A Associação de Defesa do Meio Ambiente de Antonina - ADEMADAN e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná instituíram o Concurso de Ideias de Arquitetura para Revitalização da Praça Feira-Mar, no município de Antonina/PR. O Concurso tinha por objetivo a seleção, dentre as propostas apresentadas, da solução arquitetônica e paisagística mais adequada para a revitalização da Praça Feira-Mar.
Em 1º lugar do concurso ficou o projeto desenvolvido pela equipe formada pelos escritórios de Arquitetura pela Rua, Mag arquiteturas, Metropolitano Arquitetos e Valls, com autoria de Bernardo de Magalhães, Camila da Rocha Thiesen, Cássio Sauer, Diogo Valls e Elisa Martins e colaboração de Jefferson Scapineli e Lucas Schneider Zimmer.
Apresentamos a seguir o projeto vencedor.
Dos Arquitetos:
ENTRE A CIDADE E O MAR
Projetar a partir de um cenário único como o de Antonina é uma oportunidade de propor estratégias capazes de potencializar o existente e, ao mesmo tempo, preservar a memória do passado. Unir a paisagem natural com o patrimônio construído, o histórico com o novo, o turístico com o local.
O potencial da cidade de Antonina - devido à proximidade com Curitiba, que a coloca na rota turística em direção ao litoral paranaense – é somado ao rico patrimônio histórico e cultural, ao artesanato da cultura caiçara, à forte gastronomia tradicional e ainda à emblemática paisagem natural de sua implantação à margem da baía e circundada pela cadeia de montanhas da Serra do Mar. Atualmente é necessário contar a história Antonina, resgatar sua autoestima e incrementar a economia local.
A praça “Feira-Mar” apresenta uma condição específica de conexão entre o patrimônio natural e o construído. A trajetória desse local está diretamente relacionada com as atividades portuárias e comerciais. Assim, é fácil entender a importância da área do mercado que está gravada na memória da comunidade como uma zona de trocas, um local importante para a cidade que merece revitalização.
O edifício do mercado atual não possui valor histórico ou qualidade arquitetônica. Ele se configura como um volume encerrado e monolítico com pouca relação com a praça e seu entorno. A área limitada do edifício acarretou na criação de anexos que desconfiguraram ainda mais o mercado. É ponto fundamental do projeto a inversão da atual condição do mercado: demolindo o edifício existente e propondo a criação de um sistema diluído pela cidade. A estratégia principal é criar um mercado aberto que se aproprie das edificações existentes do entorno e se dissolva por toda a extensão da praça “Feira-Mar”.
A descentralização do mercado de um único edifício e o desmembramento do programa em módulos comerciais distribuídos pela praça, pelos casarios e pelas ruínas circundantes propõe a ativação do centro histórico reforçando a proposta original da praça “Feira-Mar”. O conceito de módulos comerciais busca manter a essência do pequeno comércio e ao mesmo tempo garantir maior permeabilidade e integração aos programas distribuindo o programa de mercado. Este sistema é flexível e pode crescer ou diminuir conforme a necessidade dos comerciantes.
Renovar as atividades nas imediações da área de projeto é sugerido como uma forma de estender a conexão da praça com a própria cidade. As intervenções propostas assumem um caráter de preenchimento, ocupação e recuperação dos lotes e imóveis subutilizados. Os novos volumes preservam o traçado urbano original respeitando o alinhamento e gabarito das construções vizinhas. Nota-se que esta proposta prevê a manutenção das ruínas como testemunhas do passado, possibilitando ler, reconhecer e contar a história de Antonina.
Sugere-se a ocupação dos lotes e edificações com equipamentos de uso público como biblioteca, centro cultural, museu, entre outros, de acordo com a proposta de intervenção, se adequando a escala das preexistências. Estes programas visam incentivar o turismo e fomentar a cultura do município ajudando a contar sua historia. Restaurantes, lojas e bares também compõem o programa proposto tanto para os novos edifícios como para o conjunto de casarios existentes e contribuem para a ativação tanto diurna quanto noturna dos equipamentos e do entorno.
Esta estratégia visa ampliar a intervenção tendo a praça “Feira-Mar” como a primeira etapa para a revitalização da antiga área portuária de Antonina. Assim considera-se a criação de um plano para o setor que incentive a restruturação dos edifícios patrimoniais em conjunto com o desenho do espaço público garantindo que o projeto cresça progressivamente e que agregue ainda mais qualidade ao ambiente urbano. Neste sentido, é sugerida a criação de diretrizes e incentivos ficais que estimulem o investimento nos edifícios históricos e lotes desocupados, viabilizando restauros e intervenções.
As soluções adotadas para o projeto de revitalização da praça “Feira-Mar” foram pensadas com o maior poder de síntese no que diz respeito à integração paisagem-cidade-usuário. A intervenção arquitetônica proposta é sutil e não compete com o valor patrimonial dos edifícios existentes. Os novos elementos são sobrepostos ao existente como peças metálicas leves e neutras que complementam a ambiência histórica da cidade.
Foram estabelecidos pontos de conexão entre a intervenção e a cidade que geram integração à escala e à rotina existentes como o trapiche, a Igreja Nossa Senhora do Pilar, a ruína do Armazém Macedo e o Mercado do Peixe.
A NOVA “FEIRA-MAR”
A proposta para a nova “Feira-Mar” configura uma esplanada que interliga diferentes programas. Um eixo central encaminha o visitante a percorrer toda a extensão da praça e direciona o percurso até as ruínas do Armazém Macedo, à escadaria de acesso ao belvedere e à Igreja Nossa Senhora do Pilar. O percurso histórico proposto percorre os edifícios tombados e exemplares relevantes, estimulando o visitante a caminhar pela cidade e vivenciar as diferentes visuais para a baía de Antonina.
Ao nordeste um espaço multiuso é demarcado por uma cobertura leve e translúcida capaz de abrigar diversas atividades como área de exposições temporárias, feira do livro, cinema ao ar livre além da venda de produtos locais, artesanato e produtos gastronômicos - anteriormente concentrada no edifício do mercado. O uso comercial ocorre, assim, tanto nos módulos como também em eventos temporários como feiras e bazares. A configuração de um local sombreado e amplo gera um espaço flexível que proporciona múltiplas apropriações além de oportunizar um local de encontro e contemplação da paisagem.
A interligação da área coberta com a faixa central da praça configura uma grande área livre e dinâmica que poderá receber shows, manifestações artísticas e feiras. Assim, a praça também foi pensada para atender e ampliar os eventos tradicionais da cidade como o Carnaval, o Festival de Inverno, as festas religiosas como a Festa da Padroeira Nossa Senhora do Pilar e eventos esportivos.
A configuração da praça se dá através da setorização em três faixas: comércio, eventos e atividades. O tratamento do piso delimita a área da praça e evidencia as faixas longitudinais setorizando as áreas verdes arborizadas e o espaço livre central que conecta toda a intervenção. As faixas transversais de vinte em vinte metros – marcadas pelas luminárias - compõem uma malha ordenadora que atribui escala e ritmo ao conjunto demarcando a área de intervenção.
Na faixa de atividades são delimitadas zonas com diversas possibilidades de uso: áreas de estar, sombra, contemplação e lazer com equipamentos de ginástica e jogos infantis. Junto à orla, a balaustrada preexistente configura um percurso para caminhadas que circunda os demais programas.
O desenho proposto busca qualificar a praça como equipamento de lazer para a comunidade com amplo potencial turístico privilegiando e liberando as visuais para a cidade e para o mar. O tratamento do espaço público circundante à praça é unificado considerando a utilização do pavimento em pedra tradicional como elemento de identidade e integração ao existente. Neste sentido a proposta considera o alargamento das calçadas e o nivelamento entre via e passeio público em todo o perímetro da praça, tendo como objetivo integrar os fluxos de pedestre, bicicleta e carros privilegiando a travessia peatonal e reduzindo a velocidade dos veículos.