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Arquitetos: Daniel Moreno Flores, Sebastian Calero
- Área: 25175 m²
- Ano: 2015
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Fotografias:Lorena Darquea
Descrição enviada pela equipe de projeto. Os projetos que fazemos correspondem à compreensão de todas as partes e singularidades de cada contexto em particular. Não pretendemos buscar soluções pré-determinadas, por que as ideias desta casa nascem de desejos, experiências e da forma de viver dos clientes.
O proprietário, quando pequeno, usava seu tempo tentando decifrar o funcionamento dos relógios antigos. Esta paixão pela mecânica levou-o, mais tarde, às motocicletas e os carros Land Rover. Ele se interessava por ter uma casa muito didática, utilitária e desmontável (no entendimento das peças como a mecânica destes veículos), e que onde as soluções construtivas estivessem visíveis, sem importar sua fabricação. Quando compreendemos este vínculo direto com o metal, surgiu a ideia e a vontade de viver em uma casa de contêineres. Uma das principais razões para experimentar com este material foi a economia de energia que ele implica, já que depois de sua vida útil esses objetos transformam-se em descarte (e com a quantidade desses objetos existente no mundo, isso torna-se um problema). Ao mudar sua função habitando esses espaços, não só cria-se um novo uso, mas também constrói-se de forma limpa. No projeto fez-se um trabalho de simplificação, onde foram mantidas apenas as peças necessárias.
Posteriormente chegaram a La Morita (Tumbaco), sete contêineres de 20 pés e um de 40 pés, procedentes de Guayaquil. Estes módulos deveriam ajudar a conformar uma residência singular, implantada em uma grande área verde, quase plana, e desligada do barulho mundano da cidade.
O início
Os contêineres são imperfeitos. Eles mantêm todas as suas cicatrizes como legado de seu registro de batidas e história de usos. Esses objetos foram pensados como os espaços complementares da residência: despensa, banheiros, closets e cozinha, e foram utilizados em seu estado praticamente natural. Nesse momento considerou-se a possibilidade de não fazer mudanças em sua estrutura original, e, caso se fizesse, encontrar uma justificativa para intervir. Dessa forma, as modificações realizadas foram estratégicas e ligadas diretamente a critérios de iluminação, ventilação e conexão entre ambientes internos e externos.
Por outro lado, com o objetivo de evidenciar a essência material, retirou-se a pintura de fábrica na parte externa (metal aparente), enquanto que no interior manteve-se um caráter neutro e sanitário, orientado pela cor branca. Posteriormente, trabalhou-se o piso, o qual teve sua madeira original mantida.
O processo
Foram planejadas quatro etapas de construção:
A primeira relacionava-se com o derretimento das plataformas, algumas bases retangulares de concreto polido, estrategicamente dispostas e organizadas ao longo da topografia de forma a criar pequenas manchas funcionais. Devido a uma ligeira variação de níveis no corte longitudinal do terreno, as plataformas sobressaem o menos possível a partir da aresta mais alta, transformando-se em pequenas ilhas embaçadas à vista.
A segunda etapa foi de montagem, alinhamento, e ancoragem dos contêineres sobre as plataformas de concreto por meio do uso de uma grua mecânica. Em todos os casos, os contêineres foram apoiados sobre o concreto e implantados de forma a criar um pequeno balanço para o exterior, criando uma sensação de equilíbrio e controle de pesos. Estas peças distanciam-se umas das outras com o objetivo de criar e delimitar os espaços habitáveis e, por sua vez, constituir a coluna vertebral da casa, sobre a qual repousam as coberturas.
A terceira fase refere-se ao posicionamento e soldadura do sistema de vigas metálicas. Estes feixes cruzam de contêiner para contêiner e ajudam no reforço das telhas de concreto.
Por fim, a quarta etapa consistiu em descer, a partir da cobertura, um sistema de cabos e vigas que conformam os dormitórios, em cujos interiores predomina o uso de madeira como material principal.
A residência estabelece uma fonte conexão com o exterior (área verde e montanha) e todos os espaços entre os contêineres são usa espécie de ausência material onde os únicos elementos perceptíveis são as peças metálicas e o vidro.
Foram projetados três sistemas mecânicos para transformar o uso nos espaços, um elevador manual para subir ao segundo pavimento, persianas manipuláveis colocadas nos dormitórios, e um piso flexível no banheiro principal, que se dobra e desdobra para viabilizar a ocupação de uma banheira. Todas essas soluções são como um jogo, que permitem ao usuário ser um participante ativo na arquitetura pensada para ele.