Arquitetos
Grupo Garoa, Cura , Costa e Macedo ArquitetosLocalização
Osasco - SPArquitetura
Grupo Garoa + Cura + Costa e Macedo ArquitetosAutores
Alexandre Gervásio, Erico Botteselli, Lucas Thomé, Guilherme Bravin, Pedro de BonaCoautores
José Maria Macedo, Pedro PereiraCobaloradores
Marcus Vinicius Damon, Matheus Molinari, Rafael CohenAno do projeto
2015Fotografias
Grupo Garoa + Cura + Costa e Macedo Arquitetos
Apresentamos a seguir o projeto finalista do Concurso Nacional para a Moradia Estudantil da Unifesp em Osasco, desenvolvido pelos escritórios Grupo Garoa, Cura e Costa e Macedo Arquitetos. Veja na sequência algumas imagens e a descrição pelos autores da proposta.
Dos arquitetos: A preocupação com a educação é sem dúvida um dos pilares centrais das políticas de desenvolvimento de uma nação, principalmente de um país que vem tomando força e assumindo papel de destaque na América Latina, como é o caso do Brasil, cujo povo ainda está em formação, e sua forma ainda não foi plasmada, Darcy Ribeiro dizia isso há 40 anos, e colocava claramente a dicotomia entre dois modelos de universidade para romper as barreiras do atraso: o primeiro modelo nos aponta para uma universidade autônoma, que produz conhecimento e tecnologia próprios, o verdadeiro caminho a ser trilhado, promovendo um desenvolvimento digno, “através de revoluções sociais que nos permitam empreender transformações tão radicais em nossos modos de ser que possibilitem nossa incorporação como sociedades autônomas [...] Pois bem, a não ser na universidade, onde encontrar a capacidade de repensar o mundo com sabedoria e liberdade, de questioná-lo com a necessária amplidão e generosidade, antevendo conceitualmente o futuro humano?” E qual forma e ou espaço é capaz de permitir a prática destes conceitos e ideais?
Em primeiro lugar, o nosso projeto procurou assegurar a permeabilidade do tecido urbano, conferindo flexibilidade no uso dos espaços públicos e privados, criando grandes esplanadas de contemplação e acomodação dos fluxos do entorno, acentuando e valorizando as visuais da cidade e fundindo um local de produção de conhecimento com o tecido da cidade, de forma progressiva e sistêmica, permitindo, inclusive, a participação da comunidade no conjunto. São espaços democráticos capazes de fazer frente às atuais demandas culturais tão diversas de nosso povo, um lugar que permite a vivência, a troca, o encontro. Respeita as demandas urbanas, com seu caráter unificador, funciona como uma espécie de relé, controlando e distribuindo fluxos do entorno imediato, um grande laboratório das experiências humanas, marcado pela criatividade e intencionalidade: “a mais alta responsabilidade da universidade consiste no exercício das funções de órgão de criatividade cultural e científica, e de conscientização e crítica da sociedade. Satisfazer aos requisitos indispensáveis ao bom desempenho destas funções é tarefa muito difícil para qualquer universidade, particularmente as universidades das nações subdesenvolvidas, onde isto é mais necessário” (Darcy Ribeiro, 1975).
Com aproximadamente 8.000,00m² o edifício para moradia de estudantes, foi pensado de maneira a ser construído em etapas, graças ao seu sistema misto e modular com estruturas pré-fabricadas de concreto e aço e instalações aparentes. Com até quatro pavimentos e sobre pilotis, as diversas lajes abrigam desde unidades habitacionais individuais, duplas, até unidades familiares, que são configuradas através do uso de painéis leves de fórmica ou gesso acartonado assentados sobre lajes alveolares. As unidades possuem áreas de convívio privativo e coletivo ao longo dos pavimentos, sempre acessados por uma passarela externa em estrutura metálica, perimetral e alternada, de acordo com a implantação das unidades que buscam, de maneira irrestrita, a melhor orientação solar. Este arranjo permite ainda o desfrute das visuais da cidade, do terreno e do entorno imediato, alcançadas graças à implantação privilegiada.
O edifício da moradia está implantado ao longo do perímetro do terreno e elevado sob pilotis, praticamente não toca o chão, e, a partir da cota mais alta, até a cota mais baixa, podemos verificar que o rigor volumétrico é rompido por uma sucessão de vazios e pelo volume que encerra a quadra poliesportiva, no topo do de um dos vértices deste quadrado, configuram elementos que, integrados, acabam conferindo, do ponto de vista da materialidade, um caráter dinâmico ao conjunto. Esta implantação gera uma quadra interna e aberta, acessada por meio de um notável sistema de praças e passarelas para pedestres. Este sistema funciona como um grande difusor de possibilidades de circulação por todo o edifício conferindo características urbanas aos seus usuários. Os desníveis são superados por meio de rampas e escadas, que formam áreas de estar e descanso e permitem a ligação com os diversos equipamentos de uso coletivo.
O acesso principal é feito pela Alameda Parque, onde temos uma grande esplanada e a recepção principal, onde é feito o controle geral de acessos com identificação e autorização de entrada aos blocos de circulação vertical das moradias. Neste sentido, chegamos a uma praça descoberta que acolhe quem da rua vem, funciona como um distribuidor de fluxos, onde o usuário percorre todo o conjunto por meio de rampas, escadas, elevadores, atingindo todos seus planos, alternando espaços abertos e fechados.
Nas áreas sob pilotis encontramos os equipamentos de uso comum: a biblioteca, o anfiteatro, o refeitório, o centro atividades comunitárias, área para festas, jogos e eventos além dos mencionados núcleos de acesso controlados das unidades habitacionais. Por sua localização, estes equipamentos coletivos podem funcionar de forma independente, possuindo acessos diretos, não interferindo no funcionamento da moradia. Estes núcleos coletivos são transparentes, envidraçados de maneira que sua presença seja discreta e convidativa e não seja uma barreira ao olhar fortuito ou ao livre percurso. Junto à Rua General Newton Leal, está implantado um pequeno estacionamento e uma praça de carga, descarga e serviços, com capacidade para receber veículos de médio porte, inclusive ônibus, fazendo todo o abastecimento do complexo.
Na cobertura do conjunto temos a área de lazer, representada pela quadra poliesportiva de uso comum, com sanitários e áreas de descanso. Neste mesmo piso, os reservatórios de água potável estão previstos para dois dias de armazenamento mais a reserva técnica de combate a incêndio. O posicionamento do telhado, solto da última laje, permite a ação de um eficiente sistema natural de circulação de ar, tornando o edifício mais fresco e arejado, minimizando o uso de energia e aumentando o conforto térmico dos diversos ambientes. Está previsto um sistema de captação de águas de chuva que serão conduzidas até as cisternas que ficam abaixo dos blocos edificados, estas áreas dispõem de pequenas centrais de tratamento e distribuição de água para a manutenção dos jardins e limpeza das áreas comuns da edificação. No telhado podemos implementar um sistema de painéis fotovoltaicos para a captação de energia solar, já que temos orientação favorável no sentido norte, com incidência de sol durante todo o ano.