- Área: 21 m²
- Ano: 2015
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Fotografias:Rogério Canella
Dos arquitetos: O projeto Trançado é um mobiliário urbano implantado no Largo da Batata, São Paulo, selecionado pelo concurso Batatalab, realizado pelo Instituto A Cidade Precisa de Você e IPIU Instituto de Pesquisa e Inovação em Urbanismo. O concurso teve como objetivo promover experiências de inovação no mobiliário urbano, novas tecnologias e pesquisa de componentes construtivos com potencial de replicabilidade, com intenção de incentivar que os espaços públicos se tornem melhores espaços de convivência.
Trançado foi projetado pelo grupo de pesquisa Quasares, composto pelos arquitetos Dyego Digiandomenico, Gabriele Landim e Henrique Fischer. O grupo se dedica a busca de soluções arquitetônicas através da tecnologia e tem seu foco em processos de projeto computacionais e arquitetura algorítmica.
O partido arquitetônico adotado está incorporado no próprio processo de projeto, alinhado à exploração das tecnologias computacionais, com objetivo de transcender o entendimento do paradigma computacional em arquitetura de mero recurso de representação gráfica ou promotor de formas aleatórias a um recurso preciso no gerenciamento de múltiplos elementos presentes nas dinâmicas entre formas, materiais, aspectos ambientais e sociais.
A partir disso, pode se reconhecer que todo projeto tem inúmeras variáveis que precisam ser balanceadas e o uso dos recursos digitais amparam na busca por respostas coerentes às necessidades do projeto.
A primeira premissa da proposta parte do tema do concurso “Sombra”, que inicialmente remete a uma cobertura fechada. Entretanto, fatores como contato visual com a praça e a incidência de vento no local, incitavam um projeto que também contemplasse a permeabilidade. Outro ponto importante foi a experiência visual dos cidadãos e a reflexão de como alcançar uma estética instigante, que pudesse oferecer padrões interessantes de sombra. Todos esses parâmetros deveriam estar alinhados ao orçamento disponível.
O ponto de equilíbrio entre os parâmetros técnicos e plásticos para o projeto surgiu do interesse do grupo pela parametrização de técnicas primitivas, e na releitura dos trançados brasileiros.
O resultado do processo de projeto como um todo não foi exclusivamente o objeto mobiliário Trançado, mas sim o algoritmo programado através de um encadeamento de parâmetros que ao serem alterados permitem que o projeto possa responder aos diferentes contextos.
Na concepção e materialização da forma, foram empregados os recursos digitais na avaliação de desempenho de materiais, resistência estrutural, permeabilidade visual, experiência sensorial e fluxo de pedestres, combinados com parâmetros de incidências de luz e sombra com objetivo de garantir o trançado mais eficiente para o projeto.
Devido à complexidade geométrica do trançado foram extraídos dados do código e gerado a sequência para o trançado das cordas, o que racionalizou o processo, tornando-o mais simples.
O projeto é composto de seis pórticos metálicos em aço galvanizado, unidos por travamentos inferiores em tubos de seção quadrada e superiores em ferro redondo. Ao longo dos pórticos, estão fixadas argolas em ferro que orientam a posição das cordas que formam o trançado, ao todo são 372 argolas. Estão dispostos abaixo da estrutura doze bancos cúbicos em cantoneira e chapas metálicas. Todas as peças foram galvanizadas e pintadas com tinta em pó de poliéster na cor cinza grafite.
O trançado é feito de corda polietileno azul torcida de espessura quatorze milímetros com tratamento UV. As pontas foram fixadas com abraçadeiras de aço inox. Ao todo foram usados 1630 metros de corda para trançar todo o mobiliário.
O projeto serviu como insumo para pesquisas na área da arquitetura e tecnologia, apesar de sua fabricação em serralheria por questões orçamentárias, foram realizadas análises de processos file-to-factory (do arquivo para a fábrica), caracterizado pela comunicação direta entre o arquivo digital e o equipamento de fabricação, a fim de sobrepor as possíveis formas de fabricação e comparar seus desempenhos.
Deseja-se que a população no Largo da Batata encontre no Trançado conforto e prazer sensorial ao transitarem ou permanecerem. O mobiliário Trançado é uma interface para o que importa verdadeiramente, a ocupação do espaço público pelas pessoas, os encontros e a convivência.