Por Nara Grossi
Implantado em terreno de esquina, não se passa imune à forte presença dessa obra, que tem a estrutura como principal elemento de expressividade.
A malha estrutural é a definidora do partido. Pilares de seção trapezoidal em concreto aparente marcam os limites frontais do lote e sustentam o corpo de vidro fumê, que se materializa recuado e quase flutuante. O descolamento de três metros entre corpo e estrutura abre perspectivas, permitindo que a leitura entre esses dois elementos se dê separadamente.
Como forma de reforçar a independência do prisma em vidro, os dois primeiros e os dois últimos pavimentos recuam em relação ao alinhamento dos andares-tipo. Com esse artifício o volume principal se mostra pretensamente solto do chão e da cobertura, como objeto independente em sua relação com o rigor da malha estrutural.
A simetria orienta o desenho. Com fachadas de medidas similares–um retângulo de trinta e três por trinta e oito metros em planta–, a modulação estrutural conta com dois pilares centralizados em cada face e um pilar maior a quarenta e cinco graus em cada vértice. O acesso ao prédio movimenta a trajetória, já que o térreo está um metro abaixo do nível do passeio, protegido por taludes gramados, numa arquitetura sem cerceamentos, onde os espaços público e privado se misturam.
Um núcleo central resolve as circulações verticais, sanitários e apoios, amarrando o sistema estrutural, em solução espacial de planta livre que segue por todos os pavimentos. Térreo, mezanino, terraço e cobertura possuem perímetro menor, recuados três metros em cada face do prisma principal, de nove pavimentos.
Além das áreas de escritórios e gabinetes, o programa conta com biblioteca, laboratórios fotográficos, gráfica, dois níveis de garagem no subsolo, bar e restaurante no mezanino, com área aberta expandida configurada por terraço com paisagismo exuberante.
A grelha vazada de concreto aparente no coroamento reflete a lógica estrutural adotada, favorecendo, juntamente com os pilares, a participação da luz natural como elemento de transformação do espaço construído. Pilares e cobertura conformam uma caixa independente, que recebe o volume construído habitável.
A luz, assim como elementos físicos e conceituais adotados na arquitetura –estrutura no alinhamento, caixa em vidro recuada, acesso rebaixado, opacidade e transparência– também possui papel transformador da paisagem, na relação de permeabilidade e expressividade do edifício com seu entorno. Ela ocupa os vazios construídos.
* O projeto foi vencedor de concurso para a sede do banco. Atualmente o edifício encontra-se em processo de tombamento pelo Patrimônio Histórico Municipal.
Nara Grossi é arquiteta graduada pela UFMG e mestre pela FAUUSP. É sócia diretora da Gema Arquitetura, com escritórios em Belo Horizonte e São Paulo.
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Arquitetos: Humberto Serpa; Humberto Serpa, Marcos Meyer (Matu), Márcio Pinto, William Ramos Abdalla, Cid Horta
- Ano: 1969