Quando possível, o Observatorium incorpora estas características no desenho através de três formas: não fazer nada, protegê-las e torná-las visíveis.
Panorama
Quando estas qualidades estão presentes, o desenho deve tratar de protegê-las. É importante levar em conta o mistério e a perfeição que possui um espaço não desenhado. Para uma instalação recreativa incipiente, para um bairro que está sujeito a acontecimentos econômicos importantes e, sobretudo, para uma região onde as centrais elétricas enormes misturam-se com residências históricas, o edifício incompleto é um símbolo de mudança e otimismo.
O projeto emoldura o esplêndido panorama e confere ao grande planalto uma identidade inequívoca. Apesar das excessivas aberturas, a escultura é entendida como um espaço interior com janelas. A sutil mistura de sanidade e blasfêmia que todos os grandes celeiros possuem é mais evidente aqui, devido a configuração como a da Acrópoles.
História Agradável
Em Berlim,os preparativos para a exposição Autorenwerkstatt do Observatorium foram interrompidos por uma visita anunciada de Marie Cathleen Haff, um membro pessoal da embaixada holandesa. Ela pediu informação e utilizou algumas das diapositivas do Observatorium para ilustrar uma conferência sobre arte contemporânea nos Países Baixos. Mais tarde se inteirou do desenho do Observatorium Nieuw Terbregge, e incluiu um artigo a respeito em uma publicação da embaixada sobre arquitetura da paisagem contemporânea holandesa. Também foi responsável por colocar o Observatorium em contato com Thies Schröder, um organizador de simpósios e editor de publicações sobre arquitetura da paisagem.
Schröder convidou o Observatorium a participar de uma mesa redonda em Potsdam. Inclusive, antes do começo do debate, Andre Dekker e o Prof. Hinnerk Wehberg entraram em uma animada discussão. O professor terminou o dia sugerindo ao Observatorium: "E se organizássemos um concurso?". Dois anos depois a equipe do WES & Partner, um grande escritório de arquitetura de paisagem de Hamburgo, e outros colaboradores ganharam um projeto enorme de remodelação da paisagem na região da reurbanização do Ruhr.
Escombreira
Halde Norddeutschland é um planalto de 80 metros de altura e 100 hectares de superfície. Esta relíquia da indústria da mineração do carvão foi designada como um nó na rede de instalações esportivas e recreativas na paisagem de Niederrhein para a população do Ruhr. O fechamento das minas de carvão causou um considerável desemprego em Niederrhein, situada entre a bacia do Ruhr e a fronteira com a Holanda. O urbanista Thomas Sievert, conhecido por criar o termo Zwischenstadt (que refere-se a um extenso desenvolvimento de estilo incoerente que não é nem cidade e nem campo), elaborou um plano para promover o desenvolvimento do ócio na área: Landschaftspark Niederrhein.
Halde Norddeutschland é uma atração central dentro deste plano. Trata-se de uma área de parque adequada para caminhar, pedalar, parapente, esportes equestres e muito mais. Também está destinada a atrair os investimentos em serviços recreativos. Os objetivos principais do projeto foram três: a integração da escombreira com a paisagem, o desenvolvimento de uma instalação recreativa (que geraria muitos novos trabalhos) e a criação da paisagem.
Montanha do Silêncio
WES & Partner e Observatorium participaram do concurso de desenho e estavam tão impressionados com o potencial paisagístico da escombreira que escolheram Kein Remmidemmi (acabar com o ruído) como um lema para seu projeto. A escombreira não deve converter-se em um pedestal para a indústria do ócio, mas sim ser um lugar para a contemplação.Se a construção devia ter lugar ali, então deveria se algo para os monges e pessoas que procuram a tranquilidade. Em vez de utilizar a fachada para construir tobogãs e restaurantes, os arquitetos visualizaram um monastério com um pátio central. WES & Partner encontraram uma comunidade monástica cujos membros estavam abertos a relocação, e fizeram tudo para convencer o jurado da importância da paz, da tranquilidade e do bem-estar. Marcaram os cursos fluviais desaparecidos ao redor do planalto com grandes círculos de árvores e desenharam um monumento, o Himmelsleiter (a escada de Jacob).
O Observatorium desenhou um marco para a localização. O projeto ganhou o primeiro prêmio, mas teve de ser adaptado rapidamente a realidade de uma economia em declive. Provisionalmente, o orçamento estava disponível somente para o obelisco, um estacionamento e a Escada de Jacob. A ideia para o obelisco nasceu quando os artistas leram Espaços de Silêncio, um livro sobre a história dos celeiros pelo fotógrafo Malcolm Kirk. Uma foto em particular atraiu seu interesse - a montagem do Celeiro Deertz em uma colina no norte do estado de Nova Iorque. O espaço criado pelo esqueleto de madeira do celeiro trazia a sensação espacial de um templo ou catedral. Imigrantes pioneiros holandeses e alemães nos EUA desenvolveram entre eles um novo tipo de celeiro que mesclou suas duas tradições.
O "celeiro holandês" resultante baseia-se em uma espécie habitação rural com um interior único, sem divisões, que também aparece no leste dos Países Baixos, e na Hallenhaus (casa-sala) da Baixa Saxônica, na Alemanha, que se caracteriza pela divisão em um hall central e duas alas laterais. A casa-sala é uma variante de um antigo tipo de arquitetura que se desenvolveu no curso da história em um edifício prático para a agricultura, indústria e residência e também utilizado para fins eclesiásticos. A casa-sala normalmente possuía três usos: armazenamento de grãos, de gado e moradia para a família campesina.
Um celeiro holandês na Alemanha
A escultura Hallenhaus consiste em vigas de aço e é completamente desmontável. Cada elemento da composição consta de doze vigas leves que podem ser retiradas sem nenhum perigo de que o resto desmorone. Duas seções foram extraídas da estrutura geral e foram colocadas ao lado da Hallenhaus. A estrutura apoia-se numa base de concreto que proporciona espaço para sentar-se ao redor.
A Hallenhaus parece grande para alguém de pé no seu interior, mas parece um pouco mais do um desenho a lápis quando é vista desde baixo. Os motoristas que passam pela rodovia A57 dizem que agora, depois de 50 anos sendo uma terra incógnita, o enorme monte é acessível, um lugar onde é possível olhar para além do mundo terreno sempre que se desejar estar fora dele. A Hallenhaus também pode ser considerada uma estrutura que emoldura o vazio e a imensidão. Apesar do seu tamanho total, tem êxito em evidenciar o desejo da equipe de desenho em manter o planalto o mais vazio possível.
Universidade ao Ar-Livre
O observatorium recebeu mais e mais convites da universidade e outros institutos de educação superior. Frequentemente, depois de uma conferência ou oficina, os estudantes se apressam nos seus computadores para procurar imagens de referências e soluções existentes. Jacob Voorthuis, professor assistente de teoria da arquitetura na Universidade Tecnológica de Eindhoven conferiu ao Observatorium a liberdade na organização de uma oficina. Decidiram assim, criar uma "universidade ao ar livre", uma instituição virtual que abrigue todas as atividades educativas do Observatorium.
Os estudantes seriam levados ao ar livre diante de tanto paradoxo quando fosse possível: consciência de realidade versus espanto, o desenho livre versus consciência comunal. A Hallenhaus e a escombreira tornaram-se assim a Universidade ao Ar-Livre. É possível combinar a cultura e a educação com um espaço de entretenimento? Os estudantes visitaram a paisagem pioneira, foram encarregados de estabelecer sua residência no planalto e fazer uma casa ideal, levando em conta o fato do assentamento estar em um terreno público e que a vista a partir dele é muito valiosa.
Duas sugestões foram consideradas: não utilizar somente o planalto, mas dividi-lo entre público e privado. A liberdade de estabelecimento no local de recreação cedeu alguns desenhos curiosamente paradoxos: um cemitério com a casa do caseiro, uma biblioteca pública com moradias no pavimento superior em um caminho público e uma vila com uma piscina que também funciona como porta de entrada. Posteriormente, realizaram-se oficinas e exposições em colaboração com a Universidade de Wuppertal e a Gerrit Rietveld Academie, de Amsterdã.