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Arquitetos: atelier d’architecture King Kong
- Área: 4050 m²
- Ano: 2014
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Fotografias:Roland Halbe
Descrição enviada pela equipe de projeto. Em seu quadro de políticas de desenvolvimento cultural e renovação do bairro Moulins, na cidade de Lille começou, em 2009, a construção de um novo equipamento cultural que permitiria o desenvolvimento da Maison Moulins existente no bairro, que carecia de espaços específicos para a realização de todos os seus projetos, além da criação um centro euro-regional de culturas urbanas (The Flow - Casa de Hip-Hop), uma estrutura que tornou-se necessária pela importância das atividades vinculadas à prática que, até então, não tinha lugar para desenvolver-se. A importância desse projeto justifica sua integração em um local próximo ao centro da cidade. O desejo de unir estes dois equipamentos em um mesmo lugar representa numerosas vantagens para ambas as estruturas, além de uma possibilidade de garantir a sinergia de fato, já que seus objetivos são comuns. A Maison Folie, que já havia conquistado seu próprio público em cinco anos de existência, encontrou-se obrigada a rejeitar ou adiar uma série de projetos (dança, teatro, artes plásticas e visuais) devido à falta de espaço.
As Maisons Folie são um conjunto de lugares culturais estabelecidos na metrópole de Lille, no Norte, Pas-de-Calais e Bélgica. São o legado de Lille 2004, ano de acontecimentos durante o qual a cidade (com sua área urbana) era a capital europeia de cultura. Estes espaços são utilizados para exposições, como salas de concertos, oficinas para crianças e adultos, etc. Constituem uma rede importante na vida cultural da região de Nord.
A Maison Folie de Moulins, um antigo café, contem um certo número de partes articuladas em torno de dois pátios. Uma primeira reforma parcial foi feita antes de nossa intervenção. Nos contrataram para realizar obras complementares, exposição final e diversas salas de atividades, em paralelo à construção de um edifício criado ex nihilo em frente ao lote. Por outro lado, ao optar por implantar esse novo edifício situado atrás da rua Fontenoy, criamos uma esplanada destinada ao uso dos habitantes e sobre a qual os concertos e outros eventos artísticos podem acontecer.
The Flow tem, assim, uma ambição dupla de destacar e promover práticas artísticas da rua. Trata-se de criar um lugar específico, uma "casa comum", que reúne várias disciplinas, enquanto evoca o mundo urbano no qual nasceram estas práticas. Lugares relacionados ao hip-hop frequentemente estão em espaços reciclados, e, ao contrário das cenas da música real, não existe uma tipologia de projeto representativa desse programa específico.
O princípio que adotamos consistiu em pensar globalmente sobre os requisitos do programa em relação ao presente e o futuro do local. Assim, trabalhamos em tiras, os edifícios no oeste ao lado da rua Arras foram demolidos e o espaço criado recebeu as funções de serviço e instalações. Do nordeste ao sul, no lado da rua Dupetit-Thouars, levamos a cabo a reforma solicitada da Maison Folie de Moulins, a conservação da maior parte das fachadas de tijolo, atrás das quais passarelas e escadas mostram-se pouco, para terminar em uma parede de aço corten que, com sua transparência, assegura uma vista sobre o pátio e também o cruzamento do edifício novo. Marcado por um ambiente "ao estilo Nova Iorque", o pátio da casa de hip-hop é, ao mesmo tempo, um vínculo horizontal e vertical e o cenário de atividades ao ar livre. Portanto, oferece a possibilidade de acolher público sobre suas várias passarelas de acesso e coberturas. As vigas que pontuam a estrutura possuem uma seção importante: apoiam equipamentos cenográficos e elementos utilizados em exposições. É toda a história do bairro que tratamos de perpetuar através desse desenho industrial que, por outro lado, adapta-se de forma natural ao hip-hop e à cultura urbana.
Espaços intermediários e diversos acessos existentes foram mantidos, permitindo o acesso a uma parte ou a todo o projeto, de acordo com as necessidades de caminhos para pedestres de leste a oeste, a entrada principal encontra-se a sul. Dependendo se um espaço ou outro está aberto ao público, é possível fechar, se necessário, o acesso a outras funções do edifício. Os usuários e/ou espectadores, portanto, entram no edifício através de entradas específicas. Quando o espaço está em modo de "livre apropriação", a entrada ao edifício é escolhida em função da procedência.
O modo de operação do novo edifício, com seu desenvolvimento em quatro pavimentos incluindo uma planta de subsolo é muito simples. Cada pavimento corresponde a uma função precisa do programa. No térreo, as funções de recepção e convivência estão em contato direto com a esplanada. No subsolo estão os estúdios musicais; no segundo pavimento, a administração; no terceiro pavimento, dança; no quarto pavimento uma oficina gráfica com sua extensão ao ar livre. Cada planta pode, assim, trabalhar em plena autonomia em função das necessidades dos usuários.
A sala de transmissão comum estabelece-se intencionalmente recolhida em relação à fachada, no coração do lote. Visível através da recepção da casa de hip-hop ou do térreo do edifício Bulle da Maison Folie de Moulins, parece um segundo pátio.
A estrutura do edifício que concebemos é de concreto armado e baseado em um sistema de colunas e vigas. Apenas a cobertura da sala de transmissão está apoiando uma estrutura de aço do tipo treliça. Alguns trabalhos específicos foram feitos em alvenaria. O exterior da sala de transmissão é de painel de concreto de 30 cm de espessura. As fachadas da casa de hip-hop são feitas com perfis de alumínio do tipo VEC e possuem janelas de vidro termo-acústico triplo com perfis ocultos e recolhimento (produto desenvolvido pela Saint-Gobain).
A sala de transmissão, quase em forma de cubo, está rodeada por dois níveis de passarelas, enquanto que a grade estende-se sobre toda a superfície: o trabalho dos técnicos é facilitado em grande parte (incluindo estabelecimentos em uma escada do primeiro ao segundo pavimento, que se eleva durante os espetáculos). A capacidade varia de 225 assentos com as grades abertas a 600-700 de capacidade em pé e sem grades. Este espaço e estas proporções promovem deliberadamente intercâmbios entre artistas e músicos e o cenário e seu público: os espetáculos podem ser frontais, bifrontais ou utilizar o efeito de "anel" graças aos balcões periféricos. A correção acústica é proporcionada por uma série de almofadas de dimensões variadas, garantindo a absorção, reverberação e difração do som.
A preservação de uma parte importante da identidade patrimonial da quadra com suas fachadas de tijolo típicas das cidades do Norte, o equipamento toma emprestado também o desenho industrial, muito presente em Lille e em toda a região, seu vocabulário, em ressonância com as práticas urbanas que oferece um lugar original, não existe equivalente francês. Com uma mistura de respeito ao passado com adoção de tecnologia de última geração, o Centro euro-regional de culturas urbanas está pronto para dar boas-vindas a novos usos, sua flexibilidade de uso sendo ótima. Suas transparências com o espaço público fomentam a apropriação por parte dos artistas e público dos espaços que, espera-se, que sejam muito cordiais.
Uma fachada midiática inovadora
É valido destacar que o edifício está equipado com a primeira fachada de vidro digital para esta escala. LEDs estão distribuídos em uma estrutura de vidro e, por meio de um fornecimento elétrico invisível, estão vinculados a um computador controlado pelos usuários, o que permitirá concitar artistas especializados neste tipo de atuação para animar esta fachada à vontade. LEDs incorporados no vidro evocam de forma muito convincente as atividades da casa de hip-hop, fazendo de sua fachada, um símbolo.
As paredes mudarão regularmente de aparência em ressonância com as atividades desenvolvidas no centro. Dançarinos, então, serão recebidos em seu lugar no solo em contato direto com o espaço ao seu redor, mas que indicam sua função por seus próprios métodos de construção, e sua mensagem e constante evolução artística. O conceito de "fachada midiática" que está começando a obter grande êxito no mundo todo está aqui representado por um processo original, também no sentido de reforçar as interações entre edifício e espaço urbano que o dispositivo enriquece externalizando certas informações, transformando-as em movimento e visões poéticas.