- Área: 200 m²
- Ano: 2016
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Fotografias:colectivoMEL
O Meio
Pensamos o projeto no lugar, observando-o, atentos ao sol, às marcas das chuvas, ao vento, às crianças. Aqui os nossos conceitos são abstratos e a arquitetura é necessariamente outra porque o meio é outro. Aqui a arquitetura é formada por duas partes, espaço interior e espaço exterior, embora com códigos de espaço de transição.
O Interior é o abrigo íntimo! Local de proteção, vernaculamente escuro, sem janelas e exíguo. É massa, é matéria.O Exterior é o palco de tudo! No exterior lavam-se os corpos, cortam-se cabelos, cozinha-se e come-se, permanece-se expectante observando a ação que se desenrola no negativo do construído e que não cabe na designação de rua ou praça, brinca-se, conversa-se, cresce-se e casa-se.
Estes dois espaços, interior e exterior circunscrevem-se pela cobertura, expressão máxima da arquitetura vernacular. A cobertura protege o Interior da chuva, resguarda o exterior do calor e marca a construção na Natureza.
Conceito
Desse ponto partimos.
É essa a lição dos djemberens, uma cobertura que abriga um djumbai. Uma cobertura que abriga a ação, de uma criança que pinta a arvore que vê projetada na parede curva de uma criança que descobre dois sons distintos quando ao caminhar pisa materiais diferentes. de quatro crianças que descobrem o seus reflexo e com ele riem. de outras que correm por entre as paredes estreitas que lembram um labirinto e que não veem outra que se esconde num pequeno nicho das duas dezenas de crianças que atentas ouvem o ”O Silêncio da Água” de J. Saramago na sala aberta para os cajueiros. e do adulto que se arrepia, com a música da ação que sente. Massa e matéria ao serviço da criança, estimulando-a. Um Jardim onde voam e cantam pássaros e mininus.
O projeto desenvolve-se segundo o eixo Norte/Sul nas suas fachadas de maior dimensão, considerada a orientação mais favorável tendo em vista o controlo da incidência dos raios solares. Os espaços maioritariamente abertos e cobertos favorecem a ventilação e evitam o sobreaquecimento. A grande cobertura inclinada protege a estrutura no período das chuvas. A implantação obedece também a critérios de integração com os edifícios pré-existentes, além de promover o controlo dos espaços exteriores, dando forma ao terreno relativo ao espaço escolar. Pretende-se respeitar a Natureza integrando, sempre que possível, as árvores pré-existentes e aproveitando o seu sombreamento como parte integrante do projeto.
A eleição dos materiais teve como base a observação dos vários sistemas construtivos autóctones, a economia de recursos, a durabilidade e o aproveitamento do conhecimento empírico local. Pretende-se que as opções construtivas resolvam e evitem problemas tais como o sobreaquecimento ou as inundações, a invasão de térmitas e a degradação e consequente abandono, originados pela utilização e pelas fortes características climáticas. Consideramos uma estrutura mista de perfis de ferro e madeira, que conformam o espaço e suportam uma cobertura idealmente em colmo, preparada para seguir o mesmo método ou receber tanto telha como chapa zincada no futuro, segundo a decisão da comunidade.
O esquema do Jardim, preparado na sua base para albergar 100 crianças divididas em dois turnos, 50 crianças por turno, obedece às dimensões definidas de 1,5m2 por criança, dimensão à qual acrescentamos 1m2 de espaço exterior coberto. Cada sala está pensada para 25 crianças no máximo, sendo que nos casos em que é necessário albergar 150 crianças, o esquema cresce, formando mais uma sala que se utilizará dividida em dois turnos. No caso de Có em que se preveem 300 alunos, propõe-se duplicar a estrutura.
Todo o projeto está pensado no sentido de implicar a comunidade desde o primeiro momento da concepção até à materialização da proposta, tendo em vista a apropriação e identificação dos utilizadores com o equipamento que propomos.