- Área: 450 m²
- Ano: 2016
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Fotografias:Joana Soda
O museu no museu
A solução encontrada por Miguel Vieira Baptista para desenvolver o projecto da exposição “Museu infinito” está directamente ligada à breve existência do Museu Industrial da Cidade do Porto.
Criado em 1889 pelo dinâmico Joaquim de Vasconcelos, este museu, surgiu com o objectivo de articular o trabalho produzido por artistas e artesãos com a industria da época e de uma vontade de desenvolvimento industrial do país.
Noutros museus na Europa, como o Museum of Manufactures, actualmente Victoria & Albert Museum, desde cedo se percebeu a sua importância na melhoria da produção industrial bem como o papel fundamental na formação cultural e sensibilidade do público. Em Portugal não houve essa preocupação e em 1898 o museu Industrial do Porto é extinto numa decisão política míope.
Ao entrarmos na exposição “Museu infinito” somos confrontados com uma série de caixas de cor assentes no chão, dispostas de forma a encaminharem os visitantes num percurso pela sala.
A organização, em sequência cromática destes módulos expositivos remete precisamente para a ideia de tempo, de início e de fim, que Miguel Vieira Baptista quis reforçar.
O dégradé de vermelho começa contaminado pelo branco da parede inicial, onde encontramos o nome da exposição e vai-se intensificando até meio da mesma, altura em que começa a escurecer acabando no preto. Um último módulo que, para além da sua cor mais dramática, faz formalmente referência directa à planta do pavilhão onde estava instalado o museu no Porto.
O ciclo de nove anos de existência do museu foi organizado em nove núcleos expositivos, onde vamos descobrindo parte dos objectos do quotidiano que compunham a colecção original do museu, e que estão hoje espalhados por vários museus no país.
Objectos que por questões de segurança tinham que estar protegidos por vidros na exposição. Uma exigência técnica que surgiu a meio do processo do projecto e que resultou num peculiar desajuste dimensional entre as vitrines/caixas e os planos de vidro, que foram intencionalmente reaproveitados de exposições anteriores.
Este carácter mais irregular do projecto é reforçado pela utilização de diferentes dimensões, exteriores e interiores dos módulos expositivos e surge da necessidade em acomodar conteúdos de naturezas muito diversas. Consegue-se atribuir aos objectos uma lógica de colecção programada, que se confronta e dialoga com o espaço de demolição interrompida do MUDE. Poeticamente somos tentados a pensar que o museu volta ao museu, o que faz dele um museu infinito