Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto do Sagrado Coração de Las Cabras se origina da antiga edificação da paróquia que ficou severamente danificada pelo terremoto de fevereiro de 2010.
As obras consistiam em demolir o pouco que havia restado do templo localizado no coração do povoado, para então construir um novo templo e algumas dependências paroquiais.
Para isto, nos colocamos a seguinte pergunta: Onde podemos encontrar um aspecto profundo da cultura, que nos sirva como referência para projetar uma obra de caráter significativo como uma igreja?
Para tal questionamento, a ideia que surgiu como resposta veio do mais subjetivo: quatro fotografias encontradas em um álbum familiar, que mostravam uma casa senhorial simples pareciam responder tudo o que nossas inquietudes haviam formulado. Estas vinculavam nossa história pessoal e emocional com um legado arquitetônico que não tinha nos tocado ou comovido diretamente até então.
As imagens tomadas por meu pai mostram um imenso teto de telhas, deformado por seu próprio peso, surgindo entre os arbustos. Também mostram um corredor com uma sequência de pilares regulares e incluindo uma janela de madeira que mostra a espessura das paredes. Nas fotos também é mostrado entre o estuque das ruínas; o adobe dá forma ao volume e mostra acima de tudo uma forma de tradição, que não se destaca por sua singularidade, mas pela segurança de perpetuar certos postulados mínimos.
Desde então, essas fotografias constituíram a carta de navegação do projeto, uma espécie de lugar, ao qual sempre se poderia voltar em caso de nos desviarmos muito em falsas reflexões.
O projeto se armou de algumas regras mínimas. Um eixo de simetria, pelo qual se daria o acesso e se organizaria o programa. Uma altura uniforme para todas as paredes que seria generosa, mas que também respeitaria a escala do entorno e viria a satisfazer a proporção desejada, tomada desta grande casa senhorial anônima do passado. Uma espessura das paredes, todas com 60 cm, feitas em um sistema misto de concreto, alvenaria, ferro, barro e palha que fazem com que as novas tecnologias convivam com a sabedoria local.
Nos restavam algumas perguntas finais: Como construir com telha chilena? Somar uma série de conotações formais e simbólicas de uma certa época a um projeto de 2010? Por que se tomássemos uma posição mais ou menos liberal frente às paredes (preenchendo-os de palha, barro e cal) não iríamos tomar a mesma posição frente à cobertura?
Uma série de condicionantes afetaram esta decisão, como o peso, a cor e a economia de material, sendo a placa de metal lisa pré-pintada (executada com uma fixação artesanal modulada de acordo com a obra) foi a opção que melhor respondeu às nossas preocupações.