- Área: 140 m²
- Ano: 2016
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Fotografias:Fernando Guerra | FG+SG
Descrição enviada pela equipe de projeto. Numa Rua de Alcântara, com uma magnífica vista para o Tejo e para o Palácio da Ajuda, o cliente comprou dois apartamentos T2, num velho edifício construído nos anos 70, com o objetivo de os transformar num único apartamento.
Na parte posterior, persistem memórias de grandes naves industriais, que caracterizam o bairro.
Estes apartamentos tinham a particularidade de partilhar a caixa de escadas e elevadores no centro do edifício, o que acentuava positivamente uma simetria absoluta, mas que por outro lado lhes conferia uma leitura de esquerdo e direito, cuja desconstrução, foi desde o início o tema de projeto.
Neste sentido, tentou desvirtuar-se esta percepção, utilizando os grandes espaços comuns, a cozinha e a sala, como os grandes eixos de comunicação transversal entre os dois polos, retirando-se as ligações através de corredores, mas mantendo-se dois halls de distribuição. A utilização do ripado de madeira nestes espaços pretende, por um lado qualificar estas transições e por outro ocultar as portas de entrada (inutilizando uma delas) e os quadros elétricos existentes.
A relação dos diferentes espaços com os vãos e a luz exterior é muito particular, tendo sido otimizada com a retirada das portas de entrada na sala.
Para reforçar a composição simétrica, evidenciou-se a estrutura pré-existente da divisão dos quartos, mesmo quando esta já não era necessária, como na sala, cuja divisória está indicada, configurando a zona de entrada e espaço de jantar.
Para a frente, a estreita mas extensa varanda acompanha toda a fachada, servindo a sala e a suite. Para o tardoz, a opção foi reocupar a área de marquise, e conferir-lhe um caráter habitável, ganhando área nos quartos.
A cozinha, também voltada para o tardoz, tira proveito do grande vão em toda a fachada. Construiu-se um pequeno muro, que esconde a zona de serviços e lavandaria, e configura o balcão, quase como um ilha, contendo uma mesa para refeições ligeiras.
Sempre que possível reutilizou-se os materiais existentes, como o pavimento em soalho, ou a pedra utilizada no balcão de cozinha. As portas e madeiras foram reparadas e pintadas. Procurou-se manter a sobriedade, através das cores claras, apenas com exceção do mobiliário escuro no topo do volume central, quer na cozinha, quer na sala.
Durante a obra, encontraram-se todas as surpresas, algumas previsíveis outras não tanto, referentes à estrutura, canalizações, eletricidade. O que parecia ser uma dificuldade revelou o grande caráter do apartamento. Em todos os espaços desenharam-se sancas, que permitiram regularizar todas as vigas visíveis e ao mesmo tempo retirar do chão as infraestruturas, tendo sido uma opção menos intrusiva e que permitiu reutilizar o soalho. Por vezes, como na sala ou nos quartos, esta sanca ganha espessura e transforma-se em espaço de arrumação.
O processo revelou-se interessante, por equilibrar as pré-existências, com uma concepção projetual que se adaptava continuamente à obra e ao caráter do apartamento.