- Área: 212 m²
- Ano: 2015
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Fotografias:Antônio Preggo
"A arquitetura como construir portas, de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender, nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas; casas exclusivamente portas e tecto.
O arquiteto: o que abre para o homem (tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra; por onde, livres: ar luz razão certa.
Até que, tantos livres o amedrontando, renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até fechar o homem: na capela útero, com confortos de matriz, outra vez feto."
Fábula de um Arquiteto – João Cabral de Melo Neto
A FAMÍLIA
A família é composta por Leonardo (32), arquiteto, Joana (31), arquiteta, Davi (4), desenhista e Pedro (2) jogador de futebol. A casa foi minuciosamente pensada para esta família, em todas as suas nuances. A casa realmente como uma extensão da família. Acreditamos que para ela ser boa, teria que ser boa para nós, afinal de contas éramos os principais usuários. Esse pensamento sempre norteou os projetos do escritório.
O LUGAR
O terreno está inserido num condomínio particular, em área limítrofe do Perímetro Urbano de Caruaru, principal cidade do agreste pernambucano, a 135 km da capital Recife. Sua topografia suavemente inclinada e orientação sudeste, contribuíram para a escolha do mesmo. Lembrando que em nossa região, durante 8 meses por ano os ventos predominantes sopram deste lado, o que foi bastante considerado no projeto.
A CASA
A Casa Allouchie é fruto de um desejo antigo do arquiteto de participar de todas as etapas da casa (projetar, construir e morar). Queríamos uma casa térrea, com um programa simples, fácil de usar e sobretudo agradável. Gostaríamos de fazer algo sensível a dimensão aparencial da arquitetura mas principalmente a experiencial. Algo que encantasse a nós e as pessoas.
O arquiteto mexicano Ricardo Legorreta dizia que “o luxo está no espaço”. Nosso conterrâneo filósofo e professor Evaldo Coutinho defendia que o vão é a matéria exclusiva da arquitetura. Criamos então um pátio, “aberto” para a orientação nordeste, segunda de maior predominância dos ventos da região e primeira nos meses mais quentes do ano. Com isso conseguimos “abrir” os ambientes sociais de maior permanência para o Sudeste e/ou Nordeste.
Outro aspecto bastante trabalhado foi a casa como uma extensão da rua e vice-versa. Queríamos proporcionar uma experiência positiva para quem transitasse por ali, assim como presentear a nós e principalmente nossos filhos com tudo que uma simples rua pode oferecer. Com a ocupação acreditamos que talvez esse tenha sido nosso grande trunfo, construímos uma casa e ganhamos uma rua.
O que tínhamos para pintar o fizemos de branco e deixamos que a natureza colorisse, como costumava orientar o amigo e grande arquiteto Vital Pessoa de Melo, com quem Joana colaborou por alguns anos.
“Comecemos por uma ampla sombra, por um abrigo protetor do sol e das chuvas tropicais... de forma a surgirem lugares abrigados, donde se possa participar do desenrolar dos dias e das noites, animados pela luz, pelos ventos e pela chuva: lugares de uma arquitetura da experiência humana do ambiente natural ou urbano.”
Armando de Holanda – Roteiro para construir no Nordeste
Espaços contínuos, poucos materiais, cobertura ventilada, paredes recuadas, renovação do ar, ventilação cruzada, convívio com a natureza, esquadrias protegidas, luz filtrada, são alguns dos ensinamentos do arquiteto Armando de Holanda que buscamos materializar nesta casa.
“Retomemos a lição de Le Corbusier e protejamos as aberturas externas com projeções e quebra-sol, para que, abrigadas e sombreadas, possam permanecer abertas.”
Armando de Holanda – Roteiro para construir no Nordeste
Essas foram algumas diretrizes que abraçamos no decorrer do longo e árduo período do projeto e também da construção, que nos trouxe e nos traz até hoje muita reflexão sobre o espaço construído. Nos mudamos a casa ainda em obras, o que se tornou uma uma experiência incrível, uma vez que a própria ocupação nos deu subsídio para alterarmos o projeto no decorrer da construção.