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Arquitetos: Oficina de Arquitetos
- Área: 430 m²
- Ano: 2013
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Fotografias:Lauro Rocha e Kristoffer Rage Krantz
Arquitetura como espaço do coletivo
O Edifício que abriga o atual Núcleo de Estudos em Água e Biomassa (NAB) da Universidade Federal Fluminense (UFF) é fruto da parceria entre o Instituto de Química da UFF e a Petrobras. A nova edificação situa-se no campus da Praia Vermelha, no bairro da Boa Viagem (em Niterói) num terreno que está voltado para a baía de Guanabara, compartilhando com seus vizinhos uma das vistas mais belas da cidade.
O local onde o edifício se implanta – assim como boa parte do campus da Praia Vermelha da UFF - é fruto de área de aterro proveniente do desmonte histórico de parte do morro do Gragoatá. Sua cota de implantação chega a variar 8m em relação à Av. Gal. N. Tavares de Souza, a rua frontal que gera o limite do campus com a baía de Guanabara.
No projeto para o NAB, foram considerados três aspectos principais no processo de projeto e na intenção conceitual: em primeiro o lugar, a relação com a paisagem, que é extremante dominante neste caso; em segundo lugar a especificidade de seu programa, ou seja, a necessidade de abrigar um conjunto de laboratórios; e por fim - e não menos importante por isso - o resgate do espaço público oferecido pela composição volumétrica do prédio.
Durante anos os edifícios do campus – conhecidos como Ufasas (Unidades Funcionais de Sala de Aula) - faziam de seus pilotis áreas fundamentais por seu caráter de permanência, de circulação, configurando-se como verdadeiros lugares de encontro. Em muitos casos as áreas de jardins avançavam sob este espaço coberto permitindo novos caminhos e se apropriando desta área comum do espaço público universitário. Ainda hoje no campus do Gragoatá, próximo ao da Praia Vermelha, é possível identificar esta dinâmica.
No entanto, com o passar do tempo os institutos universitários foram entendendo que em função da falta de espaço e verba destinada à manutenção e construção de novos edifícios na universidade estes “vazios” deveriam ser preenchidos por áreas funcionais.
Esta premissa causou grandes modificações no uso do espaço coletivo no campus Praia Vermelha e até mesmo na percepção do conjunto. Afastados entre si por apenas 10m e em muitos casos, com seus térreos agora não mais atravessáveis pelo pedestre, os edifícios voltam-se pra si próprios, repelindo a comunidade acadêmica de outros cursos de suas dependências. Percebe-se assim, uma fragmentação do espaço coletivo e por consequência, uma maior concentração das discussões, pesquisas e trabalhos nos espaços internos. Logicamente, o isolamento das comunidades acadêmicas foi o caminho adotado. As áreas de jardins que antes faziam parte dos pilotis tornaram-se desinteressantes e atualmente são apartados: margeiam os edifícios, limitando-se a cerca-los.
O NAB é um questionamento a esta equivocada premissa de ocupação do espaço público da universidade. Propomos um edifício que seja resultado do diálogo com o lugar não apenas se adaptando a ele, mas fazendo parte da construção de uma paisagem, onde edifício e terreno, claramente distintos, são peças de uma única engrenagem uma vez que compartilham do mesmo objetivo: possibilitar uma nova compreensão espacial e valorizar a percepção do lugar coletivo.
A implantação do NAB segue as mesmas premissas adotadas no conjunto das UFASAS. No entanto, as proporções geométricas do terreno destinado a ele não segue uma lógica pré-definida como dos demais edifícios. O NAB praticamente é adaptado a um espaço residual entre o complexo de novos edifícios da Computação e do grande edifício que abrigará um conjunto de laboratórios para o próprio instituto de Química da UFF. Este fato reforça as intenções projetuais aplicadas no NAB ao caracterizá-lo como um espaço de interseção e comunicação, que promove não só a circulação e a passagem mas também a ocupação deste espaço residual através do encontro e da troca entre as pessoas.
O uso de materiais como o concreto armado, aço, alumínio, vidro, e outros, ganharam novos critérios de emprego, reforçando o espírito público e austero do edifício. Uma enorme viga treliçada de 5,6m de altura em forma de um “L” margeia o espaço livre coberto do edifício. Esta consonância com a paisagem permite que seu embasamento apresente-se como um potencializador do desejado encontro entre alunos, técnicos e professores.
A distribuição espacial
O acesso principal é feito no nível +2,11m, onde se encontram a recepção, secretaria e o espaço de múltiplo uso e apoios técnicos. Uma única prumada técnica concentra elevador, escada, shafts, banheiros e vestiários que se estendem aos andares superiores (área acadêmica) e inferiores (Laboratórios especializados), formando um volume de concreto.
Através das circulações verticais é possível se ter acesso ao Mezanino Técnico (nível +5,34m) que abriga uma sala reservada, depósitos, área de xerox, área técnica dos condensadores e o primeiro terraço. Este mezanino possui áreas destinadas a jardim que limitam sua extensão e concentram os espaços técnicos.
No subsolo (nível -2,50m) encontra-se a área mais reservada do NAB. O conjunto é formado por uma central analítica, salas de suporte técnico, área técnica para ar condicionado, almoxarifado, vestiários, casa de bombas e depósitos. Esta área possui acesso restrito ao público externo, alunos e professores não autorizados. Sua localização no subsolo cria áreas com fatores ambientais controlados, o que é importante para manter a confiabilidade nos resultados laboratoriais. Além disso, o corredor técnico possibilita não só o fácil acesso a manutenção dos três laboratórios como também gera um espaço entre as paredes de contenção do edifício e a parede do laboratório tornando-os independentes.
O térreo do edifício conecta as áreas inferiores (subsolo com laboratórios) e as superiores (mezanino, 1º. pavto, 2º pavto. e Terraço Jardim). Os pavimentos educacionais são compostos pelo 1º (nível +7,84m) e 2º (nível +11,07m) pavimentos. Neles encontramos os demais laboratórios, salas de aula, sala de reuniões, sala de professores, gabinetes e outros. O terraço jardim (nível +14,30m) é sem dúvida a extensão do espaço universitário, sendo este possível de ser utilizado por todos.
As fachadas Norte e Oeste são é protegidas por uma pele formada por placas fixas de alumínio afastadas 60cm da parede do edifício, funcionando como um anteparo, uma espécie de brise soleil. Estas placas foram dispostas horizontalmente segundo parâmetros de espaçamento determinados pelas aberturas das janelas, pelo afastamento do edifício vizinho e pelo ângulo incidência solar em sua área. No terraço, a altura dos anteparos descortina a paisagem seguindo a orientação do poente, colaborando assim para o melhor aproveitamento do espaço do próprio terraço, protegendo-o do forte sol e ventilação excessiva, mas garantindo a ampla vista para o Rio de Janeiro e entorno imediato.
Já a fachada Leste é composta pelo volume que abriga áreas técnicas, como os dois elevadores, a escada de incêndio, os sanitários e depósito. Este volume é quase todo de concreto, um bloco técnico que concentra também os principais shafts do edifício. Este volume é independente daquele que concentra as atividades laboratoriais e acadêmicas, sendo estes separados por uma área de circulação que faz a transição entre ambos os volumes.
A fachada Sul também possui uma proteção especial. Ela se abre plenamente para a Ilha da Boa Viagem, marco natural e histórico da cidade. Nesta fachada estão os gabinetes, as salas de aula e de professores (andares corridos do edifício), todas vedadas por esquadrias verticais com 1,00 de largura e 2,00m de altura que avançam 30cm para o interior das salas, possibilitando a proteção de indesejáveis raios solares do poente.