-
Arquitetos: CoDA Arquitetura
- Área: 1700 m²
- Ano: 2011
-
Fotografias:Joana França, Aníbal Fontoura
-
Fabricantes: AMG, Cristal Mais, Doimo Brasil, FAB, Imax, Jovelino Madeiras, Marmoluz, Medabil, Permetal
Arquitetura do convívio
O projeto da nova sede da Fabrika Filmes surge a partir de um desafio central: criar um prédio conciso e flexível, adaptado às necessidades de uma produtora de vídeos e suas empresas parceiras. Nesse contexto, uma análise cuidadosa da sede anterior da empresa foi crucial para o desenvolvimento de um programa de necessidades que comportasse a transferência da sede e sua futura expansão. Para isso, não foram apenas consideradas as funções e distribuição dos núcleos, mas também a forma dinâmica de trabalhar e a forte interação social existente na produtora. O novo prédio deveria atender à mobilidade de uma empresa em constante transformação em que se destaca a intensa convivência nos espaços comuns, mesmo a partir de uma hierarquia de núcleos bem definidos.
O terreno, localizado no novo trecho 17 do SIA (Setor de Indústrias e Abastecimento de Brasília), também impôs seu desafio. Se por um lado costuma-se a encarar o contexto urbano como elemento de diálogo e motivação para as primeiras decisões arquitetônicas, o que dizer de um terreno em que o contexto urbano ainda não existe? Pois foi exatamente esse o caso do trecho 17 do SIA, área criada a partir de um programa de incentivo do governo distrital, onde o urbanismo foi executado concomitantemente à construção da maioria dos prédios. Com isso, o contexto inicial do lote levou em consideração apenas os poucos elementos existentes: a orientação, os ventos dominantes e a presença distante da via Estrutural, uma das principais vias expressas da cidade.
Primeiramente, optou-se por posicionar o estúdio no fundo do lote, aproveitando ao máximo os recuos obrigatórios permitidos e deixando uma faixa lateral de 3,8m para a circulação de veículos de carga. Observou-se que as áreas adjacentes ao estúdio, juntamente com os núcleos de edição e dos funcionários deveriam cercar o estúdio, o que representaria um entrave às áreas comuns do térreo. Com isso em vista, foi tomada a decisão de utilizar o subsolo, onde a legislação permite a ocupação máxima. Assim, o estúdio fica semienterrado, com seus acessos pelo pavimento inferior. Em torno do estúdio colocam-se suas áreas anexas e o núcleo dos funcionários. Na porção frontal do subsolo, fica o núcleo de edição, situação oportuna uma vez que essa área requer um maior controle da iluminação e ventilação naturais devido a questões técnicas – calibragem de cores e bloqueio de ruído.
Com a construção de cerca de 80% da área do subsolo, a preocupação com as necessidades de ventilação e iluminação natural teve que ser reforçada. Dessa forma, foram dispostas sempre que possível, saídas de ar quente e entradas de luz, como a que existe sob o banco do térreo, estrategicamente colocado para reforçar o convívio na área externa e ao mesmo tempo garantir um subsolo arejado e naturalmente iluminado. Mesmo nas áreas com restrições de iluminação, pareceu necessária a realização de um largo recorte no terreno que permitisse aos usuários do subsolo um contato direto com ambiente externo. Ali logo abaixo da entrada principal da Fabrika, emerge uma enorme parede verde, sinalizando a presença de vida no subsolo. Afinal, é nesse núcleo que as pessoas passam mais tempo trabalhando, muitas vezes madrugada adentro. Nesses momentos torna-se fundamental a distinção entre o dia e a noite, por isso a luz natural nas áreas comuns.
A partir do posicionamento do estúdio, decidiu-se por deslocar a circulação vertical de seu local mais óbvio, à frente do lote, para a área central, ao lado do estúdio. Essa opção divide os pavimentos superiores – onde ficam as áreas de escritórios – em duas partes, contribuindo para uma satisfatória estratificação da edificação, que passa a ter mais flexibilidade e melhor rentabilidade do espaço. Assim, se faz possível uma série de variações de layout nos pavimentos destinados ao aluguel e à parceria com empresas e autônomos de interesse mútuo. Além disso, a opção por um espaço central de distribuição integralmente vazado de baixo até em cima proporciona maior conexão visual entre as diversas áreas do prédio e possibilita uma quantidade maior de encontros, reforçando o caráter social da empresa.
O átrio resultante desse vão central constitui o principal espaço de exceção da Fabrika. O átrio é o núcleo, a origem de todo o trânsito de pessoas. Seu pé direito é completo, integra as passarelas suspensas com a circulação vertical, cria um vínculo visual permanente entre as funções sociais e restritas e intersecciona a modulação contínua da estrutura metálica. Ali se percebe a movimentação ao longo dos dois pavimentos de escritórios e o térreo, característica reforçada pela intensa presença do vidro, tanto nas fachadas leste e oeste como no teto e nos fechamentos do elevador, das escadas e das passarelas de conexão entre os dois lados do prédio.
Para reforçar o dinamismo desse espaço utilizou-se de um recurso plástico pouco usual. Sendo o piso do átrio um quadrado perfeito, formado por 16 placas cimentícias de 120 x 120cm e a cobertura formada por uma pele de vidro, espelhando a modulação do piso, as passarelas que conectam os dois lados do prédio representam uma ruptura nessa regularidade. Pode-se imaginar um cubo torcido, como uma espinha dorsal, criando vazios imaginários a partir de recortes quadrados rotacionados sobre as passarelas. Esse efeito é reforçado pela paginação de madeira tangenciada por rasgos de luz, tanto nos forros quanto nos pisos das passarelas.
O percurso de acesso de pedestres foi resolvido desde a entrada frontal do lote até o átrio central, no pavimento térreo. A solução foi estender uma marquise negra em direção à frente do lote, um prolongamento da estrutura de concreto do estúdio. Esta proposta propicia uma cobertura adequada ao acesso do pedestre ao longo do caminho. Esse gesto é simbólico: o estúdio estende um braço em direção à cidade e, assim, convida os visitantes a acessar o edifício.
Os pavimentos de escritórios (2º e 3º) possuem as características de flexibilidade requeridas pelo programa. Para tanto, foi criada uma coluna de áreas comuns – banheiros, DML e copa – voltada para o átrio central, liberando o vão principal para conter apenas áreas de trabalho. Nelas, o vão livre tornou-se possível a partir do uso da estrutura metálica, que vence um vão transversal de 10,8 metros e também do emprego de piso elevado, tornando possíveis rápidas mudanças de layout. O uso de shafts exclusivos para instalações lógicas e elétricas foi fundamental, uma vez que se pode facilmente recabear o edifício inteiro conforme a necessidade.
Outra vantagem da forma obtida nos escritórios é a grande abundância de luz natural aliada à ventilação cruzada, dispensando em grande parte das vezes o uso de recursos artificiais de iluminação e ventilação. Fechando a composição dos pavimentos de escritórios, há as varandas, generosos espaços de convivência para os escritórios, conectados à copa e às passarelas do átrio central. Essa estrutura auxiliar, formada por um balanço de 1,8m da estrutura metálica, conecta o prédio longitudinalmente ao longo da fachada leste, protegida por chapas metálicas perfuradas.