O Concurso para edifícios de usos misto em Sol Nascente – trecho 2, organizado pela CODHAB/DF, teve o resultado divulgado recentemente. Veja a seguir a proposta que recebeu o segundo lugar, desenvolvida pelo escritório l-adu, junto com Cauê Capillé
O edital do concurso coordenado pela CODHAB-DF pedia o projeto de 6 quadras em “L” idênticas, cada uma com dois blocos de habitação de no máximo 4 pavimentos, térreo comercial e uma praça entre esses blocos. Nosso projeto buscou, entre muitos objetivos, amenizar essa repetição de quadras e catalisar urbanidade em uma área de baixa densidade, principalmente através da disposição programática no térreo, da morfologia em blocos e da integração entre exterior/interior.
Cidade e habitação
Habitar é um verbo que se conjuga em intimidade, vizinhança e cidade. Em outras palavras, entendemos que ao fazer habitação, fazemos cidade. Para além de abrigar adequadamente a demanda por habitações em Ceilândia, nosso projeto para Sol Nascente ambicionou dar suporte a transformações de melhoria urbana mesmo após a sua implementação.
Os edifícios propostos funcionam como infraestruturas de articulação urbana: por um lado, respondem ao movimento das ruas principais através da criação de espaços para comércio, maior gabarito (quatro pavimentos) e acesso de pedestres, visando intensificar e garantir o florescimento de uma economia local. Por outro, atuam como conexão entre diferentes partes do bairro e, através das praças e pátios semi-públicos, menor gabarito nas ruas locais (três pavimentos) e habitação no nível térreo, proporcionam integração social e sentimento de pertencimento.
De fato, entende-se como grande desafio do projeto a criação de espaços que encorajem senso de comunidade e a noção de pertencimento. Espaços públicos e semi-públicos foram concebidos para funcionar de forma polivalente, possibilitando a inserção de diversas atividades comunitárias não pré-determinadas, e que venham da própria população local. Algumas possibilidades de uso imaginadas são: feiras livres, assembleias, festas culturais e atividades esportivas.
No térreo, ruas principais recebem frente comercial e acessos de pedestre e ruas locais têm residências e acessos de veículos e pedestre ao conjunto. Um fator importante a ser ressaltado é o fato do projeto não posicionar as vagas de carro na projeção das unidades residenciais. Em outras palavras, o desenho interno dos apartamentos não foi obrigado a seguir uma modulação imposta pelo tamanho de um automóvel. Muito pelo contrário, os ambientes internos têm suas dimensões e interrelação espacial de forma a respeitar e estimular os modos de habitar brasileiros. Além disso, se considerarmos os horários de fluxo de carros – saída de manhã e volta à noite – é possível imaginar que o espaço destinado a vagas pode ser utilizado como extensão das áreas comuns de convívio do conjunto. Desse modo, o projeto atende a demanda por carros exigida pela legislação, mas cria elementos arquitetônicos para a subversão desse uso: habitar e conviver não são limitados pelo tamanho e dinâmicas automobilísticas.
Morar
São projetados 140 apartamentos em cada conjunto em ‘L’. Os vazios gerados entre os blocos garantem vista desimpedida, ventilação cruzada e iluminação natural a todos apartamentos. Tais vazios também geram pátios internos por entre os blocos: áreas de convívio dos moradores. Ambientes internos atendem às medidas mínimas exigidas pelo programa de necessidades sem comprometer a qualidade dos espaços e a acessibilidade. De fato, um dos maiores desafios no projeto de habitação de interesse social está em otimizar espaços com unidades compactas (a fim de atender ao grande déficit habitacional com os recursos disponíveis) – garantindo uma positiva densidade demográfica – sem abrir mão do conforto e privacidade dos apartamentos. Em projetos de habitação de interesse social, além de beneficiar um maior de famílias e reduzir o custo de implantação do projeto, densidade significa convívio e potencial de transformação urbana através da formação de uma economia local.
Sustentabilidade ambiental e social
Nas suas diversas escalas, o projeto foi concebido para responder a demandas ambientais e sociais do local. Unidades contam com iluminação natural em todos os ambientes, ventilação cruzada e sombreamento das fachadas através de recuos e venezianas. Sistemas prediais de aquecimento solar de água e de reuso de águas cinzas, coleta da água da chuva nas áreas externas e nos estacionamentos contribuem com a redução sobre a infraestrutura do bairro.
O sistema construtivo proposto, bem como os materiais estruturais e de revestimento escolhidos, facilitam a participação local na mão de obra e fornecimento de materiais. Dessa forma, o projeto contribui para o desenvolvimento social sustentável com o seu entorno, reduzindo gastos de transporte para a obra e fortalecendo a economia local.
Arquitetos
l-adu + cauecapille.arqLocalização
Shsn Sol Nascente, 2 - Ceilândia, Brasília - DF, BrasilAutores
Priscila Coli, Cauê Capillé, Felipe GuimarãesÁrea
70500.0 m2Fotografias
Cortesia de l-adu + cauecapille.arq