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Arquitetos: Appleton & Domingos
- Ano: 2016
Descrição enviada pela equipe de projeto. Em março de 2014, quando as obras de reabilitação estavam quase terminando, a construção foi incendiada. Era um edifício residencial de classe média, do início do século XX, com alguns grandes apartamentos com mais de 330m² e pé-direto de 4 metros.
O interior original era feito em madeira com uma típica decoração do período na capital portuguesa: piso de pinos, paredes e tetos de estuque moldado e pintado, paredes de azulejos nas escadas, madeira de alta qualidade e vitrais art nouveau.
O incêndio destruiu quase tudo, exceto as fachadas e o térreo, que já havia sido reforçado com uma grossa laje de concreto que impediu o eventual incêndio de passar do estacionamento para os outros pavimentos. O pavimento de pedra da entrada principal, onde existia uma escada simétrica dupla, também sobreviveu ao fogo. A estrutura de aço dos terraços (ainda não montada no local) e as antigas portas e persianas de madeira foram preservadas, uma vez que foram armazenadas no exterior do edifício.
Como o reforço estrutural no piso térreo já havia sido feito na posição das antigas muralhas, isso resultou ser uma característica que deveria de ser utilizada nos novos compartimentos superiores. Dessa forma, a nova planta incorpora a antiga.
Como no edifício original, o projeto estabeleceu um apartamento por andar, usando o piso térreo para estacionamento. As plantas são semelhantes, exceto no pavimento superior, que por ser um sótão possui diferentes janelas exteriores e obtém uma sensação mais "alta". O 1º e 2º pavimento desfrutam de um jardim privado na fachada posterior enquanto os outros desfrutam de um terraço.
O novo projeto teve que ser muito pragmático, usando os materiais mais comuns e baratos disponíveis no mercado e reutilizando tudo o que fosse possível. Também foi decidido que todos os elementos sobreviventes deveriam ser mantidos tanto por causa de seu valor cultural, quanto pelo seu valor inerente.
As antigas portas que sobreviveram ao incêndio foram reutilizadas como revestimento para as paredes de entrada do edifício e o pavimento de pedra foi mantido como o memória no interior.
A estrutura de concreto, o sistema estrutural mais acessível disponível, foi a solução escolhida e foi decidido que deveria ser assumida na entrada principal, escadas, áreas sociais dos apartamentos e terraços da fachada posterior.
As escadas foram projetadas com uma parede de concreto periférica que contrasta com a textura macia e confortável dos degraus de madeira.
Dentro dos apartamentos, as salas de estar e jantar têm os seus tetos feitos em concreto fundido com uma textura diagonal de tabuleiro de madeira espelhando o design do piso.
Em um projeto mais simples, tábuas de madeira também são impressas no forro do terraço e hall de entrada.
As paredes no núcleo central dos apartamentos são revestidas com painéis de madeira coloridos com verniz branco que preserva a sua textura. As portas deslizantes de altura total articulam as salas de trabalho, de estar, da cozinha e de jantar.
Para os grandes terraços, as telhas de cimento em forma de diamante foram projetadas reinventando os antigos pavimentos do edifício. Nos banheiros e cozinhas, foi utilizada a atual "pedra bege" Lioz de Lisboa.
As imensas janelas art nouveau da fachada principal foram redesenhadas com uma estrutura de aço muito fina.
O objetivo principal do projeto era preservar o carácter luxuoso do antigo edifício de apartamentos, atualizando-o de forma contemporânea através do uso sensato e sóbrio da escala, do design e da materialidade.