- Ano: 2012
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Fotografias:José Luis Saavedra
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Fabricantes: 15 Craftmen, Lucien Burquier, PolyteSolet
Descrição enviada pela equipe de projeto. Para atrair mais visitantes ao Lago Lanalhue, no oeste do Chile, o empreendedor de turismo Pedro Durán contratou a arquiteta Susana Herrera e sua equipe FACTORIA para criar um símbolo para a região. Como resultado, ela projetou um catamarã que surge da água como um conjunto de folhas de tabúa-de-espiga-negra (Typha).
"Queríamos que essa folhagem artesanal emergisse da própria natureza do lago, de suas gramíneas de pântano, da natureza selvagem de sua costa, como uma criatura de madeira entrando e saindo da neblina, sempre presente nas lendas místicas do lago", ela diz.
Ela desafiou uma equipe da PolyteSolet e mais de 15 artesãos locais para construir o barco, integrando natureza, tecnologia e sustentabilidade. O resultado é a Arca de Quelen, um catamarã de 10 por 4,5 metros que pode transportar até 40 passageiros além da tripulação. Construído com louro laminado e cipreste, e equipado com um bar e uma boutique que vende produtos locais e artesanato, o navio já se tornou uma fonte de orgulho local. E ao mesmo tempo que navega um lago distante, também visa atrair viajantes do exterior para vivenciar seu design singular.
Precisávamos dar conectividade entre os vários empreendedores turísticos do lago, e ao mesmo tempo entregar uma experiência memorável e única. Queríamos que a arca se movesse quase de forma secreta e suave, para alterar o mínimo possível a fauna circundante. Para isso, o catamarã de casco duplo deu a estabilidade e segurança que precisávamos.
Assim como os ancestrais mapuches construíam suas canoas - chamadas Wampos - a partir de um tronco esculpido, esta embarcação foi construída em madeira e homenageia aqueles que habitaram os lagos muito antes de nós.
Este projeto teve que incorporar parâmetros além daqueles relativos à arquitetura, que, por sinal, eram muito atrativos em termos de design. Tivemos que nos familiarizar com técnicas de desenho tipo lofting, modelagem 3D, cálculos hidrostáticos e criação de layouts de barcos. Em termos de processo projetual, foi utilizado tanto o desenho assistido por computador (CAD) como o técnicas tradicionais de artesanato em madeira.
Força resiliente, impermeabilidade permanente e as graciosas gramíneas de pântano são parte do tema do projeto. As costelas estruturais destacam a verticalidade do navio, desmaterializando-se à medida que elas se direcionam ao céu no segundo nível. Além disso, elas dão uma imagem integrada para os dois patamares do barco. O primeiro nível é fechado por uma pele de policarbonato curvo e janelas de correr que permitem uma vista panorâmica de 360 graus dos arredores durante o inverno. Já o segundo nível é completamente aberto para a paisagem. Isso contribui para quebrar a sazonalidade do turismo. A ideia é pensar nesta embarcação como uma expressão orgânica da natureza, com a arquitetura e o design refletindo a especificidade deste lago por meios artesanais, incluindo os materiais naturais, sistemas de software e métodos de fabricação de madeira laminada.
Combinamos os métodos tradicionais de construção naval com a construção de madeira moldada a frio. A técnica envolve a laminação de camadas de folhas e varas de madeira para criar um casco que é estanque, extremamente forte e leve. Adotamos as técnicas de marcenaria, enfatizando o uso de ferramentas manuais, para trazer uma experiência de contato próximo com a madeira, possibilitando que conhecêssemos e trabalhássemos com sua estrutura e complexidade.