- Área: 3625 m²
- Ano: 2015
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Fotografias:Leonardo Finotti
Descrição enviada pela equipe de projeto. O museu está localizado no declive natural do terreno do Santuário e, embora valorize o contraste com suas linhas contemporâneas, não tira o protagonismo de todo o conjunto secular. Ao contrário: foi pensado para ‘conversar’ com o lugar onde foi construído, como o encontro entre passado e presente, que garante a preservação da história para o futuro.
O diálogo com o local onde um projeto será inserido e a quem está destinado é uma das principais características dos projetos de Gustavo Penna. Especificamente no caso do museu, a concepção foi além. Por se tratar de um bem tombado pelo Patrimônio e de vocação ritualística, a implantação de um prédio contemporâneo rodeado por edificações do século 18 deveria, mais do que nunca, respeitar sua topografia – que remete ao princípio barroco da “busca dos céus”, por estar em um declive – e reverenciar o simbolismo do entorno.
Apesar de contemporânea, a arquitetura do museu se harmoniza com a linguagem que já está lá há séculos, através de algumas características do projeto: uma implantação neutra, sem competição volumétrica com o conjunto arquitetônico principal; o ‘ritmo’ da construção, com suas aberturas, proporções, alinhamentos e altimetrias em escala similar ao do resto do conjunto; a grande base da edificação em pedra, muito peculiar da época da construção do Santuário, com o uso de pedras da região, que não se sintam ‘estrangeiras’ no contexto; a parte superior mais leve, fluida, as paredes caiadas e pintadas com tinta mineral – a mesma usada na restauração das capelas dos Passos de Cristo e da basílica, aprovada pelo Iphan; a longa e suave curvatura do prédio, que “se derrama na encosta, em um formato côncavo que ecoa a forma oval do local de romaria, logo abaixo, como se as duas se encaixassem”, segundo Gustavo Penna.
Ocupando 3.500 m² de área construída, o museu é dividido em três andares: no nível principal estão a recepção e a sala de exposição permanente, composta por quatro espaços: a sala introdutória, o corredor expositivo, o salão de exposição e ainda uma loja e um café. No nível inferior há um hall e o acesso à área de exposição permanente e temporária, à área de biblioteca e documentação (que consolidará o Museu como um centro de referencia do barroco brasileiro) e ao setor administrativo, além de um anfiteatro a céu aberto. Finalmente, no nível subsolo está o Centro de Referência do Barroco, um ateliê para o desenvolvimento de trabalhos com pedra.
“Outro fator de extrema importância é estar lado a lado com os 12 Profetas, a obra-prima de Aleijadinho, o maior artista das Américas. E das seis capelas que descrevem a Paixão de Cristo, uma coisa maravilhosa. Nosso projeto teve de ser atemporal, embora seja testemunha de seu tempo e tenha orgulho de afirmar poesia, respeito, equilíbrio. A arquitetura do Museu de Congonhas se sente segura para usar o caminho da gentileza, da reverência, da consciência e do respeito pelo Santuário de Bom Jesus de Matosinhos”, descreve Gustavo Penna.
“O museu quer enaltecer o eixo simbólico que reúne os planos do sagrado, da memória e do cotidiano local. Buscamos estabelecer um vínculo, uma associação com o território simbólico, para preservar a hierarquia existente, a consistência e a solidez do acervo histórico e artístico, para reafirmar e assegurar esse patrimônio”, completa a arquiteta Laura Penna, coordenadora do projeto.
O interior do museu tem espaços fluidos. “Limpos, alvos, claros, nada fragmentado. É o próprio barroco traduzido pela contemporaneidade, onde não existe ruptura mas a curva, o caminho para o céu”, explica o arquiteto. Nas áreas do museu, as soluções arquitetônicas buscaram oferecer o maior número de recursos de instalações e luminotécnica, para flexibilizar e enriquecer as possibilidades de criação dos cenários museográficos. Através de shafts em dry-wall nas paredes da exposição permanente e dos recursos e facilidades nos pisos das áreas do entorno permite-se a criação de qualquer arranjo museográfico.
O ACERVO DO MUSEU DE CONGONHAS
Se a arquitetura do Museu de Congonhas mimetiza o ambiente do entorno, integrando-se ao patrimônio existente, por dentro o acervo é a representação da cidade e do que a formou: fé, devoção, a obra e a figura do Aleijadinho e a própria Congonhas, com suas características étnicas, históricas e culturais. “O museu mostra a dimensão da cidade como obra de arte, lugar do sagrado, representação do patrimônio e como demonstração de fé. Através da exposição dos ex-votos e de documentação, filmes, publicações, além do estudo da reprodução dos 12 profetas, para sua preservação como marco da arte barroca”, explica Sérgio Rodrigo Reis, presidente da Fundação Municipal de Cultura Lazer e Turismo (Fumcult), que vai administrar o museu. “Congonhas inaugura no país o conceito de Museu de Sítio, ou seja, feito para potencializar a compreensão do lugar onde está inserido”, completa.
A exposição permanente é composta por 342 ex-votos que vão do século 18 ao século 20, da coleção particular de Márcia de Moura Castro e adquirida pelo Iphan em 2011. A partir das peças pode-se ter não apenas a compreensão do processo de devoção e fé, mas da riqueza cultural de sua simbologia. E ainda traz uma relíquia entre a representação de ex-votos em tábuas votivas: uma pintura, feita em madeira no século 19 por Euclásio Ventura, e que é a única imagem existente de Aleijadinho. Ela havia sumido de Congonhas em 1910, posteriormente comprada por um colecionador e depois devolvida ao governo de Minas Gerais. Há um ano o Museu negociava – e conseguiu – a volta da obra à Congonhas.
Outro acervo importante é a consolidação de uma biblioteca de referência nos temas fé, devoção, na obra de Aleijadinho e na história e cultura de Congonhas. No total, são cerca de 4 mil livros e 3 mil recortes de jornal, adquiridos de bibliotecas particulares, de uma seleção das bibliotecas do município e da Unesco e do Iphan. Mesmo na loja de suvenires a cultura de Congonhas estará presente: desde que assumiu a Fumcult, Sérgio Reis envolveu a comunidade no processo de implantação, através do “resgate dos ofícios da fé”. Desta forma, artesãos da cidade que fazem as tradicionais cruzes da Santa Cruz (feitas em papel crepom e penduradas do lado de fora das casas), os terços de conta de lágrima, os tapetes de sal, serragem e pedra sabão e a decoração dos andores de procissão terão suas peças à venda como suvenir para os visitantes.
A inauguração do Museu de Congonhas também dará visibilidade a ações que já foram implantadas no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, como a iluminação cênica dos 12 Profetas e das capelas que reproduzem a Paixão de Cristo; o primeiro aplicativo do país de visita virtual a uma cidade, o aplicativo de um áudio-guia, que o visitante pode baixar no celular e ter toda informação necessária enquanto visita o Santuário; a realização de shows acústicos no anfiteatro do Museu (com capacidade para 100 pessoas), como forma de resgate da música colonial mineira; e o lançamento de três publicações (uma sobre o acervo do Museu e duas sobre Congonhas).
Outra ação, esta mais delicada, diz respeito à reprodução dos 12 Profetas de Aleijadinho, que estão pouco a pouco se deteriorando por conta das intempéries do ar mineiro. O Museu lidera uma pesquisa de reprodução dos Profetas, através de dois processos: o primeiro (e que já replicou dois deles, em uma resina de pó de pedra sabão) é de alta tecnologia e consiste no escaneamento das estátuas e posterior reprodução. O segundo é um estudo em cima de moldes das obras feitas na década de 1960 (à semelhança do que fazia Rodin), para ver se é possível sua reprodução.