Clássicos da Arquitetura: Escola Nacional de Arte de Cuba / Ricardo Porro, Vittorio Garatti, Roberto Gottardi

"Cuba vai poder dizer que tem a mais bela academia de artes do mundo."- Fidel Castro (1961)

A Escola Nacional Cubana de Artes, originalmente idealizadas por Fidel Castro e Che Guevara em 1961, é talvez a maior conquista arquitetônica da Revolução Cubana. O projeto inovador das escolas, que visam trazer instrução cultural à nação, encapsulou a visão radical e utópica da Revolução. Infelizmente, o entusiasmo idealista da nação durou pouco e as Escolas rapidamente caíram em desuso, sendo levadas à decadência antes mesmo de estarem concluídas. Hoje, após quase quatro décadas de negligência, os arquitetos retornaram para tentar fazer que essas escolas abandonadas voltem à sua glória pretendida.

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A Escola Nacional de Arte foi construída no terreno de um clube de campo famoso em Havana, transformando, assim, um emblema da riqueza e do capital em um instituto educacional gratuito. Castro contratou o arquiteto cubano Ricardo Porro, um modernista da América Latina, acompanhado por dois arquitetos italianos, Vittorio Garatti e Roberto Gottardi; os três tiveram apenas dois meses para elaborar um projeto para as Escolas.

Castro e Guevara jogando golfe no que seria a Escola Nacional de Artes. Imagem © Alberto Korda

Os arquitetos foram guiados por três grandes princípios: primeiro, integrar as escolas às caraterísticas variadas e selvagens da paisagem do terreno; segundo, usar tijolos produzidos localmente e telhas de terracota, que, após o embargo dos EUA a Cuba, eram mais baratos que os materiais importados, como aço e cimento; e, em terceiro lugar, usar a abóboda como o elemento arquitetônico dominante, já que sua formação espacial única estaria em contradição com a arquitetura geométrica e "capitalista" do Estilo Internacional.

Implantação. Image © John Loomis: Revolution of Forms

Um total de cinco escolas foi construído: Dança Moderna, Artes Plásticas, Artes Cênicas, Música e Balé. Todos compartilhavam uma abordagem semelhante ao material e estrutura; no entanto, cada um apresentou uma interpretação diferente do local e refletiu seu programa específico. A Escola de Música de Garatti era uma estrutura de serpentina com 330 metros, que seguiu o contorno do rio, e foi complementada pelos espaços abobadados e duas grandes salas de concerto e prática. O outro projeto de Garatti foi a Escola de Balé, que consistiu de um conjunto de pavilhões com cúpulas cobertas de terracota, que serpenteava entrelaçando caminhos que incentivavam encontros casuais dentro do complexo

Escola de Balé por Vittorio Garatti. Imagem © John Loomis: Revolution of Forms

A Escola de Dança de Porro apresenta uma composição dinâmica de ruas não-retilíneas e pátios que brotam de uma praça de entrada central, coberta por folhas de vidros fragmentados, que são simbólicos do estilhaçamento dramático do regime anterior. Porro utilizou abordagem diferente com o projeto da Escola de Artes Plásticas, que foi inspirado pela herança cubana-Africana da nação e assume uma estrutura arquetípica de vila, composta de uma série de pavilhões ovais de variadas dimensões, conectados com curvas e colunatas sombreadas.

Escola de Dança Moderna por Ricardo Porro. Imagem © Adrián MALLOL i MORETTI

A Escola de Artes Cênicas, a única projetada por Roberto Gottard, contém um anfiteatro dominante, central. As salas de aulas celulares, viradas para o interior, criam um ambiente único e íntimo. Em contraste, o exterior, perfurado apenas por pequenos caminhos, como becos não sombreados, dá à escola uma aparência de fortaleza.

Escola de Artes Plásticas por Ricardo Porro. Imagem © Adrián MALLOL i MORETTI

O entusiasmo que acompanhou a origem das escolas começou a deteriorar-se com a crise dos mísseis cubanos de 1962. As escolas pareciam fora de escala com a Revolução: um uso extravagante e desnecessário de recursos. Além disso, o novo aliado de Cuba, a comunista União Soviética, preferiu a arquitetura funcional anonimamente pragmática, que se situava em flagrante contraste com os projetos de inspirações orgânicas e orientados ao artesanal e específicas ao sítio físico de Porro, Gottard e Garatti. Os três arquitetos foram acusados de promover ideais de expressão individual, marcadas como "burgueses", elitistas culturais e foram obrigados a deixar o país.

Escola de Dança Moderna por Ricardo Porro. Imagem © Adrián MALLOL i MORETTI

Em julho de 1965, e apesar dos vários estágios de finalização das escolas, a construção foi completamente parada. Nos anos que se seguiram, as escolas se tornaram refúgio para invasores e vândalos; gado e vegetação selvagem logo tomaram o terreno. Além disso, na década de 1970, as pessoas começaram a adaptar o local, construindo dormitórios pré-fabricados de concreto, bem como estradas e caminhos, que responderam a necessidades pragmáticas, mas interromperam o projeto original.

Escola de Balé por Vittorio Garatti. Imagem © Adrián MALLOL i MORETTI

Em 1999 as coisas começaram a mudar, quando o arquiteto americano e historiador John Loomis publicou um livro intitulado Revolution of Forms, que resgatou a história das escolas esquecidas de Cuba na consciência internacional. Nesse mesmo ano, em Cuba, José Villa, presidente do Conselho Nacional da União Nacional de Escritores e Artistas de Cuba, declarou o projeto como o trabalho arquitetônico mais importante da Revolução Cubana.

School of Modern Dance by Ricardo Porro. Image © Wikimedia Commons

Por fim, a atenção pessoal de Castro foi despertada e ele declarou que havia chegado o momento de restaurar o projeto amado de sua juventude. A conclusão das Escolas tornou-se uma missão nacional, liderada pelo próprio ministro da Cultura. Porro e Garatti foram convidados a voltar para Havana, onde juntaram-se com Gottard para uma reunião histórica em que se discutiu o desafio de restaurar suas obras-primas abandonadas. Como parte do plano, o renomado arquiteto Norman Foster foi convidado a redesenhar a escola de Balé; no entanto, o governo cubano acabou fazendo uma pausa na restauração devido à crise financeira global.

Escola de Dança Moderna por Ricardo Porro. Imagem © Adrián MALLOL i MORETTI

Mario Coyula, o arquiteto responsável pela preservação em Havana, declarou sobre o projeto: "Na maioria dos casos, a arquitetura deve adaptar-se às necessidades humanas, mas em casos de obras excepcionais de arquitetura, as necessidades humanas devem adaptar-se à arquitetura."

Escola de Dança Moderna por Ricardo Porro. Imagem © Adrián MALLOL i MORETTI

Confira o trailer do incrível documentário Unfinished Spaces, dirigido por Alysa Nahmias e Benjamin Murray, que conta a história das escolas e apresenta entrevistas com os arquitetos.

Referências: Revolution of Forms, World Monuments Fund, e Wikipedia.

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Sobre este escritório
Cita: Merin, Gili. "Clássicos da Arquitetura: Escola Nacional de Arte de Cuba / Ricardo Porro, Vittorio Garatti, Roberto Gottardi" [AD Classics: The National Art Schools of Cuba / Ricardo Porro, Vittorio Garatti, Roberto Gottardi] 29 Jun 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Souza, Eduardo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/790411/ad-classics-the-national-art-schools-of-cuba-ricardo-porro-vittorio-garatti-roberto-gottardi> ISSN 0719-8906

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