Em meio a grandes muros, que mais parecem barragens de rios, surge um muro de tijolos estruturais, mais baixo, aproximando-se da escala humana.
O muro deixa aparecer um volume circular, de concreto aparente moldado in loco. É uma caixa d'água, um indício de que atrás do muro existe uma casa.
Ao abrir o portão chegamos a um platô de recepção, uma espécie de mirante de supervisão e contemplação do terreno acidentado, composto por uma vegetação exuberante. Um guarda-corpo, em concreto aparente, parte desse mirante, e faz tanto a limitação desse espaço como serve de elemento de condução para o interior da residência. Esse guarda-corpo atravessa a casa conectando sua forma com as formas do terreno.
Entrando na casa, temos um grande espaço integrado internamente e conectado à paisagem por grandes aberturas. Um pequeno escritório/recepção se conecta com a sala de jantar, essa sensação de continuidade visual é ampliada pela utilização do mesmo piso de tábuas corridas de madeira de lei e pelo ritmo imposto pelas vigas que sustentam a laje superior. Estes ambientes formam um mezanino, que se integra verticalmente com o setor social no andar de baixo através de um grande vazio.
A casa volta-se para o norte, aproveitando assim a iluminação e a ventilação natural, integrando interior (casa) e exterior (jardim). Ainda nesse pavimento superior temos o setor íntimo - a suíte do arquiteto - com as aberturas voltadas para o leste e o setor de serviços - cozinha, lavanderia e suíte do caseiro - com aberturas voltadas para o oeste.
O elemento que marca a conexão entre os ambientes internos e externos é o mesmo guarda-corpo do mirante de acesso, que entra dentro da casa como limite das aberturas do escritório, tem a função de guarda-corpo do vazio interno na sala de jantar e sai novamente para o exterior como guarda-corpo da varanda e da escada externa que desce para a churrasqueira no andar de baixo.
Do lado oposto do mezanino, entre a sala de jantar e a entrada do quarto do arquiteto, surge um poço de luz que ilumina a escada de acesso ao andar inferior.
Na parte de baixo, a área social volta-se para o norte, com grandes aberturas que permitem integração com o terreno, um grande jardim com paisagismo elaborado por Roberto Burle Marx. Os banheiros não tem janelas mas recebem iluminação zenital.
O térreo é o ambiente de destaque da casa, totalmente aberto e integrado com o exterior, e parcialmente integrado com o pavimento superior, através de pé-direito duplo proporcionado pelo vazio do mezanino. A casa está imersa no jardim, o que é possibilitado pelos panos de vidro, e ao sistema de cobertura independente e que avança para dentro do jardim, aumentando ainda mais a sensação de fusão entre os ambientes internos e externos. Essa sensação de continuidade é ampliada pela utilização do mesmo piso cerâmico e a manutenção do mesmo nível entre os ambientes externos e externos. Esse ambiente de estar social se abre tanto para o jardim, como para a varanda com churrasqueira, deixando uma sensação de um ambiente de grandes encontros e festividades. O pano de fundo desse ambiente é um painel de concreto com desenhos de Burle Marx, que além de elemento escultórico, é uma lareira e tem a função de armário.
Ainda nesse pavimento temos uma biblioteca particular e uma suíte para visitas com abertura para a parte interna da casa; e a casa de máquinas, depósito, banheiro e vestiário da piscina com abertura para a parte externa da casa.
O grande desnível do terreno entra pela casa, através do mezanino, e dele participa também o escritório, volume separado da área da casa, mas integrado através do jardim, que acontece sobre a laje desse ambiente, cuja acesso é independente. Muros de contenção sinuosos organizam o desnível e o paisagismo, que atende a casa como jardim no nível mais alto e como cobertura do escritório no seu nível mais baixo. As próprias edificações são projetadas como grandes muros de contenção do terreno. A cobertura da residência se destaca pela independência, que possibilita a planta livre, e a cobertura do escritório se destaca pela sua integração, visto que é o próprio jardim da casa.
O conjunto de edificações e jardins em platôs lembra um parque urbano, dentro de um terreno privado. O paisagismo vence o desnível, através de caminhos, escadarias e contenções, regulares e irregulares, formando grandes platôs com espaços de lazer e contemplação, em meio à natureza exuberante e em contraste ao concreto puro e aparente. Esse “parque urbano privado” faz a conexão da casa, onde a cobertura avança sobre o jardim, com o escritório, onde a cobertura é um terraço-jardim. Desenhos em alto relevo estão gravados nos muros de contenção do jardim e no painel do interior da casa, fundindo ainda mais os ambientes internos da residência com o jardim externo.
O escritório possui entrada independente através da rua inferior. Logo na entrada ficam a parte administrativa, os banheiros e a recepção, com grandes quadros das obras premiadas do arquiteto. Entrando pela porta, um imenso espaço aberto. com pequenas divisórias baixas e diversas pranchetas, oferece a visão completa do ambiente. Esse ambiente se abre totalmente para exterior através dos panos de vidro, que permitem a iluminação e a ventilação natural, com destaque para as aberturas pivotantes para o exterior. Outro elemento importante são as vigas duplas que sustentam o cobertura-jardim e servem também como iluminação artificial indireta para os ambientes.
Ao fundo, separado por um armário-estante que guarda as cópias dos mais de 400 projetos desenvolvidos pelo escritório, fica a sala do arquiteto. Entre muitos livros, mapas, desenhos, croquis, cadernos de anotações e todos os demais tipos de material de pesquisa que possam ser utilizados, trabalhava o mestre Broos.
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Arquitetos: Hans Broos
- Ano: 1978