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Arquitetos: ENSUSITIO Arquitectura, Taller Con Lo Que Hay 4; ENSUSITIO Arquitectura, Taller Con Lo Que Hay 4
- Ano: 2014
Comunidade Quichua Amazônica de Santa Rita (Equador)
O Centro de Interpretação Cacau é um espaço para a comunidade Kichwa de Santa Rita destinado a valorização, difusão e entendimento da sua cultura, tradições e especialmente dos processos do cacau desde seu cultivo até converter-se no melhor chocolate do mundo. No final de 2012, a empresa Chocolates Pacari sentiu a necessidade de aproximar o consumidor final do chocolate com sua origem, não como um ato comercial, mas sim para evidenciar os processos comunitários e artesanais que implica seu cultivo e manufatura. Este projeto nasce da colaboração da comunidade com a empresa de chocolates Pacari, com o Taller Con lo que Hay da PUCE-FADA e o escritório ENSUSITIO.
“Con lo que hay” é um ateliê acadêmico de arquitetura dentro da FADA-PUCE Quito, para os níveis sete e oito, como uma possibilidade pré-profissional onde o estudante finalmente aplica seus conceitos acadêmicos junto ao trabalho social dentro de uma comunidade específica. O ateliê abrange desde o diagnóstico, análise, conceitualização, desenho e construção arquitetônica participativa, até a concepção e publicação de manuais para uso da população onde se está intervindo.
O projeto é composto por três plataformas, as de acesso e recepção, onde a comunidade terá a possibilidade de mostrar e produzir seus artesanatos, a segunda existe para descobri a cultura culinária e consta de um fogão aberto compartilhado, onde que cada turista pode fazer seu próprio maito de chontacuro e carachama, prato tradicional local; e finalmente, a plataforma que mostra os processos do cacau, que contém um modelo da sua secagem, fermentação e torrefação, onde então, se terá a possibilidade de fazer o chocolate artesanal.
Estes três espaços são abrigados por uma grande cobertura que deixa um espaço amplo, livre, como uma ágora e adequado para a comunidade e suas crianças, especialmente possam mostrar seus atos tradicionais, porém, mais importante do que isso, foi criar um espaço em que a comunidade possa se reunir, pois inesperadamente a infraestrutura tornou-se, por sua forma particular, um grande parque de diversões. Além disso, como um serviço adicional à comunidade e para conferir um nível de conforto ao turista, se constrói uma ponte de acesso que conecta povoados adjacentes com Santa Rita, e também se edifica um banheiro seco com desidratação por energia solar, que é a melhor opção para o local dado seu clima altamente úmido.
Toda esta infraestrutura é construída sob os princípios do ateliê "lo que hay", ou seja, materiais e sabedoria tradicional local, e as contribuições tecnológicas facilmente replicáveis para valorizar ainda mais o antigo, colocando-o em um contexto contemporâneo. Todas as estruturas estão situadas sobre pedras enormes encontradas no próprio local, desenvolvendo assim uma tecnologia simples e replicável que utiliza a pedra como cimento, criando a estrutura particular do projeto. Todo o resto é construído com tecnologia e material local; estrutura de bambu, amarrações com vime, cobertura de palha.
Pacari ativa o lugar com capacitações sobre o gerenciamento sustentável do cacau e o turismo comunitário e o ateliê contribuiu com uma publicação, um manual, em que a comunidade pode se apoiar para replicar as tecnologias contemporâneas baseadas nos sistemas construtivos e materiais tradicionais que foram aplicados no projeto.
Empoderamento
Este projeto procura gerar redes de colaboração onde todos ganham, mas sem gerar dependências. É assim que cada ator teve ou tem seu papel importante dependente mas não indispensável.
O importante destes processos é que já não somos projetistas partícipes diretos, mas assim, que a pedido da mesma comunidade somos assessores nos seus processos, desta maneira eles tomam poder de suas decisões, mas com um apoio técnico e responsável.
O legado, saber quando sair
A partir do final do ciclo acadêmico universitário, o “taller con lo que hay” continuou com o projeto, desta vez fiscalizando o desenvolvimento do mesmo pelo Ensustio Arquitectura, empoderando novamente o estudante. Dessa forma, o ateliê saiu do país para contar sua experiência na abertura do TAU (Ateliê de ativação urbana, San José de Costa Rica) desta maneira já não são somente receptores mas sim emissores de experiências.
Hoje em dia, o projeto segue enriquecendo-se com cada visita de turistas e conhecedores dos processos do chocolate. É muito gratificante ver como a comunidade se apropria da infraestrutura conferindo-lhe usos necessários e específicos, fazendo com que ela cresça, mude e viva o que tenha para viver.
Enrique Villacís Tapia