- Área: 2046 m²
- Ano: 2016
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Fotografias:Jesús Granada
Descrição enviada pela equipe de projeto. Um lote disponível em um antigo matadouro que teve de ser demolido... Ao lado do cemitério... Em uma área com uma população de baixa renda.
O projeto surge pela necessidade de alojar famílias com dificuldades que ocupavam de forma irregular as ruínas do antigo matadouro de Chipiona. Um dado importante era o fato deste lote estar localizado próximo ao cemitério local. Durante estes longos anos de obra e gestão municipal (mais de 10) a região transformou-se em um lugar de peregrinação que recebe centenas de pessoas para homenagear um dos artistas mais populares da Espanha, um nativo da cidade cujos restos mortais estão no cemitério vizinho.
Chipiona é uma das cidades de veraneio mais antigas da região de Andaluzia. Ela possui uma conformação histórica típica da costa de Cádiz que rivaliza com os blocos de apartamentos que foram construídos nas últimas décadas. O principal atrativo local são suas praias e suas conhecidas comunidades de pesca.
O lote
Com uma superfície de quase 1.500 m2, o lote situa-se ao norte de Chipiona. Ele possui três frentes para ruas e uma empena que deveria ser coberta. Na frente da Rua Guadiana, com a clara intenção de das as costas para o cemitério, encontrava-se a porta principal do antigo matadouro. Por um lado, mantivemos no projeto essa entrada principal pela frente original, a qual é acessada por pedestres, e, por outro, o recuo da rua foi designado a ser parte da área de jardim do projeto. Com esta moldura de plantas aromáticas e a treliça sobre a porta de acesso, dignificaremos e marcaremos o acesso principal ao interior do conjunto.
Oposto à entrada anterior, na Rua San José e em frente ao cemitério, implantou-se o acesso compartilhado de veículos e pedestres. O eixo que originou essas duas entradas é estabelecido por uma rua interna com uma pequena praça. Este espaço serve como local de distribuição, encontro, permanência e dispersão da comunidade ao redor dos longos bancos que limitam os canteiros, e proporciona tranqüilidade, possibilidade de cuidar das coloridas plantas (tão comuns na região), enquanto se desfruta a tertúlia vespertina com os vizinhos, ou se vigia as crianças enquanto brincam na sombra dos limoeiros. Esse espaço conforma, assim, o núcleo tranqüilo e isolado no qual concentra-se a vida íntima do conjunto, da mesma forma como se costumava viver nas comunidades de pesca, como uma grande família.
"Minha infância são lembranças de um pátio (...) e um jardim iluminado onde amadurece o limoeiro" (Antonio Machado)
As residências foram dispostas seguindo rigorosos critérios de máximo aproveitamento em planta, reduzindo ao mínimo a área de usos comuns. Os núcleos úmidos foram dispostos na parte central da estrutura para otimizar instalações e minimizar custos. As residências orientadas ao interior do lote foram tratadas da mesma forma que as exteriores, já que a intenção é utilizar o espaço interno como uma praça privada, um espaço digno e bem formalizado, e não um resíduo ou interstício vazio entre as edificações.
As especificações técnicas e formais, além dos sistemas construtivos da propostas foram elaborados no sentido de cumprir com os padrões usuais econômicos e de qualidade nas residências de acolhimento oficiais, fazendo com que as unidades fossem estética e funcionalmente agradáveis para a vida dos futuros inquilinos dos imóveis.
O projeto levou em consideração a boa integração em seu contexto urbano e sua adequação às condições bioclimáticas da região, aproveitando ao máximo das orientações disponíveis, os materiais locais, e a composição estética da arquitetura e das formas de habitar de Chipiona. Apenas na parte interna haverá cor, onde o branco luminoso das paredes, o vermelho alegre das janelas, e o amarelo vivo dos portais combinem com o intenso azul do céu de Cádiz, enquanto guarda-se para a rua uma imagem mais sóbria e sem estridência, já que o cemitério está próximo.