- Área: 200 m²
- Ano: 2015
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Fotografias:Fernando Guerra | FG+SG
Descrição enviada pela equipe de projeto. O apartamento situa-se no primeiro piso de um edifício cuja construção remonta à segunda metade do século XIX, sobre a faixa de aterro construída na Lisboa ribeirinha do pós-terremoto de 1755.
As suas generosas área e dimensão de pé-direito, a abundante luz natural, e a conservação de alguns dos seus materiais de revestimento e elementos decorativos originais eram as características que o cliente procurava e aquelas que melhor definem a identidade da casa.
O projeto partiu do desejo de recuperação, conservação e valorização destas características. Bem como da proposição de um exercício de interpretação da natureza da arquitetura lisboeta deste período e dos seus elementos matriciais.
A organização espacial do apartamento correspondia, grosso modo, às necessidades do cliente, permitindo a salvaguarda da sua profícua estrutura tipológica e a fácil resolução de uma das imposições programáticas: a existência de muito espaço de arrumação para roupa, que se distribuiu e desenhou nas três divisões centrais.
Estes quartos interiores, e o seu conteúdo, foram pensados e desenhados para poderem estar permanentemente abertos, articulando os lados nascente e poente do apartamento, e possibilitando uma intermitente, e metamórfica, relação visual e espacial entre ambos.
Na cozinha, de paredes ainda revestidas com os azulejos oitocentistas originais, intervenções recentes haviam introduzido elementos desqualificadores, nomeadamente os azulejos do pavimento e os revestimentos de bancada, que se eliminaram.
Para além da resolução de algumas patologias – identificadas um pouco por todo o apartamento e na sua maioria decorrentes de obras nas imediações e antigas infiltrações –, na cozinha, o exercício passou pela introdução dos novos soalho, móveis, infra-estruturas e máquinas, acautelando-se a proteção dos azulejos e do móvel de arrumação superior, que se preservou e restaurou.
As casas-de-banho, de desadequada disposição e acessos, foram merecedoras de uma intervenção profunda. No quarto principal definiu-se um novo vão de acesso à casa-de-banho adjacente à fachada poente, determinando-se uma casa-de-banho privada e outra, agora maior, de serviço. Ambas foram estruturalmente redesenhadas, com particular ênfase em elementos construídos e revestidos nos mármores portugueses rosa e pele de tigre.
Para além dos novos sistemas e infra-estruturas – instalações elétricas e iluminação, aquecimento central ou caixilharia – e daqueles que foram recuperados, como o soalho ou os tectos estucados, foi feito um trabalho de triagem.
Os vários layers de tempo, programas e consequentes adaptações, motivaram uma série de escolhas. Integraram-se as novas soluções sem o prejuízo daquelas que se escolheram manter, do velho, do torto, das excepções que já existiam, e das que decorreram dos próprios trabalhos de requalificação.